por Virginia Sole-Smith
Um pacote inteiro de gotas de chocolate amargo foi devorado durante a elaboração deste artigo. Eu as escondo na geladeira. Às vezes, consigo comer apenas uma mão cheia. Mas aí há dias em que estou com prazos para cumprir, exausta ou simplesmente com vontade de comer chocolate – ou hoje, quando estou vivenciando todas essas coisas ao mesmo tempo. É nesses dias em que o pacote fica na minha mesa enquanto trabalho. No tempo que me levou para escrever essas últimas três frases, minha mão serpenteou três vezes.
Não é apenas o chocolate. No almoço, eu decidirei comer só algumas batatas fritas com meu sanduíche, e a próxima coisa que perceberei é que o pacote acabou. No verão, geralmente é sorvete, que meu marido gosta de comer. Como eu gosto de uma colherada ou duas – ou meio pote – eu digo a mim mesma que se é o sorvete de menta com gotas de chocolate dele, então não conta.
Não sou uma comedora compulsiva. Eu engulo essas comidas com prazer porque são muito ridiculamente boas. Assim que as vejo, não consigo pensar em nada que não seja comê-las. Daí, quero mais.
É fato que não consigo controlar minhas vontades: toda vez que ligar a TV, dirigir na estrada ou passar por uma máquina de doces, sou tentada por guloseimas doces, salgadas e gordas. “Você não é fraco por querer comer algo que está à sua frente”, diz Susan Roberts, professora de Nutrição e Psiquiatria da Universidade Tufts, em Medford, Massachusetts, e autora de The “I” Diet (A Dieta do “Eu”). “Nossos cérebros estão programados para dizer a nós para seguir em frente”.
Mas por que queremos essas comidas tão intensamente? Eu deixei os lanchinhos de lado por um tempo para procurar algumas respostas.
Como a comida e suas vontades afetam seu cérebro
Nosso desejo por guloseimas pode vir de nossos ancestrais mais antigos. “Quando a comida era escassa, tínhamos vontade dos nutrientes de que precisávamos para nos sustentar”, explica Nicole Avena, professora assistente de pesquisa no departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade da Flórida, em Gainesville. “Se você não tem certeza de que você terá uma próxima refeição, é inteligente comer alimentos altamente calóricos, porque seu corpo pode armazenar o combustível extra”. Como resultado, nossos cérebros agora reforçam e recompensam essa maneira de comer. Eles liberam químicos como endorfina, que nos faz sentir prazer, e dopamina, que nos motiva a continuar mastigando.
Mas ao contrário dos homens e das mulheres das cavernas, nós podemos ir ao supermercado e encontrar uma variedade incontável de chips e um corredor inteiro de doces. “Temos a maior onda de endorfina por conta das coisas mais deliciosas, como biscoitos e batata frita”, diz Ashley Gearhardt, uma pesquisadora de vício em comida no Centro Rudd de Controle de Comida e Obesidade da Universidade Yale.
As mulheres são especialmente vulneráveis às vontades. Em um estudo, cientistas fizeram tomografias para analisar a atividade cerebral das pessoas quando elas eram expostas à imagem, ao cheiro e ao gosto dos alimentos. As mulheres tinham mais dificuldade em conter suas vontades e também apresentavam um desejo inicial pelos alimentos maior. “Biologicamente falando, a comida é mais importante para as mulheres do que para os homens porque elas precisam comer por dois para poderem reproduzir”, diz Gene-Jack Wang, o autor líder da pesquisa e médico cientista do Laboratório Nacional Brookhaven, em Upton, Nova York. “Nós evoluímos para assegurar a sobrevivência fazendo essas vontades mais fortes nas mulheres, mas agora isso é uma desvantagem genética”.
Pesquisas mostram que 90% das mulheres podem vivenciar desejos incontroláveis por comida varias vezes ao mês, contra 50% dos homens. Nossos ciclos menstruais parecem afetar isso. Aproximadamente metade das mulheres que regularmente têm vontade de comer chocolate vão desejá-lo enlouquecidamente durante o período menstrual.
A química do desejo por comida
Mas aqui é que está o fato mais chocante: acontece que se render às tentações pode, na verdade, mudar seu cérebro, de acordo com as últimas pesquisas. Isso porque como a comida se tornou mais processada, as substâncias que mais amamos – açúcar, gordura e sal – foram mais potencialmente combinadas. “Açúcar e gordura não vêm naturalmente combinados”, aponta Ashley. Frutas contêm muito açúcar, mas não contêm gordura, enquanto um bife tem bastante gordura, mas pouco açúcar. “Contrariamente, os alimentos processados oferecem todos os três ingredientes mais cafeína e uma variedade de adoçantes e aromatizantes quimicamente elaborados. Isso amplifica a resposta do seu cérebro, levando à gula”.
Mas isso não é tudo, o açúcar, o sal e a gordura usados em alimentos processados são mais intensos que seus equivalentes naturais. Açúcar altamente refinado atinge a corrente sanguínea mais rapidamente que o açúcar de alimentos não refinados, o que resulta em um alto nível de endorfina que atua rapidamente mas é mais difícil de sustentar, fazendo-nos comer mais. Um exemplo: uma banana grande tem mais ou menos a mesma quantidade de açúcar – 17 gramas – que um doughnut de chocolate. “Você consegue facilmente comer vários doughnuts, mas nunca conseguiria comer várias bananas”, diz Ashley.
Alimentos naturais geralmente dão mais trabalho para comer. Morda uma cenoura e você vai ter que mastigá-la por um bom tempo até conseguir engoli-la. Mas esse não é o caso da maioria dos lanches empacotados. Alimentos processados se tornaram tão fáceis de comer que mal temos que mastigá-los para engolir. E pesquisas mostram que digerimos alimentos não saudáveis com mais rapidez porque eles contêm menos fibras e proteínas e bastante açúcar e gordura.
Experts dizem que a maioria de nós tem um “ponto de felicidade”, que é tipicamente descrito como o nível de açúcar, gordura ou sal que nos dá o máximo de prazer. Alimentos que contêm esse trio de ingredientes parecem estimular um ponto específico em nossos cérebros que maximiza a gratificação que conquistamos em cada mordida, fazendo-nos querer ainda mais. É possível que alimentos sejam tão viciantes quanto drogas e álcool.
Assim como uma noite bebendo lhe dá uma ressaca nojenta, alimentos processados em excesso que atingem seu ponto de felicidade podem criar em você um retrocesso de açúcar, gordura e sal. Isso pode criar um “efeito de uma segunda refeição”, deixando-nos mais famintos do que de costume. O corpo leva de dois a três dias para se esquecer dessa alta de açúcar. Se você comer um pedaço de bolo na segunda, esteja preparado para ter vontade de comer mais desse bolo até quinta.
Agora que você já sabe porque temos essas vontades que parecem incontroláveis, no próximo artigo vamos falar sobre como controlá-las!
Virginia Sole-Smith é escritora e vive em Nova York, EUA.

Alexandra Bellino é formada em educação física e trabalha como personal trainer em Seattle, EUA.
Parabéns! O artigo é muito interessante. Acabei de lê-lo, depois de uma recaída (estou a fazer dieta), mas não consegui resistir ao pacote de amêndoas de chocolate que comprei para oferecer ao meu afilhado, costume adoptado em Portugal na Páscoa. Regra geral, quando faço dieta, não compro qualquer destes produto “inimigos” da dieta, mas desta vez comprei,pois eram para o meu afilhado.
Trabalho muitas horas no computador, sendo que é à noite (mesmo após me ter portado super bem durante o dia) que estes ataques de fome acontecem. Sei que esta situação é recorrente nas senhoras. Reconheço ainda que o meu sistema nervoso está super alterado.
A sensação de frustração, alia-se à sensação de culpabilidade, que é imensa.