A doença da felicidade

Franciane Ulaf

Doenca da felicidade

Nossa sociedade é obcecada com a ideia de “felicidade”. Toda a mídia, as artes e a educação são permeadas com uma noção ilusória de que a felicidade está no futuro e você precisa obrigatoriamente alcançá-la para não ser socialmente considerado um fracassado na vida. O livro O sucesso é ser feliz, de Roberto Shiniashiki, por exemplo, vendeu centenas de milhares de cópias.

Você deve ser um sucesso na vida e quando você “chegar lá”, depois de ter atingido todos os seus objetivos, você será automaticamente feliz! Essa ideia é enfiada em nossas cabeças desde a fase primária em nosso período educacional. Se por ventura reclamamos que ir para a escola é chato, ouvimos que precisamos desse “mal necessário” para que, ao crescermos, possamos conseguir um bom emprego e sermos bem sucedidos, pois só assim seremos felizes. O cinema e a mídia atribuem a felicidade a coisas que podemos conquistar e conseguir, sejam materiais ou sociais.

Por vezes, a felicidade é atribuída ao “grande amor”, em outras é a família que é responsável pelo “sucesso” e, descambando para o absurdo, temos a tão popular fama, buscada desenfreadamente por incautos que se expõem em shows de reality TV como Big Brother ou American Idol. A ideia constante é de que a felicidade está “fora” e que algo precisa acontecer em sua vida para que você seja feliz.

Apesar de todo o clichê de que a felicidade verdadeira está dentro de nós, a realidade nos mostra que as pessoas simplesmente não entendem isso. Dizer que sabe, que já ouviu essa frase antes é uma coisa, realmente entender o sentido dela é outra! O que o povo faz é papagaiar essa frase da boca pra fora e continuar fazendo as mesmas coisas, esperando obter felicidade no futuro vinda de fontes externas.

Expectativas emocionais – onde mora todo o problema!

Mas por que as pessoas fazem isso? Por que sabemos que a felicidade está dentro, mas em nosso dia-a-dia continuamos a buscar felicidade fora? Primeiro, o óbvio! Quem não é feliz por dentro naturalmente começa a olhar para os lados e buscá-la por fora. O não tão óbvio é justamente o fato de estarmos tão inseridos dentro de um mar social que acredita que a felicidade está nas coisas, nas pessoas, nas conquistas, no futuro, que nem sequer desconfiamos de que não é bem assim!

Mas qual o problema? Por que não podemos “encontrar” a felicidade nas conquistas, nas pessoas ou no futuro? O problema principal é que as expectativas emocionais corrompem a realidade. A pessoa que não é feliz por dentro e busca a felicidade por fora possui um rombo emocional dentro de si incapaz de ser preenchido por qualquer coisa externa.

É o caso daquela mulher que sonha tanto com o príncipe encantado, o homem perfeito que ela construiu em sua cabeça, que nenhum homem “de verdade” jamais será capaz de preencher a expectativa emocional que ela criou. Ela se apaixona, se entusiasma, acha que encontrou o homem de seus sonhos, dali a pouco, quando ela começa a ver a realidade, a ver o homem de verdade, ela se desinteressa. Ela não quer homem de verdade, ela quer um homem de sonhos, do tipo que não existe! A realidade nunca consegue se equiparar à fantasia das necessidades emocionais.

A pessoa que vive atrás de coisas no futuro esperando que essas coisas a façam feliz só encontra decepção. Não é por aí. Esqueça o que você vê na mídia, esqueça os filmes de Hollywood com seus improváveis “felizes para sempre” e comece a olhar para dentro de si.

É justamente nesse ponto que a maioria pára. Olhar para dentro de si (de verdade) é uma das coisas mais difíceis que podemos fazer. Os rombos emocionais que geram essas expectativas irreais e esse desejo de ser feliz “no futuro” são coisas feias e dolorosas que não queremos ver.

Não queremos saber o que gera essas necessidades emocionais, só queremos que elas sejam supridas para não sentirmos mais a dor que ela nos causa. Essa postura é o que faz com que muita gente se volte para fora e comece a buscar nas coisas, nas outras pessoas, nos acontecimentos e nas conquistas o que falta dentro de si.

Planejar com essa postura é dar um tiro no pé. Não dá certo e, no final das contas, só machuca! A pessoa que planeja justamente conseguir todas essas coisas que ela quer por necessidade emocional está tentando preencher um buraco negro. À medida que ela vai conseguindo, ela vai querendo mais e mais e mais. Ela desiste de algumas coisas, fica frustrada com o resultado de outras e assim ela segue, com um grande vazio interior achando que na próxima esquina ela vai encontrar a solução para todos os seus males e, como no cinema, será “feliz para sempre”.

Qual a solução, então? A solução é tapar esses buracos emocionais primeiro para depois definir metas e planejar, baseando as metas em sentido, não em expectativa.

De uma forma bem resumida, o melhor planejador é o planejador feliz, é aquela pessoa que não precisa mais buscar felicidade no futuro, ela já é feliz no presente e suas metas refletem o que ela deseja fazer por sentido, não por necessidade emocional.

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4 comentários em “A doença da felicidade”

  1. Parece “papo de maluco-beleza” este de que a mídia injeta estas idéias e paradigmas na nossa mente à medida que estamos vivendo… Mas é só observar, que é a mais pura verdade.

    Grato pelo aprendizado!

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