Como não se arrepender de uma decisão?

Franciane Ulaf

Como não se arrepender de uma decisão

Para finalizar a nossa série de artigos sobre tomada de decisão, vamos falar hoje sobre as condições que podem nos levar ao arrependimento depois de fazer uma escolha. Não se esqueça de votar na enquete sobre esse assunto ao lado!

Se você não leu os artigos anteriores, aqui estão os links (abrem em outra aba):

1. O que mais atrapalha a tomada de decisão?

2. Como tomar a decisão certa?

Nós sempre estamos vulneráveis ao arrependimento. Até certo ponto, nós não temos como prevenir completamente esse efeito emocional, afinal de contas, não somos oniscientes, não somos perfeitos. Dito isso, nós podemos sim nos tornarmos mais atentos aos fatores que podem eventualmente conduzir a uma decisão mal tomada e como consequência, levar ao arrependimento mais tarde.

1. Impulsividade

O fator mais óbvio que pode conduzir ao arrependimento é a bendita impulsividade! Tomar decisões de supetão, baseadas na emoção da hora, frequentemente provocam sensações de culpa e aversão mais tarde.

Todo mundo sabe que a impulsividade é perigosa, mas vivemos em um mundo em que, apesar disso, a impulsividade é estimulada. A crença de que devemos viver a vida adoidado, curtir o momento, sermos “loucos” pode parecer apetitosa à primeira vista, mas na realidade, não resulta em uma vida bem vivida. Pelo contrário, a filosofia “do coração pra fora” é bem enganosa. Uma pessoa pode muito bem ser afetiva, engajada, atenta e envolvida com o momento sem precisar meter os pés pelas mãos numa tentativa patética de aproveitar a vida. No final das contas, ela pouco aproveita realmente, além de uns poucos momentos de “grandes emoções”. O “resto” da vida acaba sendo uma bagunça desorganizada de decisões mal tomadas, omissões, desencontros e frustrações.

2. Se basear em eventos atípicos

Essa tendência adiciona ao que discutimos nos artigos anteriores, precisamos ter cuidado com hábitos de raciocínio não produtivos. Os pesquisadores da Universidade de Harvard, Daniel Gilbert e Timothy Wilson, que também são famosos autores de livros nessa área, conduziram um estudo de mais de 1 década sobre tomada de decisão. Eles verificaram que pessoas que tomam decisões das quais se arrependem depois frequentemente baseiam suas escolhas em “evidências” tiradas de eventos atípicos. Por exemplo, uma vez na vida você teve uma experiência muito frustrante com um vendedor de carros em uma concessionária da Volkswagen e você jurou que nunca mais compraria carros dessa montadora na vida. A experiência obviamente foi atípica e a postura do vendedor não tem qualquer relação com a qualidade dos carros dessa marca. Isso é óbvio, mas as pessoas não pensam assim! Elas tiram do fundo do baú essas experienciazinhas que ocorrem uma única vez na vida e restringem seu rol de opções para o futuro. Da mesma forma, elas superestimam experiências positivas e assumem que toda vez será igual, tendendo a fazer escolhas que reproduzam o mesmo efeito emocional que elas tiveram no passado.

Se uma tentativa de fazer algo no passado não deu certo ou se uma experiência foi negativa, isso não significa que ocorrerá novamente da mesma forma. O mesmo é válido para eventos percebidos como positivos. Tomar decisões com base em emoções, negativas ou positivas, com frequência leva à frustração pois a probabilidade de que o futuro repita o passado é mínima.

Minha dica: jamais se baseie em como você se sentiu com relação a uma experiência, boa ou ruim. O futuro não imita o passado. Ao tomar uma decisão, esqueça suas emoções e pense com racionalidade, analisando os fatos fria e calculadamente. Ironicamente, isso revela “inteligência emocional”, ao passo que a pessoa emotiva que reage impulsivamente e toma decisões com base em percepções e sentimentos, ao contrário do que o público leigo pensa, não tem um nível alto de inteligência emocional. Pelo contrário, seu comportamento emotivo revela na realidade dificuldades para lidar com as próprias emoções. Quando o futuro não ocorre como a experiência que ela teve no passado, ela acha estranho, “ué, mas não foi assim antes!” Isso é comportamento puramente supersticioso! Não há lógica alguma em acreditar que se uma coisa não deu certo pra você no passado, ou algo foi ruim e desconfortável, você terá a mesma percepção se repetir a experiência. Isso inclusive é dos segredos de pessoas bem sucedidas. Elas estão dispostas a “tentar de novo” após uma experiência negativa, ao invés de assumir que se “foi ruim” é porque “não é bom” e não vai dar certo.

3. Ilusão de padrões

Muitas pessoas são supersticiosas e tomam decisões baseadas no que elas acreditam ser um “sinal” de que as coisas vão dar certo ou não. Já falamos um pouco sobre isso no primeiro artigo, quando abordamos a ilusão da sincronicidade. A ilusão dos padrões é similar. Atenção seletiva faz com que as pessoas só prestem atenção no que é relacionado ao que elas estão pensando com mais frequência naquela fase da vida. Esse efeito faz com que elas tenham a impressão de que estão notando “padrões” onde na realidade não existe nada.

Uma pessoa que está sempre buscando novas ideias de negócios pode sofrer seriamente desse mecanismo mental. Quando ela tem uma nova ideia, ela começa a prestar mais atenção no mundo ao redor dela buscando pistas e evidências que corroborem com o que ela está pensando. Por exemplo, se ela tem a ideia de abrir uma confeitaria, de repente ela começa a ver confeitarias em tudo quando é lugar, inclusive em locais onde anteriormente ela já havia estado, mas nunca tinha notado que ali havia uma. Ela passa a ter impressão que “todo mundo agora está abrindo confeitarias” porque elas estão por toda parte. Ela conclui então que “essa área deve estar bombando, pois estão abrindo novos lugares o tempo todo”. Isso é uma ilusão, a maioria das “novas” confeitarias que ela “de repente” viu não são novas e estavam ali há anos, décadas. Ela é que não tinha notado antes!

É preciso prestar muita atenção e refletir sobre os fatos, verificando-os detalhadamente, para não cair na armadilha de acreditar que as coisas agora estão tomando um rumo diferente ou que estão acontecendo de uma nova forma só porque você está mais “tunado naquele canal” e sua atenção faz com que aquela ideia, pessoa, aspecto ou o que quer que seja, se torne mais presente em sua vida do que anteriormente.

Somando-se aos outros 6 fatores que já discutimos nas semanas anteriores, esses 9 fatores realmente nos ajudam a tomar melhores decisões e evitam o arrependimento posterior. Precisamos, contudo, nos manter atentos a essas armadilhas, pois a maioria delas ocorre sorrateiramente por trás de nossas linhas de raciocínio conscientes. O ideal é nunca tomar decisões na hora – se possível e além de “dormir em cima do assunto” pelo menos por uma noite, sempre escrever sobre a decisão a ser tomada, as alternativas disponíveis e o que você pensa sobre o assunto. Escrever nos força a reformular nosso pensamento e encontrar respostas para questões que nós jogamos para escanteio quando pensamos no assunto. É claro, você escreverá para você mesmo, seja em papel ou no computador, então não importa se você “não escreve bem” ou tem dificuldade para colocar as coisas no papel. O importante é registrar sua forma de pensar no momento, suas percepções e ideias. É incrível como mudamos rápido. Se você fizer isso com cada decisão mais séria que precise tomar, se assustará com as mudanças de perspectiva que ocorrem ao longo do tempo. Quando você se dá conta de que corre o risco de mudar de ideia, você se torna mais cauteloso ao pensar sobre suas escolhas!

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