Como resolver problemas e tomar decisões… sozinho

Franciane Ulaf

“Raros são aqueles que decidem após madura reflexão; os outros andam ao sabor das ondas e longe de se conduzirem deixam-se levar pelos primeiros.” – Sêneca, filósofo Romano

Um das questões que mais insisto com meus leitores é a conquista de um senso de independência mental que nos leva a sermos capazes de solucionar problemas e tomar decisões sem a sensação de que precisamos da ajuda de alguém.

É claro que ajuda alheia, em certas situações, é indispensável. Ninguém pode fazer tudo sozinho. O ponto que quero reforçar, contudo, é que naquelas situações que precisamos tomar decisões sobre a nossa própria vida, ou solucionar problemas que nos dizem respeito, a independência mental nos economiza tempo e dor de cabeça, além de fortalecer a autoestima.

Na minha área de atuação, essa problemática fica muito evidente, pois quem me procura geralmente quer algum tipo de aconselhamento. Na maioria das vezes, entretanto, a intenção é obter um direcionamento claro e direto do tipo “nessa situação, faça isso”, o que ela quer ouvir é:“tome a decisão X”. Em muitos casos a pessoa me pergunta diretamente “que decisão eu devo tomar”, “o que devo fazer”, “que caminho eu devo tomar”, ou “como solucionar esse problema em minha vida”. Nenhum consultor, coach, psicólogo ou profissional que lide com as pessoas deve jamais dar exatamente o que essas pessoas pedem.

Muitas pessoas partem do princípio de que elas não são capazes de tomar decisões sérias sobre a própria vida ou são incompetentes para escolher o caminho ideal; ao mesmo tempo, pensam que profissionais que lidam com o desenvolvimento pessoal ou saúde psicológica sabem exatamente o que os outros devem fazer. Muita gente acredita que exista uma “coisa certa” a se fazer, um caminho certeiro para o sucesso ou para a solução de cada problema. Elas não sabem, mas pessoas “como eu” certamente sabem… Isso naturalmente é uma bela ilusão!

Eu mal sei da minha própria vida e meus colegas não são muito melhores nesse sentido. E o mais importante, eu não sei da vida de ninguém! Nem da sua, nem dos outros leitores deste site, nem das pessoas que conversam pessoalmente comigo. O que eu aprendi, todavia, foi a tomar decisões sobre a minha própria vida com o máximo de segurança que eu posso ter no momento e o mais importante: sem consultar ninguém (ou apenas consultando os envolvidos na decisão quando for o caso).

Não é preciso nenhum conhecimento especial para fazer isso, muito menos uma formação específica. O que é preciso é clareza de pensamento, capacidade de autorreflexão e autoconfiança. Nem toda decisão tomada será acertada, mas a responsabilidade deve ser sua e de mais ninguém. É a sua vida? Diz respeito e você e só você? Então não peça conselhos para ninguém. Há alguns meses eu escrevi justamente sobre isso neste artigo.

Ao pedir ajuda, seja um conselho ou um direcionamento, o senso de responsabilidade passa a ser dividido. A culpa agora não é mais só sua, é do outro também, pois foi ele quem lhe disse para fazer X ou Y. É claro que no fundo a culpa é só sua, quem mandou fazer o que o outro disse? O problema todo está na perspectiva do comprometimento. Ao seguir o conselho de outrem, por mais que da boca pra fora você afirme que a responsabilidade é sua, você sabe e lembra muito bem quem foi que lhe disse para tomar tal decisão e no final das contas você, mesmo que inconsciente, culpa o outro se algo der errado.

Para se livrar dessa necessidade de perguntar ao outro o que fazer, você precisa desenvolver essa trinca: clareza de pensamento, capacidade de autorreflexão e autoconfiança.

Clareza de pensamento se desenvolve colocando todos os pingos nos “i’s”, deixando todos os aspectos da situação muito claros para você. Uma técnica é simplesmente colocar tudo no papel (ou no computador), registrando, mesmo que desordenadamente, tudo o que a situação envolve. Muitas decisões são erroneamente tomadas em cima de informações incompletas. Se você não consegue enxergar o problema com clareza, vendo todos os aspectos, todos os ângulos, muita coisa fica no ponto cego ou escondida debaixo do tapete.

Quando a situação está toda esclarecida é hora de refletir em cima dos pontos levantados. Essa é uma etapa que a grande maioria das pessoas falha, pois exige pensar, pensar muito e com lógica, o que no mundo de hoje, poucos fazem! Ajuda muito esse processo de autorreflexão, manter listas de prioridades e valores, que devem ser um passo já feito no seu processo de autoconhecimento. Decisões são sempre tomadas em cima dessas listas, mas na maioria das vezes, elas não estão claras e permanecem guardadas no inconsciente. No final das contas, não importa o que outra pessoa faria no seu lugar, por isso é que pedir conselhos é inútil. Outras pessoas possuem listas diferentes de prioridades e valores e tomarão decisões com base nelas. Uma outra pessoa pode acertar muito bem tomando uma decisão completamente diferente do que o que seria ideal para você. A mesma decisão no seu caso poderia ter o efeito oposto.

Um passo mais adiante que foge um pouco do processo de tomada de decisão, mas é parte de um aprofundamento no autoconhecimento é refletir em cima dessas duas listas. Muitas vezes, nossas prioridades e nossos valores são justamente o que está nos jogando no buraco e nós insistimos em valorizar as coisas erradas teimosamente. Se paramos para refletir sobre isso, temos a oportunidade de fazer alterações significativas nessas listas.

Por último, mas não menos importante, é desenvolver o senso de autoconfiança para tomar decisões. Essa característica está muito ligada à própria responsabilidade pessoal. Quem gosta de colocar a culpa nos outros sente necessidade de pedir conselho, pois se algo der errado, ela se isenta da responsabilidade – pelo menos dentro da própria cabeça! A autoconfiança se constrói em cima da autorreflexão, pois é nessa etapa que a pessoa faz um levantamento e pensa sobre os motivos da decisão, pesa-os e conclui que o melhor para si é decidir X.

A autoconfiança pode ser severamente afetada pela aversão ao risco, pois cada decisão envolve um pulo no escuro. Esse é outro ponto que pode precisar ser trabalhado em alguns casos, mas é tema para outro artigo.

O essencial a ser compreendido é que não existe uma única decisão certa para todo tipo de problema e que ninguém sabe o que cada um deve fazer da própria vida. Por esse motivo, pedir conselho para alguém para quem você atribui autoridade e conhecimento é inútil. Essa pessoa pode saber muito bem o que ela deve fazer da vida dela, mas não sabe nada da sua!

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4 comentários em “Como resolver problemas e tomar decisões… sozinho”

  1. Olha, adorei esse artigo, principalmente porque esse é um ponto de vista dificil da gente ver porque as pessoas que escrevem artigos e livros geralmente são as que “cobram” para dar conselho e não querem que seus “clientes” se tornem independentes e aprendam a pensar por si próprios!

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