A cultura da culpa: Como a busca por um culpado (ou o sentimento de culpa) pode minar o seu sucesso

Franciane Ulaf

Dentre as maiores ameaças “mentais” para uma personalidade excelente e a construção de uma vida de sucessos está a culpa. A culpa está tão enraizada em nossa sociedade que pouco percebemos como essa “cultura da culpa” nos afeta negativamente, tanto de um lado quanto do outro: quando os outros são culpados e quando nós mesmos somos culpados.

Mais uma idiotice cultural, a valorização da culpa se forma como um hábito e se torna uma regra para justificar falhas, dificuldades e erros pessoais.

“Ser gordo está em minha genética, eu não consigo emagrecer.”, diz o obeso que não faz esforço algum para emagrecer, pois “já que” a culpa não é dele, mas, sim, da genética, não há nada que ele possa fazer a não ser aceitar seu destino cruel – e nesse meio tempo se esbaldar de comer e não fazer exercícios, pois já que a culpa é da genética, não adianta se esforçar mesmo… Essa mentalidade o impede de tomar atitudes para superar a obesidade, além de correr a própria autoestima.

Desde crianças somos condicionados a só termos responsabilidade sobre algo se a culpa for nossa e, nesse caso, devemos nos envergonhar do erro e nos redimirmos.

Essa mentalidade cultural instiga dois pontos muito perigosos em nosso comportamento. O primeiro é: “Se a culpa não é minha, eu não tenho nenhuma obrigação de consertar”. O outro é: “Se a culpa é minha eu devo me martirizar, dramatizar e fazer cara de culpado, pois fiz algo que não devia”. Em nenhuma das situações a pessoa toma atitudes proativas para superar o problema e seguir em frente. Ela fica angariando raiva contra o culpado ou choramingando e odiando a si mesma por ter cometido o erro.

Um ponto complicado que representa um grande gargalo no caminho da excelência é o termo “dificuldade” e como ele é usado para mascarar outros problemas como pusilanimidade e medos em geral. A pessoa diz que tem dificuldade com tal coisa e ao informar aos outros esse fato é como se ela estivesse dizendo: “Eu tenho dificuldade, portanto, não espere muito de mim nesse assunto”. A pessoa se esconde por trás da própria dificuldade e considera a desculpa plausível o suficiente para que ela não precise se esforçar para superar o que quer que seja, pois a lógica em sua cabeça é que se ela tem dificuldade, ela não vai conseguir superar nada.

Essa lógica tola vem dos tempos escolares em que, como aluno, a pessoa tinha o hábito de justificar seu baixo desempenho com a famosa frase “Eu tenho dificuldade com essa matéria”. A palavra “dificuldade” era usada como um escudo contra acusações de que o aluno não estudou, foi preguiçoso ou não se esforçou o suficiente, pois a lógica era de que se o aluno tinha dificuldade, não adiantava se esforçar ou estudar mais, pois a dificuldade era mais forte do que qualquer esforço. A dificuldade se tornava a desculpa magna, até mesmo para pais que não querendo admitir que seus filhos eram relapsos e não estavam estudando direito, sentiam que era mais fácil admitir que a criança tinha “dificuldade”. Esse é mais um hábito que é criado na escola e levado para a vida adulta marcando um obstáculo muito grande contra a excelência. A culpa passa a ser da indefinível “dificuldade” e a pessoa lava as mãos, pois se a culpa não é dela…

Por outro lado, quando a pessoa se encontra num beco sem saída e precisa admitir a culpa, ao invés de lidar proativamente com o fato, passar por cima do ocorrido e tomar as providências para consertar o erro ou dar a volta por cima, a pessoa faz drama, fica deprimida, frustrada, pois agora o vilão da história, o culpado, é ela mesma e ela não consegue arranjar uma desculpa para se esconder atrás.

A cultura da culpa é uma conseqüência da forma como crescemos lidando com esse assunto. Aprendemos desde cedo que o culpado é como um vilão e, portanto, “deve ser punido”. Quando a punição não é possível, o culpado serve como desculpa (como a genética, sendo culpada por problemas físicos e mentais e funcionando como justificativa para não se esforçar para superar a influência do DNA). Esse padrão se repete com doenças mentais e distúrbios como bipolaridade e depressão. A pessoa se vê como uma vítima do culpado “desequilíbrio químico” e, então, “pobrezinha”, não é capaz de fazer nada para superar o problema, pois a culpa não é dela.

O mesmo mecanismo é usado para com traumas do passado, criação, situação econômica, governo, oportunidades ou a falta delas, sorte ou má sorte e tudo o mais que leva a culpa pela situação, erros e problemas da pessoa e como a culpa não é dela, ela não se sente compelida a solucionar ou mesmo tomar qualquer atitude para dar a volta por cima, pois supostamente é responsabilidade do “culpado” corrigir o problema ou quando a culpa é de algo irreversível, basta apenas sentar e chorar.

É desnecessário dizer que essa postura é uma idiotice já que exemplos de pessoas que sofreram as mais terríveis injustiças ou começaram de uma posição nem um pouco privilegiada e deram a volta por cima não faltam. De esportistas a empresários, passando por pessoas com deficências físicas e mentais, quem quer, acontece. No entanto, é primordial superar a tendência de cair na armadilha da culpa, tanto ao se sentir culpado quanto ao culpar os outros ou as circunstâncias. O X da questão é simplesmente esquecer de quem é a culpa e seguir em frente fazendo o que tem que ser feito para vencer.

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2 comentários em “A cultura da culpa: Como a busca por um culpado (ou o sentimento de culpa) pode minar o seu sucesso”

  1. Quanto mais estudo o espiritismo, mais tenho a certeza da grandiosidade que é essa doutrina.
    Eu procurava artigos que falasse sobre o porquê as pessoas tem tanta dificuldade em assumir que comete erros. Por quê não assumimos que somos seres em evolução, portanto, não perfeito? E que os erros deveriam ser usados para o auto conhecimento.
    Buscando isso, encontrei esse artigo e me identifiquei. Era o que eu estava precisando para melhorar o meu estudo sobre o pecado e a punição. Obrigada.

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