O caminho comprovado para fazer um trabalho autêntico e significativo

James Clear

James Clear Caminho Autêntico

Em junho de 2004, o renomado fotógrafo Arno Rafael Minkkinen deu um discurso na formatura da Escola de Fotografia de New England, em Boston. Minkkinen compartilhou uma simples teoria que, em sua opinião, faz toda a diferença entre sucesso e fracasso. Ele a chamou de “Teoria da estação de ônibus de Helsinki”.

A teoria da estação de ônibus de Helsinki

Minkkinen nasceu em Helsinki, capital da Finlândia. Ele conta que no centro da cidade há uma grande estação de ônibus e começou seu discurso descrevendo-a aos alunos.

“Umas duas dúzias de plataformas estão distribuídas em um quadrado no coração da cidade”, ele disse. No começo de cada plataforma há uma sinalização com o número dos ônibus que partem daquela plataforma. Todos os ônibus fazem a mesma rota por mais ou menos 1 Km, parando em pontos regulares, até chegarem nos limites da cidade.

Ele continuou: “Agora, vamos dizer metaforicamente que cada parada dos ônibus representa um ano na vida do fotógrafo. Ou seja, terceira parada depois da estação representaria três anos de atividade do fotógrafo. Ok então. Você tem trabalhado há três anos com uma técnica de fotografias de nudez. Vamos chamar essa rota de ônibus #21.”

“Você leva esses três anos de trabalho ao museu de artes plásticas e o curador pergunta se você tem familiaridade com o trabalho de Irving Penn, um fotógrafo que também fotografa nudez. O ônibus dele, o 71, estava na mesma rota que a sua. Aí você leva seus nus a uma galeria em Paris e é lembrado de dar uma olhada no trabalho de Bill Brandt, ônibus 58, e assim por diante. Chocado, você se dá conta de que tudo o que fez nos últimos três anos já foi feito antes. Você não fez nada original.”

“Então você decide sair do ônibus, pegar um taxi – porque a vida é curta – e voltar à estação para que possa pegar um outro ônibus e quem sabe fazer algo que não se pareça com o trabalho de outrem.”

“Desta vez”, ele diz, você vai fazer retratos de pessoas deitadas na praia. Você gasta mais três anos nisso e produz uma série de trabalhos que resultam nos mesmos comentários. Você não viu o trabalho de Richard Misrach?”

“Novamente, você sai do ônibus, pega um taxi e volta pra estação. Você repete o mesmo processo por toda a sua vida profissional, sempre tentando achar algo original pra fazer, só pra descobrir que alguém já teve a sua grande ideia. Tudo o que você consegue é ser comparado com outros.”

Fique no ônibus

Minkkinen pausou. Ele olhou para os estudantes e perguntou: “o que fazer?”

“É simples”, ele disse. “Fique no ônibus. Fique no ônibus! Porque se você o fizer, com o tempo, você verá a diferença.”

“Os ônibus que saem da estação de Helsinki fazem todos a mesma rota, mas só por um tempo, talvez um ou dois quilômetros. Então eles começam a se separar, cada número seguindo para um destino único.”

“É a separação que faz toda diferença,” Minkkinen disse. “E uma vez que você comece a ver a diferença entre o seu trabalho e o trabalho daqueles que admira, é hora de procurar o seu ponto de inovação. De repente o seu trabalho começa a ser notado. Sua visão individual deslancha. Os críticos passam a notar não somente seu trabalho atual, mas aquele trabalho que você fez lá no começo quando todo mundo te comparava com os outros.”

“Se você chegar no final da linha, que pode ser o final da sua carreira, ou mesmo o final da sua vida, você terá chegado em um ponto em que poucos chegaram – pois muitos saem continuamente dos ônibus em que entram tentando sempre achar um que esteja vazio, mas isso raramente acontece.”

A consistência leva ao sucesso?

Eu frequentemente escrevo sobre como o domínio de uma área requer consistência. Se você muda muito de ideia, sempre tentando acertar no veio de uma grande oportunidade, você está na realidade desperdiçando a oportunidade de construir uma carreira sólida. A expectativa de que você tem que ser original e ter uma ideia que nunca ninguém teve pra começar é irreal. Em qualquer profissão, mas principalmente as carreiras criativas, você sempre será comparado aos outros no começo. Seu trabalho dificilmente vai ser visto como original se você ainda não fez seu nome (mesmo que realmente seja original!). Se você não sair do ônibus e continuar trabalhando diligentemente você vai construir bases firmes nas quais a sua carreira poderá se suportar no futuro. Se, pelo contrário, você está sempre tentando oportunidades novas, você está sempre voltando para a estação, começando do zero, com o passar dos anos você não constrói nada, não acumula nada.

Também quero frisar que simplesmente “fazer trabalho”, que é o que fazemos quando estamos ocupados dando conta do recado, não leva à construção de nada parecido com uma carreira sólida. Ouvimos bastante da teoria das 10.000 horas. O famoso psicólogo Anders Ericsson lançou o conceito de 10.000 horas de prática para atingir maestria em qualquer coisa. Mas se observarmos a realidade, só fazer algo por 10.000 horas não leva à maestria. Quando estudantes chegam na faculdade, por exemplo, eles já acumularam mais de 10.000 horas de vida escolar, fazendo trabalhos, prestando atenção no professor, se preparando para testes. Você pensaria que depois de tanto tempo refinando a vida escolar, um aluno chegaria na faculdade expert em memorizar dados, aprender, fazer testes e trabalhos, certo? Mas não! Para a maioria dos estudantes 50.000 horas não seriam o suficiente para conquistarem a maestria em nada que diz respeito ao estudo.

Para dominar uma área temos que trabalhar não só continuamente, mas estrategicamente. Temos que saber o que estamos fazendo e por quê. Temos que aprender de forma consciente, entendendo o processo e fazendo reajustes quando são necessários.

Voltando à metáfora dos ônibus de Helsinki, os fotógrafos que saem dos ônibus e voltam pra estação continuam fazendo trabalho. Eles pegam outro ônibus e mais outro e mais outro e durante todo esse tempo eles estão produzindo. Só que é um trabalho sem estratégia e sem consistência. São tentativas desesperadas de serem relevantes, de serem vistos como únicos, como originais, mas sem pagar o preço de desenvolver a maestria. Em algum ponto eles completam 10.000 horas de trabalho, porém sem atingir qualquer nível de maestria. Maestria requer que você trabalhe nas mesmas coisas, cada vez refinando mais a sua arte ou a sua perspectiva até que você chegue em um nível de expertise que é reconhecido pelos outros. É nesse ponto que você é visto como autêntico, como original, que você é valorizado como alguém que realmente sabe o que está fazendo.

Em qualquer rota que você escolher, qualquer ônibus que decidir entrar você vai encontrar desafios, vai se deparar com pessoas que não valorizam seu trabalho, que fazem questão de compará-lo com outros e frisar que você não é original, ou tão eficaz quanto o fulano de tal. Isso faz parte. Não tente evitar os espinhos do caminho. Não tente encontrar um caminho sem espinhos. Não espere encontrar um caminho com um atalho para o topo – até mesmo aqueles que aparentemente encontraram um atalho na realidade trabalharam duro para chegar aonde chegaram.

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