A ilusão da perfeição: como o perfeccionismo destrói a autoestima e retarda o sucesso

Franciane Ulaf

Ilusão da Perfeição e Perfeccionismo

O PERFECCIONISMO NÃO É UMA QUALIDADE!

Com que frequência você se autossabota em nome de uma busca incansável pela perfeição?

Ainda não! Estou me preparando! Preciso aprender mais! Não está do jeito que eu quero…

Essas são algumas das frases que jogamos para justificar nossa hesitação, dar explicações sobre os motivos de ainda não termos feito ou concluído algo que começamos.

A intenção é sempre a mesma: causar uma boa impressão, fazer tudo “certinho”, “pra ninguém reclamar”, evitar críticas…

Será que você é perfeccionista?

TESTE DE PERFECCIONISMO

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ATENÇÃO:
Este é um artigo bem longo, com uma cobertura completa sobre o tópico do perfeccionismo. Recomendo que você adicione-o aos seus favoritos para que possa retornar aqui ou para usá-lo como referência futura.

Este artigo é frequentemente atualizado. Data da última atualização: 02/04/2024.

O QUE É PERFECCIONISMO?

O perfeccionismo manifesta-se como uma forma de ansiedade, marcada por insegurança e pelo temor de que, ao não ser visto como absolutamente perfeito, o próprio valor seja colocado em dúvida.

Comumente visto como uma virtude, o perfeccionismo está, de fato, ligado ao receio de cometer falhas e enfrentar julgamentos negativos por parte de terceiros. Essa postura leva o indivíduo a agir com extrema cautela, prestando atenção minuciosa em cada detalhe que possa ser objeto de observação, avaliação e crítica alheia. Tal excesso de zelo resulta frequentemente em ansiedade e estresse.

A Coragem de Ser Imperfeito
Um ótimo livro para aprender a se sentir confortável com a imperfeição

O indivíduo perfeccionista tende a enxergar o mundo através da dicotomia perfeição-negligência, acreditando que ou se é perfeito em todas as atividades realizadas ou se é completamente negligente e indiferente.

Raramente o perfeccionista admite que sua maior inquietação reside na percepção dos outros (o que pensarão ou dirão sobre ele), evitando confrontar o temor subconsciente de ter suas imperfeições expostas. Ele frequentemente se percebe de maneira superior e receia ser considerado uma “pessoa comum”.

Lamentavelmente, o perfeccionismo é muitas vezes visto como uma virtude, não um problema, levando as pessoas a estabelecerem expectativas irrealistas para seus projetos e atividades. Isso se manifesta em preparações que nunca evoluem para a ação, no parceiro ideal que nunca é encontrado, na solução descoberta quando já não é mais necessária e em projetos que consomem muito mais tempo e recursos do que o previsto. Muitas pessoas se orgulham ao se identificarem como perfeccionistas, quase como se dissessem:

“Observem quão atenciosa, meticulosa e detalhista eu sou, sempre buscando a perfeição!”

Contudo, a valorização do perfeccionismo acaba se tornando um peso para o indivíduo, cujo comportamento obsessivo impede a obtenção de resultados desejáveis no tempo e forma esperados.

No âmbito pessoal, perdem-se excelentes oportunidades, surgem problemas nos relacionamentos familiares e pessoais, e conquistas significativas ficam fora de alcance, pois a ousadia, liberdade, iniciativa e simplicidade — comportamentos vinculados ao sucesso — são incompatíveis com o perfeccionismo.

COMO O PERFECCIONISMO DIMINUI A AUTOESTIMA?

Não é preciso muito esforço para perceber as origens deste comportamento: insegurança e orgulho.

A coragem de ser você mesmo
"Amar a si mesmo" é um cliché. A verdadeira autoestima é ter coragem de ser você mesmo.

O lado mais sombrio da baixa autoestima manifesta-se através do perfeccionismo. Este é o abismo que devora toda satisfação, excelência e valor pessoal. A pessoa não consegue valorizar-se porque mantém padrões altíssimos que jamais poderá alcançar.

Essa insegurança tem suas raízes no orgulho, que por sua vez reforça a ideia de que os outros devem enxergá-lo como uma criatura magna, imensamente superior a qualquer falha ou imperfeição. Em outras palavras, o perfeccionista não gosta da ideia de ser visto como um “réles mortal”, ele deseja ser visto como pessoa especial e diferenciada.

Pessoas assim enfrentam grande dificuldade em aceitar críticas. Qualquer feedback sobre seu desempenho ou resultados é interpretado como um indicativo de que não atingiram a perfeição. Como essas pessoas vinculam a perfeição ao próprio valor, a crítica afeta diretamente sua autoestima, ferindo profundamente seu senso de amor-próprio. Se os outros apontam minhas imperfeições, então isso significa que eu não sou bom o suficiente e, por isso, não tenho valor.

Esse comportamento resulta em birras, mau humor, depressão, conflitos e ressentimentos. O perfeccionista não tolera críticas de ninguém; contudo, nem sempre confronta o outro, optando muitas vezes por guardar ressentimento e voltar-se contra si mesmo, o que prejudica sua autoestima.

Como lidar com isso?

Todo mundo tem orgulho e todo mundo tem níveis de insegurança, não dá pra mexer nesses pontos. Corrigir um comportamento perfeccionista não significa tornar-se uma pessoa altamente autoconfiante e desprovida de orgulho – tal ser humano simplesmente não existe!

Em primeiro lugar, a pessoa que tem o perfil perfeccionista precisa desassociar a ideia ilusória de perfeição do valor próprio (“se eu não for perfeito, não tenho valor”). Uma coisa não tem nada a ver com a outra, uma pessoa com “muito valor”, o que quer que isso signifique para cada um, não é necessariamente uma pessoa perfeita.

O problema todo está na crença que a pessoa mantém de que as críticas ou evidências de um desempenho imperfeito estão associadas a falta de valor como pessoa. Com muita frequência há uma generalização das críticas recebidas, o que aumenta o foco desproporcionalmente: “eu sou um idiota mesmo!” ou “eu nunca faço nada direito!”.

COMO O PERFECCIOSNISMO AFETA A PRODUTIVIDADE E O SUCESSO?

O perfeccionista nunca encontra contentamento, nunca valoriza suas realizações e nunca alcança a verdadeira excelência.

Contraditório, não é?

Afinal, não seria a excelência o que ele tanto almeja? Mas, caro leitor, o mundo não é apenas preto e branco! Há muito mais sob a superfície!

O perfeccionista não busca genuinamente a perfeição nas suas ações; seu dilema é muito mais profundo.

A grande armadilha está em pensar que o perfeccionismo é sobre perfeição, no sentido de qualidade, cuidado, esmero. Não. O perfeccionista não está nem aí para “qualidade”. Ele apenas se convenceu de que as pessoas esperam perfeição dele ou que, para ser amado e apreciado, ele precisa ser perfeito. A aparente perfeição que ele busca é um meio para um fim. Há uma crença inconsciente de que qualquer imperfeição pode resultar em rejeição.

Um dos efeitos colaterais prejudiciais do perfeccionismo é a procrastinação. São criadas inúmeras justificativas e racionalizações para adiar o início de tarefas prontas para serem executadas, resultando frequentemente em planos que permanecem inativos ou são postos em prática tardiamente, perdendo-se oportunidades valiosas.

O perfeccionista teme avaliações negativas, levando-o a entrar em pânico diante da simples possibilidade de seu desempenho ser menos que impecável. Nesse contexto, ele posterga, por tempo excessivo, a realização ou apresentação de suas tarefas, numa tentativa de preparar-se melhor ou de refinar o resultado, visando esquivar-se de qualquer crítica.

Ao longo do tempo, o perfeccionista tende a produzir cada vez menos na vida para evitar o risco de se expor e, consequentemente, de receber críticas. Muitos perfeccionistas são introvertidos, já que a exposição social aumenta naturalmente o risco de enfrentar críticas e situações embaraçosas.

O grau de perfeccionismo é determinado pelo nível de ansiedade e preocupação com a finalização e “entrega” dos resultados. Isso pode manifestar-se no ambiente de trabalho, provocando estresse e adiamento, e também na vida pessoal, como no início de um relacionamento, quando pode existir a expectativa de ser visto pelo outro como alguém sem defeitos.

Em ambos os contextos, prevalece a crença equivocada de que os outros “esperam” perfeição de nossa parte e que estaríamos falhando gravemente ao não apresentar um desempenho à altura, ou que seríamos rejeitados ao sermos percebidos como “imperfeitos”.

E O TIRO SAI PELA CULATRA: O perfeccionista tenta tanto ser perfeito que acaba se dando mal

No fim das contas, o feitiço vira contra o feiticeiro. A moça que acredita que o rapaz com quem está saindo não vai gostar dela se ela não for perfeita, acaba ficando extremamente nervosa nos encontros. Isso transmite a impressão de que ela não está à vontade, parecendo uma pessoa chata e até mesmo desinteressada no rapaz, já que apreensão e nervosismo podem se manifestar na linguagem corporal como rigidez e timidez.

O que os outros percebem em nós nem sempre corresponde ao que estamos tentando mostrar!

A mesma dinâmica se desenrola no ambiente de trabalho. Considere o caso de um funcionário extremamente perfeccionista em uma empresa. Ele acredita que para ser reconhecido e valorizado, cada projeto e tarefa que lhe é atribuído precisa ser entregue com perfeição absoluta. Na busca incansável por este ideal inatingível, ele acaba por passar horas a fio revisando e aprimorando seu trabalho, ultrapassando frequentemente os prazos estabelecidos.

Os colegas e gestores, que inicialmente admiravam seu comprometimento com a qualidade, começam a ver essa obsessão como um obstáculo. A equipe depende da entrega dessas tarefas para avançar com o projeto, e os atrasos constantes começam a afetar o moral da equipe e a produtividade geral. Além disso, o perfeccionista se torna tão focado em detalhes mínimos que perde a visão geral, comprometendo a eficácia de seu trabalho.

No final, a busca desenfreada do funcionário pela perfeição acaba sendo sua ruína. Ele é percebido não como um colaborador valioso pela sua atenção aos detalhes, mas como um ponto de estrangulamento para o fluxo de trabalho, prejudicando sua própria reputação e progresso na empresa.

Neste cenário, fica claro que a perfeição, quando perseguida a todo custo, pode levar a resultados diametralmente opostos aos desejados, demonstrando que o que tentamos mostrar não é necessariamente o que os outros percebem.

Em outras palavras, o perfeccionista se esforça tanto para agradar e está tão preocupado em não errar ou cometer uma gafe, que acaba produzindo o efeito oposto ao desejado!

QUANDO NADA É SUFICIENTE

Alguns indivíduos podem possuir o talento, a energia e a determinação para alcançar grandes alturas, mas são desviados por um inconsciente tortuoso.

O executivo workaholic que labora dia e noite, movido aparentemente por ambição ou riqueza, na verdade esconde a angústia de nunca ser considerado suficientemente bom pelo pai, que sempre o viu como um fracasso.

Ou a dona de casa que não suporta desordem, mantém tudo impecável e jamais se sente plena com sua casa – ecoa em sua mente a voz da mãe que a chamava de negligente e desorganizada.

Na incessante busca pela perfeição, nada é suficiente porque o alvo é inalcançável.

O perfeccionista anseia por autoafirmação, tentando provar a si mesmo e aos outros que ele não é aquilo que teme ser (ou o que pensa que os outros veem nele).

Se meu propósito é demonstrar que sou suficiente, qualquer tarefa ou projeto pode se prolongar indefinidamente, sem jamais alcançar o nível de perfeição desejado, pois a batalha é perdida no instante em que acredito que preciso me justificar através de minhas conquistas.

O verdadeiro objetivo na vida deveria ser a autoexpressão, não a autojustificação.

Não estamos aqui para provar nada a ninguém, nem a nós mesmos, mas para viver plenamente. Quem entende isso vive em harmonia consigo mesmo, livre de culpa, frustrações e medos. O perfeccionista, no entanto, sabota sua própria alegria, jamais se sentindo satisfeito com suas realizações.

COMO SUPERAR O PERFECCIOSNISMO?

Um pouquinho de bom senso e observação do mundo à nossa volta pode fazer milagres para destruir essa noção. Por quê?

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Muita gente pra lá de imperfeita se dá muito bem na vida, em todas as áreas. Críticas? Essas todo mundo recebe, os vencedores e os perdedores. A totalidade das pessoas públicas, por exemplo, de celebridades a políticos, possuem seus fãs, mas também possuem inúmeros detratores. Seres humanos são criaturas implicantes que adoram cuidar da vida alheia!

Não importa o que você faça, nem mesmo se conseguir atingir um grau de qualidade hipoteticamente perfeito. Sempre vai ter alguém que vai criticar, que vai dizer que você poderia ter feito diferente, que não está bom, e assim por diante.

As listas de livros mais bem vendidos do mundo estão sempre cheias de livros de baixíssima qualidade, alguns muito ruins mesmo. Mas por que esses livros chegaram na lista de best-sellers?

Porque o público-alvo desses livros não estava exatamente procurando por perfeição. Havia uma demanda, o autor preencheu, houve mídia suficiente para divulgar o livro e público suficiente para consumir aquele tipo de informação. Mesmo livros que hoje consideramos clássicos, se fossem analisados de um ponto de vista objetivo, com um padrão preto e branco de perfeição, diríamos que todos esses livros são imperfeitos. Em sites que contam com larga participação do público para postar resenhas e opiniões de livros como a Amazon, é possível ver inúmeros best-sellers com suas milhares de opiniões estelares, mas também críticas de quem considera tais obras “um lixo”.

O mesmo raciocínio pode ser aplicado a tudo o mais, música, pintura, os mais diversos tipos de produtos manufaturados, moda e por aí vai. Nós, como pessoas, também não escapamos da diversidade de opiniões sobre a nossa pessoa e sobre tudo o que fazemos – alguns nos adoram, outros nos odeiam.

Como vimos, a vontade de ser perfeito é na verdade um medo, uma insegurança de ouvir a opinião do outro, quando a mesma não é favorável a você. Implícito nesse medo está a ideia de que não ser perfeito significa não ser bom o suficiente como pessoa e possivelmente correr o risco de ser rejeitado.

Destrua essa crença e você terá superado o perfeccionismo.

Agora, como se faz para destruir essa crença?

Dando a “cara à tapa”! Se expondo, sentindo na própria pele a realidade de que as críticas não são nada mais do que:

1. dicas sinceras para melhorar o desempenho no futuro;

2. as opiniões pessoais dos outros, que podem não se enquadrar na ideia que você tem para o que mostrou e;

3. Implicação e chatice de quem gosta de criticar tudo.

No primeiro caso, o feedback alheio pode ajudá-lo a aperfeiçoar seu trabalho, sem que você entre em paranoia de que algum dia será efetivamente perfeito. Melhorar algo não é buscar a perfeição, apenas adaptar melhor aquilo ao que o público consumidor deseja. Esse “público consumidor” é quem usa e se beneficia do trabalho que você executou. Seu público pode ser seu chefe, os clientes da empresa, seus filhos, seu cônjuge, ou seja, são as pessoas (ou a pessoa) a quem sua ação se destina.

No segundo caso, é preciso apenas se dar conta de que todo mundo tem direito de ter a própria opinião e que as mesmas não precisam ser favoráveis a você, mas ao mesmo tempo, quando não são, não revelam “falta de valor” da sua parte. Essa compreensão é muito importante para desvincular críticas da sua autoestima. Opiniões sobre seu desempenho e resultados não são opiniões sobre a sua pessoa.

Muitas pessoas gostam dos meus artigos e algumas deixam comentários me parabenizando e comentando positivamente sobre meus textos. Mas também há pessoas que não concordam comigo e muitas que acham que o que eu escrevi simplesmente não está legal, ou não está formato adequadamente, algumas até mesmo me dão feedback bem negativo. Se eu fosse ficar choramingando a cada crítica, achando que “meus leitores não gostam mais de mim”, ou que eu sou uma péssima escritora, eu não escreveria mais nada (para não arriscar receber mais críticas) ou publicaria um artigo por mês, revisando-os inúmeras vezes até que “na minha cabeça” estivessem perfeitos!

Mas cada crítica é um feedback construtivo, uma opinião de alguém que se importa o suficiente para ler o que eu escrevo, por isso extremamente valiosa. É raro a crítica dos que realmente não se importam e criticam por terem conceitos de perfeição irreais, ou simplesmente desejarem que eu produza algo diferente do que faço. E também sempre tem os chatos que criticam absolutamente tudo porque elogiar “é coisa de trouxa” e “gente inteligente” critica! Quanto mais popular o seu trabalho, mais críticas de todos os tipos você irá receber: as construtivas, as implicantes, as perfeccionistas e as sem sentido.

A ideia é justamente tornar o seu trabalho ou o que quer que você faça o mais popular possível (ou se expor o máximo que você puder) para que você receba o maior número de opiniões possível. Não se preocupe com perfeição, busque feedback, retorno e vá melhorando aos poucos.

A partir das críticas que você recebe, você pode ter mais subsídios para determinar se algo realmente precisa ser aperfeiçoado, se precisa ser mudado ou até mesmo abandonado. Quanto mais críticas você recebe, mais grossa fica sua “casca”, ou seja, você deixa de sentir na pele a dor da opinião alheia.

Maior quantidade de críticas também o ensina a separar o joio do trigo e ser capaz de saber que tipo de opinião serve como motivador para aperfeiçoar e mudar, quais você deverá apenas respeitar, mas admitir que não se aplica ao seu trabalho ou a intenção e perfil que você quer dar ao que faz e quais delas são fruto da chatice e implicação alheia e que não devem ser levadas a sério.

Mas cuidado com o orgulho excessivo!

É importante, contudo, não deixar com que o orgulho classifique todo feedback nessa última “caixa”, tachando todo mundo que dá uma opinião contrária a sua de chato, implicante, fofoqueiro, invejoso, e por aí afora. É sempre bom refletir de onde veio a crítica, por que a pessoa disse o que disse e se realmente aquilo se aplica coerentemente ao seu caso sem reagir com mecanismos de defesa – defendendo seu “trabalho perfeito” e negando a opinião do outro. Raramente um feedback cairá na “terceira caixa”, as pessoas não são tão más, nem tão invejosas assim!

Opiniões sempre tem um fundo de verdade, mesmo que a pessoa não goste de você e tenha todos os motivos para esculachar o que você faz. Mas ao mesmo tempo, agradar a todo mundo nunca deve ser o seu objetivo. Às vezes o que você faz não cai no gosto de algumas pessoas, cujas críticas residem justamente nessa diferença de expectativas. Nesse caso, é preciso respeitar a opinião do outro, que está em seu direito de manifestar o que pensa, sem achar que você tem que mudar o que fez (ou faz) para se adaptar ao perfil de outrem.

NUTRINDO A AUTOCONFIANÇA

Sua autoconfiança começa a nascer quando você acumula experiências e críticas e consegue enxergar que o mundo é feito de pessoas com as mais variadas opiniões, gostos e preferências e que cada uma delas tem o direito de se expressar como bem entende – inclusive se expressando contra o que você faz!

Aos poucos você vai ficando menos apreensivo com o que os outros vão pensar, deixando de ser perfeccionista naturalmente, mesmo sem deixar de ser atencioso, cuidadoso e zeloso para com as coisas que faz.

Predisposição para escutar críticas, aprender e melhorar progressivamente é uma característica MUITO MAIS admirada do que uma suposta perfeição!

Perfeição é irreal e todo mundo sabe disso. Quando aparece alguém que “aparenta” ser perfeito, as pessoas ficam com o pé atrás – deve ter algo muito errado com essa pessoa! A cortina começa a cair a medida que as pessoas conhecem melhor o senhor ou senhora perfeita, quando os outros começam a perceber o que está por trás de um comportamento tão “certinho”: orgulho e uma muralha intransponível que impede com que qualquer um consiga ver a pessoa “mais de perto”. Enquanto ela está lá no alto de seu castelo, todo mundo está vendo a farsa que ela realmente é!

E isso sim, é um erro muito mais grave do que os que podem ser cometidos quando não se está tentando ser perfeito.

A grande maioria das pessoas rechaça orgulho muito mais do que imperfeição.

Por um lado, o orgulho pode se traduzir em arrogância, prepotência, presunção, que estão entre as características mais odiadas nas pessoas! Quando isso não ocorre, o orgulho vira timidez, falta de assertividade e insegurança, características que também não são apreciadas.

O problema todo é que essas características revelam a personalidade de uma pessoa que “esconde” sua verdadeira personalidade, suas intenções, seus medos, suas inseguranças. O perfeccionista não é perfeito e ele sabe disso, mas ao querer que os outros o vejam como tal, ele se torna uma pessoa falsa, dissimulada, de um lado da moeda como a pessoa prepotente e arrogante ou do outro lado, como a pessoa tímida e insegura.

De uma forma ou de outra, as pessoas veem essa dissimulação de longe. É por isso que autenticidade, mesmo quando a pessoa é uma “bagunça” e evidentemente imperfeita, é muito mais valorizada do que uma etérea (e falsa) perfeição. Vemos esse tipo de reação até mesmo em programas de reality TV, quando o público julga os mais “certinhos” e supostamente perfeitos bem negativamente e passa a idolatrar os declaradamente imperfeitos.

Sabendo disso, por que alguém em sã consciência gostaria de ser percebido então como perfeito?!

É simples: os perfeccionistas de plantão nunca pararam para pensar e refletir profundamente sobre isso. A insegurança e a ansiedade dos perfeccionistas surgem justamente da crença de que a realidade é justamente o contrário, que as pessoas não gostarão delas se elas não forem perfeitas. Elas nunca pensaram que na realidade, é o contrário, a perfeição afasta, a imperfeição provoca empatia (o efeito do “eu também sou assim!”).

Não há nada mais humano do que a imperfeição. Gostamos de ver que os defeitos, as dificuldades das pessoas, não porque as queremos mal, mas porque isso nos aproxima delas. Sabemos que nós mesmos não somos perfeitos e quando encontramos outros imperfeitos pelo caminho, nos sentimos mais unidos, criamos empatias, vínculos, encontramos coisas em comum.

Os perfeitos não fazem parte do nosso mundo, são “criaturas estranhas” com quem não temos nada em comum.

Se tivermos a oportunidade de conhecer um pouco melhor um perfeccionista de perto, o efeito é ainda pior, começamos a ver os defeitos que eles tentam com tanto afinco esconder, e nesse processo, criamos antipatia, pois vemos essas pessoas como falsas – elas não se mostram como realmente são – tanto o perfeccionista arrogante quanto o perfeccionista tímido despertam nos outros o mesmo tipo de reação negativa, uma rejeição natural contra pessoas que não são autênticas e tentam esconder seu “eu” verdadeiro.

A evitação de erros do tipo que podem comprometer a percepção da sua competência são evitados com zelo, atenção, detalhismo e responsabilidade.

O oposto do perfeccionismo não é relaxo!

Uma pessoa que não é perfeccionista pode ter um desempenho exemplar. A grande diferença é no senso de “espera” (postergação) e no nível de ansiedade.

Algumas coisas podem realmente demorar para “sair”, um livro, por exemplo, passa por inúmeras revisões antes de ser publicado – esse tempo de aperfeiçoamento da obra não é postergação e o zelo com a qualidade final não é perfeccionismo.

O cuidado, a atenção aos detalhes e o senso de responsabilidade fazem parte do comportamento de uma pessoa competente e de forma alguma eu estou incentivando um comportamento descuidado e frouxo. Aquele que se preocupa com a qualidade do seu esforço, até mesmo por respeito aqueles que irão se beneficiar daquela ação, trabalha com afinco e cuidado, porém de forma tranquila, ao passo que o perfeccionista posterga demais, se estressa e sente ansiedade ao pensar sobre a “entrega” dos resultados, justamente porque ele está preocupado demais com o que os outros vão pensar.

Se você se identifica com esse quadro, quer você se encontre no lado “arrogante” da moeda, quer no lado “tímido”, se questione:

o que é realmente que você não quer que os outros vejam em você?

O que você está escondendo?

O que significaria para você “entregar” um resultado (ou se mostrar) imperfeito?

O que você acha que acontecerá se as pessoas perceberem suas “imperfeições”?

As respostas para estas perguntas, se respondidas SEM mecanismos de defesa e com sinceridade, podem revelar muito sobre suas “neuras” e preocupações inconscientes.

Ao trazê-las para o nível consciente você pode refletir em cima delas e ver o quão bobas elas são. Nesse caso específico do perfeccionismo, pense também no “efeito contrário” que a vontade de ser perfeito provoca nas pessoas: ao invés de ser percebido como “o todo poderoso”, você acaba se passando por falso e dissimulado, mesmo que no fundo você não seja assim.

Não vale a pena tanto esforço, não é mesmo? Você só quer causar uma boa impressão, e o tiro sai pela culatra, a impressão que você causa é a pior possível.

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18 comentários em “A ilusão da perfeição: como o perfeccionismo destrói a autoestima e retarda o sucesso”

  1. ola sou o jorge ja me deparei com muitas especies de personalidades, sem criticar mas com espirito de critica construtiva uma pessoa afirmar estar certa de ser perfecionista e nao se semtir mal com isso?..o objectivo penso eu nao é de sencura mas que o egoismo costuma ser de estremos , para quem esqueceu ou para salientar nesta epoca moderna que se vice seres humanos com tanta informacao continuam se semtindo comfusos,8 ou 80 nao é bom ja senhor dizia seguir o caminho do meio coiza que posso admitir nao é mt facil para algumas pessoas mas ser humilde o suficiente para reconhecer e assumir abraxo.

    Responder
  2. Eu me enxerguei nesse texto, sou extremamente perfeccionista, detalhista e isso torna meu senso crítico apuradíssimo, isso me prejudica muito nos meus relacionamentos sociais , quase não tenho amigos e agora enxerguei que o problema não são eles, mas sim eu!
    Eu fico prorrogando minhas decisões, pq nunca estão perfeitas, já cheguei a testa 40 aplicativos financeiros e nunca achei um perfeito pra mim!

    Na faculdade minhas colegas de grupo sempre reclamavam que não conseguiam entender meus trabalhos, pois eram muitos complicados kkkk mas pra mim era tão simples.
    Enfim…
    Faltou uma dica de como melhorar esse comportamento, sinto que isso ta atrasando a minha vida.

    Responder
  3. JÁ FUI MUITO PERFERCCIONISTA NO PASSADO, APRENDI NÃO SR MAIS ASSIM DEPOIS DA MINHA DEPRESSÃO.
    EU LEVAVA A VIDA MUITO A SERIO.
    APRENDI QUE NEM TUDO É PERFEITO, ENTÃO DEIXEI O PERFECCIONISMO DELADO E LEVO HOJE UMA VIDA SEM ESCRAVIDÃO.

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  4. Artigo lúcido e maravilhoso. Vejo o quanto a gente (eu) perde por tentar se enquadrar em cima de uma meta impossível. O quanto “atingir o auge” está ligado à nossa baixa auto estima e na necessidade real de ser querido pelos outros, mas na enganosa saída para conseguirmos o reconhecimento e o afeto alheio de que temos que ser perfeitos em tudo (ou quase) para obtermos o respeito e a admiração dos nossos pares.

    Responder
  5. Eu me acho perfeccionista, com isto considerava que era o máximo agir desta forma, só que em paralelo, sentia que causava desconforto, conflitos, principalmente no ambiente familiar, e quando erro, geralmente procuro justificativas, passando para as pessoas, mas no intimo a irritação é comigo mesmo, e isto deixa-me irritado por horas, dias até, lendo este artigo, entendi e concordo que o perfeccionismo exarcebado é uma doença, portanto, daqui pra frente farei exercicios mental para transformar o perfeccionismo em detalhes, sem stress.

    SDS
    Mauricio Nilo

    Responder
  6. De fato, percebo a veracidade dessas palavras, vito que sou uma pessoa perfeccionista.Sendo assim, ainda que as pessoas ao redor me cubram de elogios, freqüentemente me sinto inferior, sozinha.Há pouco tempo percebi exatamente o que foi tratado nesse artigo, e desde esse momento, tenho tentado me cobrar menos(ou no mínimo,aumentar minha auto-tolerância.É muito reconfortante saber que alguém compreende como me sinto.

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  7. hj fui fazer uma consulta ao Neurologista, e ele foi categórico no seu diagnóstico cl[inico, pelas minhas tonturas, dores no peito, falta de memória que tenho TRANSTORNO DE ANISEDADE GENERALIZAD – CALCADA EM MEU EU – CARÁTER PERFECCIONSITA.
    para mi foi surpresa, porque o que eu li, em 1 hora de artigos sobre o tema na internet, não consigo me ver, e mais, minha famíia e amigos nunca me vêem como perfccionista.
    mas, sim, sou exigente no trabalho de cobrar horários, metas e resultados, fruto de uma necessidade q nos fazem manter no mecado de trabalho, porque existe a concorrência…
    E para prestação de seviço vc tem tem fazer as coisas certas com qualidade e pontualidade, se não vem outro e faz.
    Sei q apesar de estar bem pertinho dos 50, não consegui ainda equilibrio financeiro, sustentabilidade estável, possa ser que amanhã eu esteja sem serviço, isso me causa insegurança, também, seria normal…

    Sou sociavel, trabalho em equipe,quando coordeno um evento, tomo decisões depois de ouvir as opniões…
    Porém, condeno a desonestidade, não aceito corrupções. essas pessoas são eliminadas de meu convivio de trabalho e pessoal.

    Bem, gostaria de pesquisar e saber se sou ou não sou Perfccionista. Porque não me vejo q preciso tomar tranquilizante, o médico passou, não posso voltar agora para outro neuro, (meu plano de saúde é aquele parecido com o SUS.)

    Onde pesquisar, agradeço!
    All Ceará

    Responder
  8. Gostei do que ví e lí, pois as vezes nos deixamos levar pelo conceito que os outros criam a respeito das coisas que nós fazemos, e isso faz nascer a necessidade de sermos aprovados por todos aqueles que estão a nossa volta. Deixando de fazer as coisas que nos identifica não só como pessoa, mas como profissional e passando a fazer aquilo que vai me garantir como alguém aprovado no meio social.É uma pena termos uma sociedade de iguais!

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  9. Adorei! Esse artigo precipitou uma engraçada discussão aqui em casa, já que eu acho o meu marido um perfeccionista e ele acha que perfeccionista sou eu. Difícil, não?!

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  10. Sou perfeccionista, ao extremo, e não sinto esses problemas, de ter que provar pra ninguém algo. Faço tudo em meu beneficio, acho que isso é impórtante pra minha vida. Se vai fazer bem, ou causar alguma coisa pra alguém isso vai ser consequencia. Acho que ser perfeccionista tem muitas vantagens, pra mim melhora a vida.

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  11. O que foi dito neste artigo nao poderia ser mais correto. Eu tenho essa “doenca” da perfeicao e de nada tem contribuido para eu me sentir mais feliz ou sociavel. Nunca olho para tras e acho que o que foi feito esta bom, mesmo que outros me cubram de elogios. A sensacao de solidao e incompriensao generada por mania de perfeicao e indescritivel. De certa forma e bom saber que ha outras pessoas la fora com o mesmo de tipo de problema; melhor ainda e saber que de certa forma uma mudanca de atitude talvez seja possivel. Obrigada pelo artigo.

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