A Arte da desistência: Como saber a hora certa de abrir mão de uma meta?

Franciane Ulaf

A arte da desistência

Muito já foi escrito sobre como conquistar metas. Falamos sobre como superar os obstáculos para chegar lá, como se motivar para manter tudo andando como planejado, como ser mais persistente, e assim por diante. Pouco se fala sobre a eventual necessidade de se desistir de uma meta. Esse é um assunto antipático. Ninguém quer falar sobre desistência. Os heróis das histórias não desistem. “Pessoas de sucesso” não desistem. No imaginário popular desistência é uma palavra feia, associada com fraqueza e covardia. Essa narrativa, contudo, é enganosa—e por diversos motivos.

Algumas ideias que temos simplesmente não são boas. Cometemos erros o tempo todo, não é mesmo? Pois também erramos quando decidimos o que queremos para o futuro. Por diversos motivos podemos achar que uma ideia é maravilhosa, que tem grandes chances, que vai mudar a nossa vida e no final das contas estamos redondamente errados. O maior erro, contudo, é não enxergar a realidade e continuar insistindo em metas infrutíferas ou inapropriadas. Metas infrutíferas são aquelas sem chances de dar certo ou que não resultarão em algo sólido, positivo ou mesmo desejado. Nosso erro de julgamento é achar que algo tem grande potencial quando na verdade isso é uma ilusão. Metas inapropriadas são aquelas que não são pra nós. Narcisismo e “falta de noção” estão por trás de metas que não “combinam” conosco, ou que temos poucas ou nenhuma chance de atingir.

O problema gira em torno da limitação dos nossos recursos. Tudo o que temos para investir em novas metas (tempo, dinheiro, energia, motivação) é limitado. Não podemos fazer tudo o que queremos fazer. Tentar fazer um pouquinho de cada coisa geralmente não dá certo—ou damos tudo para tirar uma meta do chão e a concretizarmos ou passamos a vida regando sementes que nunca brotam, tentando fazer de tudo um pouco. Por esse motivo, as metas que escolhemos devem ser cuidadosa e criteriosamente avaliadas. Elas realmente têm chance de sucesso ou estamos sonhando alto demais? Temos as características pessoais adequadas para persegui-las? O que realisticamente esperamos obter ao concretizar essa meta? Neste artigo, vamos conversar sobre os pontos mais importantes que precisamos levar em conta quando avaliamos nossas metas, desde a tomada de decisão inicial até uma eventual desistência caso a meta se mostre infrutífera ou inapropriada no futuro.

Primeiro o mais importante - First Things First
Um dos melhores livros para aprender a priorizar, administrar o tempo e parar de dispersar

Para começar, vamos falar sobre prioridades. Vivemos uma vida curta, composta por dias curtos em que temos pouco tempo para dar conta dos nossos compromissos e ainda alcançar nossas metas. Por esse motivo não podemos fazer tudo o que desejamos, simplesmente não há tempo. O conceito de prioridade ganhou popularidade nas últimas décadas desde que Stephen Covey baseou seu livro Primeiro o mais importante (First Things First) na ideia de que precisamos aprender a elencar nossas prioridades e dar preferência para essas coisas em nossas vidas, evitando ou completamente descartando tudo o mais.

Priorizar não significa só colocar o que é mais importante primeiro, mas também desistir do que se demonstra ser menos importante.

Se fossemos realmente espertos (ou talvez perfeitos) só priorizaríamos as coisas mais importantes e relevantes em nossas vidas e sempre manteríamos um rol de metas apropriadas para conquistar. Mas é claro que não somos tão espertos—nem perfeitos. Tomamos decisões erradas o tempo todo. Julgamos que queremos algo que depois se revela frustrante, infrutífero ou enganoso. Definimos metas e depois perdemos o interesse. Isso é normal, é humano. E o que acontece quando paramos para pensar em tudo o que trouxemos para nossas vidas e nos damos conta de que algumas coisas simplesmente não fazem sentido ou perderam o brilho que nos atraiu no passado? Se negar a desistir dessas coisas é tolice, não é mesmo?

Para que continuar perseguindo metas que não fazem mais sentido para nós?

A magia do gerenciamento do tempo
Como organizar sua vida, definir prioridades e tornar seu dia muito mais produtivo

Às vezes sentido não é a questão, mas sim tempo ou outro tipo de recurso. Algumas metas exigem uma dedicação enorme, mas será que vale a pena? O conceito de priorização nos pede para avaliar tudo o que trazemos para nossa vida. Nossos recursos são limitados, principalmente o tempo, mas precisamos também pensar em energia, afinal de contas não são só as horas do dia que são limitadas, mas também o nosso “gás”. Dependendo do tipo de meta que estamos tentando alcançar, precisamos de mais ou menos energia, seja física ou mental. Não há energia suficiente para perseguir todas as metas que gostaríamos de conquistar—pelo menos não ao mesmo tempo.

Priorizar metas exige que avaliemos o potencial de cada uma à luz das nossas necessidades, condições, recursos e expectativas. Quando fazemos esse exercício podemos acabar descobrindo que certas metas estão onerando nossa capacidade individual de produtividade:

– Em termos de recursos: não temos tempo, dinheiro ou energia suficiente.

– Em termos de necessidades: eu preciso de outras coisas nesse momento da minha vida e estou desperdiçando recursos com algo que não é adequado para o momento (e não estou tendo tempo e outros recursos para me dedicar a coisas que realmente preciso agora).

– Em termos de condições: não tenho as habilidades necessárias para perseguir essa meta nesse momento ou estou tentando perseguir uma meta que “não combina” comigo. Não tenho o que é necessário para fazer o que é preciso para conquistar a meta.

– Em termos de expectativas: estou “viajando na maionese”, achando que vou furar o céu com essa meta, ou achando que vou ficar milionário ou famoso em pouco tempo. Estou achando que algo muito sensacional vai acontecer ou minha vida vai mudar. Estou colocando expectativas de felicidade nessa meta.

Para sermos produtivos e gerarmos resultados positivos na vida precisamos nos focar em poucas coisas a cada momento. À medida que vamos conquistando nossos objetivos, podemos buscar novamente metas que deixamos para trás no passado. Contudo, é importante manter em mente que algumas metas devem ser eliminadas permanentemente. Cada caso é um caso, mas há metas que comprometem muitos recursos ou que são irrealistas, ou que simplesmente não “cabem em nossa vida”. Precisamos ter o discernimento para chegar a essas conclusões e desistir dessas metas—que são mais sonhos do que metas—ao invés de desperdiçar recursos tentando alcançá-las.

O efeito mais poderoso que faz com que insistamos, às vezes teimosamente, em metas que não valem a pena, entretanto, é a chamada falácia do custo irrecuperável (sunk coast fallacy). Após investirmos certa quantidade de recursos, seja tempo, dinheiro, energia, ou expectativas em cima de uma determinada meta, começamos a olhar a possibilidade de desistência como desperdício de tudo o que já foi investido, mesmo que possamos ver que a escolha da meta foi um erro. Um bom exemplo são ideias de negócio infrutíferas e sem chances de sucesso. Algumas ideias de negócios simplesmente não são boas ou estão fadadas ao fracasso, independentemente de esforço e dedicação.

Após investir grande quantidade de tempo, dinheiro, energia e esperanças a pessoa se nega a abrir mão da ideia mesmo quando vê que ela não é tão boa quanto inicialmente se imaginou ou as chances de sucesso são ínfimas ou inexistentes. Os recursos então ficam empatados em algo que não irá gerar resultados positivos e não podem ser realocados para outra ideia com mais chances de sucesso. Lembre-se que nossos recursos são limitados. Se escolhemos os empregar na meta A, não haverá possibilidade de nos dedicarmos a meta B porque os recursos já terão sido utilizados. Se você tem três horas por dia para se dedicar a uma meta pessoal, ao escolher a meta A você está efetivamente eliminando todas as outras possibilidades, pois suas três horas não podem ser investidas em múltiplas metas (e querer fazer um pouquinho de cada coisa também não dá certo. Quem fica com os pés em duas canoas, afunda!). Da mesma forma, se você tem R$1.000 para investir em uma meta, você não poderá investir esse valor em qualquer outra meta.

A falácia do custo irrecuperável é perigosíssima pois explora o valor que damos aos nossos recursos. Se eu invisto uma grande quantidade de dinheiro e tempo para me dedicar a um novo negócio que começa a se demonstrar infrutífero, a tendência é começar a arranjar desculpas para não desistir e justificar a falta de retorno, alimentando a esperança de que as coisas vão mudar no futuro e o investimento poderá ser recuperado. Após investir em uma determinada ideia, mesmo que seja apenas em termos de expectativas e esperanças, nós nos apegamos àquela meta emocionalmente e nos tornamos cegos para os indícios de que nossas percepções e opiniões possam estar erradas. A ideia de que se eu já investi muito numa meta, eu preciso ir até o fim só resulta em desperdício, mas é difícil de abandonar.

Noções irreais de persistência e determinação também não ajudam. É comum a pessoa insistir em uma ideia fadada ao fracasso porque ela pensa que está sendo persistente e determinada—achando que isso é bom. Imagine um barco que está afundando. O capitão persistente e determinado acha que consegue salvar sua embarcação. Ele tem a oportunidade de deixar o barco e salvar a própria vida subindo em um bote, mas ele se nega. Até o fim, o capitão acredita que ainda há chances de salvar o barco e continua tentando. No final das contas ele afunda junto com seu navio. Se uma meta se demonstra ser um erro, se já dá pra ver que aquilo não vai dar em nada—que o barco vai afundar mesmo—o ideal é parar de colocar mais e mais energia tentando retardar o inevitável. A vida é curta. Não dá pra ficar salvando todos os barcos que afundam ao longo do nosso caminho. O ideal é pular para o bote salva-vidas o mais rápido possível e arranjar outro barco para nos levar para onde desejamos ir.

Desistir é uma arte. Não há critérios certos e definidos que nos ajude a determinar quando é hora de abandonar uma meta. Análise lógica, reflexão, frieza para evitar a interferência das emoções, e até mesmo intuição pode nos ajudar a separar a realidade do que está acontecendo e a emocionalidade das nossas expectativas e apego para com a meta. O importante é manter em mente esses dois pontos que abordamos aqui: prioridade (nossos recursos são limitados, não dá pra fazer de tudo, precisamos nos focar só no que é mais importante no momento) e não dar tanto valor para o que já investimos (se o barco está afundando, não tente salvá-lo, deixe afundar de vez e pegue outro barco o mais rápido possível).

LIVROS RECOMENDADOS PARA APRENDER A PRIORIZAR ATIVIDADES E METAS, ADMINISTRAR O TEMPO E SER MAIS PRODUTIVO:

A magia do gerenciamento do tempoA magia do gerenciamento do tempo: Como organizar sua vida, definir prioridades e tornar seu dia muito mais produtivo - Lee Cockerell ==> Clique aqui para ver o livro na Amazon

Entre outros segredos, Lee revela que, para alcançar o sucesso e a felicidade, você precisa ser organizado não apenas na vida profissional (fazendo controles de qualidade, checklists etc), mas também na vida pessoal.


Primeiro o mais importante: Como pôr em foco suas prioridades para obter resultados altamente eficazes - Stephen CoveyPrimeiro o mais importante: Como pôr em foco suas prioridades para obter resultados altamente eficazes - Stephen Covey ==> Clique aqui para ver o livro na Amazon

Primeiro o mais importante vai ajudar você a entender por que as coisas primordiais na sua vida não estão recebendo a devida atenção. Em vez de oferecer um novo relógio, este livro fornece uma bússola – porque a direção que você está tomando é mais determinante que a velocidade com que está caminhando.


Hábitos para uma vida eficazHábitos para uma vida eficaz - Stephen Covey ==> Clique aqui para ver o livro na Amazon

O novo livro de Stephen R. Covey, um dos maiores professores de todos os tempos, apresenta cinco hábitos para incorporar no dia a dia e ter uma experiência de vida mais eficaz, compartilhando perspectivas inovadoras sobre a vida e a forma como nos autoanalisamos.

Print Friendly, PDF & Email
Compartilhe!
Cadastre-se gratuitamente no Guia da Vida e tenha acesso a nosso melhor material sobre desenvolvimento pessoal, produtividade, saúde mental e motivação:


1 comentário em “A Arte da desistência: Como saber a hora certa de abrir mão de uma meta?”

  1. Artigo muito lúcido… como sempre dessa autora maravilhosa. É uma visão que nos faz refletir com mais profundidade ao invés de seguir o bonde da autoajuda e achar que qualquer desistência é falta de persistência. Tem coisas que a gente se empolga, depois vê que não era nada daquilo. É preciso ter a coragem de desistir e empregar nosso tempo em algo que realmente valha a pena.

    Responder

Deixe um comentário