“Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças.”
Charles Darwin
Mudança está se tornando cada vez mais a regra do que a exceção na vida do século XXI. Nossos pais e avós só passavam por grandes mudanças na vida na eventualidade de um acidente, uma inesperada perda de emprego ou falência de um negócio. “Desastres” profissionais, no entanto, eram raros. Se formos ouvir as histórias de vida de nossos pais e avós, o padrão será marcado pela constância, não pela mudança, não por eventos inesperados e indesejados. Até o século XX, a maioria das pessoas podia viver a vida toda sem enfrentar quaisquer mudanças, tanto que boa parte das pessoas aposentadas hoje trabalhou a vida inteira para uma única empresa. Se por um lado essa ausência de mudanças lhes fornecia segurança, por outro, o marasmo, a previsibilidade e a retilinearidade da vida eram a raiz de muitos casos de depressão, falta de motivação e uma sensação de falta de sentido.
O argumento número um contra o planejamento é que as mudanças hoje em dia são tão constantes que as coisas nunca ocorrem como planejado – então pra que planejar? Há uma certa ironia nesse raciocínio. O fato é que num ambiente de mudanças constantes, só o que é planejado é realizado e principalmente, somente com um plano as coisas acontecem como VOCÊ quer. A nova geração tem em mãos uma oportunidade desperdiçada pelas anteriores. Nossos antepassados passavam pela vida se apegando à segurança que o cenário em que estavam inseridos proporcionava. Família, emprego, igreja, comunidade, tudo funcionava como um escudo protetor contra mudanças e contra o desconhecido. Eram poucas as pessoas que saíam dos trilhos e se aventuravam no desafio de construir uma vida fora dos padrões da normalidade, mesmo que isso significasse apenas abrir um negócio numa família em que ninguém havia se “arriscado” como empreendedor antes.
A realidade da vida hoje acaba colocando muita gente na chapa quente. Mudanças ocorrem com mais frequência e sem muito aviso prévio, como a perda de um emprego ou o fim de um casamento, eventos não tão comuns para as gerações anteriores. Além disso, nossa geração se sente mais livre para ousar e experimentar o desconhecido, seja abrir o próprio negócio, seguir a carreira artística ou escrever um livro. O que vemos hoje é uma explosão da expressão pessoal. Por mais difícil que seja no cenário global, muito mais gente hoje larga as cordas imaginárias do medo e ousa tentar fazer o que dá sentido a suas vidas.
Sair dos trilhos pré-determinados da vida, contudo, exige algo de que as gerações anteriores sequer ouviram falar: planejamento pessoal. Se você quer escrever um livro, por exemplo, não haverá chefe algum lhe cobrando serviço, o projeto é seu, ninguém irá lhe cobrar se você não for produtivo. Herdamos das gerações anteriores, principalmente do sistema escolar, o hábito de trabalharmos somente sob pressão. Começamos o treinamento bem cedo na escola, quando aprendemos que só precisamos estudar O QUE vai cair na prova e PORQUE vai cair na prova. Só fazemos a lição de casa porque somos obrigados, alguém vai verificar. A escola é o treinamento perfeito para o mercado de trabalho. Aprendemos a obedecer direitinho as ordens dos outros e a só fazermos o que nos mandam fazer. Aprendemos a trabalhar sob pressão e só sob pressão. Esse treinamento, porém, é ineficaz para a vida fora dos trilhos. Quando nos determinamos a realizar algo que nós queremos fazer simplesmente porque queremos, não porque alguém pediu, precisamos desenvolver um sistema e uma disciplina diferentes. As maiores dificuldades enfrentadas por novos empreendedores ou por pessoas buscando a realização de objetivos pessoais é justamente não conseguir manter a continuidade, pois fomos treinados apenas para fazer o que os outros nos pedem, não para fazer o que queremos fazer. Temos vontade, mas não temos disciplina.
O Planejamento Estratégico Pessoal entra em jogo quando organizamos e sistematizamos o que e como vamos fazer para alcançar nossos objetivos. Nem sempre conseguimos ter uma idéia clara logo de início sobre tudo o que será preciso ser feito, às vezes não conseguimos enxergar a estrada inteira, somente o trecho logo à nossa frente. Tudo bem, não tem problema! Isso jamais deve ser um motivo para não planejar. Não é preciso ser onisciente de todo o processo para começar – muitos detalhes sobre o futuro do projeto, inclusive, acabam se tornando mais claros quando você começa a percorrer a estrada.
O medo das mudanças também não deve ser um motivo para evitar os planos. Veja, por exemplo, as organizações. Empresas planejam seus objetivos, mas são atingidas o tempo todo por mudanças vindas de tudo quanto é lado: economia, governo, concorrentes, mercado, etc. Muitos planos empresariais sobrevivem às mudanças, alguns devem ser alterados para melhor adaptação, mas ainda assim, no final das contas, muitas empresas atingem seus objetivos planejados. A vida da maioria das pessoas sofre bem menos ataques de mudanças externas do que empresas. Uma observação importante é que o fato de que os planos podem precisar ser alterados não significa que “não deu certo”. A vida nunca pode ser vista dessa forma, oito ou 80, justamente porque não temos visão de conjunto, não conseguimos ver a estrada inteira e não conseguimos prever o futuro. A predisposição pessoal para se adaptar constantemente e mudar os planos de acordo com a necessidade marca a diferença entre o sucesso e o fracasso. Há diversos provérbios e contos que ilustram esse ponto, como o bambu que sobrevive à tempestade por ser flexível, enquanto as árvores rígidas acabam se quebrando com a força do vento. Acredito que a frase de Charles Darwin citada no início deste artigo explique com grande profundidade a importância da adaptabilidade. Quem se recusa a ser flexível acaba sendo superado por aqueles que se adaptam às mudanças. Para se adaptar às mudanças, no entanto, é preciso não ter medo delas!
Observamos isso com clareza na natureza e no mundo dos negócios, mas as pessoas têm uma dificuldade enorme de enxergar a inflexibilidade em suas próprias vidas. Tanto é que esse é o maior motivo de resistência ao planejamento, como já discutimos. Há uma falsa crença de que se for planejar, então é preciso ter certeza de que o caminho está livre para que o planejamento seja aplicado como num vácuo, sem interferência e sem alterações. O medo de que “alguma coisa” dê errado impede a grande maioria de sequer aceitar a ideia de planejamento como válida.
A vida fora dos trilhos, no entanto, vira divagação se não planejada. Basicamente, se você vai fazer qualquer coisa diferente, algo que você não aprendeu na escola, algo que não é esperado de você ou algo que você não precisa fazer, como é que você vai colocar suas intenções em prática sem um mapa para seguir? A tarefa mais simples, como escrever um livro (sim, é simples!), exige que você saiba o que fazer e como fazer, além de se beneficiar muito de um cronograma de atividades para que você não se estenda por anos fazendo algo que pensou que conseguiria fazer em meses.
Para chegar nesse ponto, contudo, é preciso furar a barreira da inércia e tomar certas iniciativas como procurar descobrir mais informações sobre o objetivo. Você pode não saber nada sobre como atingir o seu objetivo, mas aí entramos com a primeira parte do planejamento – a descoberta. Muita gente para exatamente aí. Não planejam porque não sabe nada sobre o objetivo – “Ah, eu gostaria de escrever um livro, mas eu nem sei como fazer isso, além disso, eu era muito ruim em redação na escola… e nem sei como publicar um livro, logo, eu não posso escrever um livro.” O mesmo mecanismo se repete com os mais diversos tipos de sonhos tão comuns quanto escrever um livro, como ter um negócio próprio, começar uma carreira musical, ter um site na web, investir na bolsa de valores, construir uma casa… Nada muito espalhafatoso! Mesmo assim, muita gente se furta da oportunidade de ousar fazer o que quer pelo motivo mais besta de todos: desconhecimento. Sim, desconhecimento é um motivo tolo, pois vivemos na era da informação. Descobrir como se faz algo hoje em dia é uma questão de alguns dias de estudo em livros e na internet. Informação nenhuma é secreta nesses tempos de segredos de estado vazando na web! Descobrir como escrever um livro ou como investir na bolsa de valores é certamente coisa simples, basta ler alguns livros e se familiarizar sobre como esse universo especial funciona, nada mais. O conhecimento abre portas e acende as luzes. Sabendo “como se faz”, planejar “como você fará” é questão de organização e sistematização.

Trecho adaptado do livro Planejamento Estratégico Pessoal de Fran Christy – 6ª Edição.
Aproveite o desconto de lançamento da 6ª edição!
Clique aqui para mais informações.

Franciane Ulaf é administradora e psicóloga, especializada em psicologia evolutiva. Atualmente, Franciane é mestranda em psicologia na Universidade de Harvard. Sua linha de estudos investiga as raízes evolutivas da natureza humana. Franciane escreve sobre comportamento humano, produtividade, psicologia, biologia e evolução.
Muito bom! Genial como sempre! Obrigada pela sabedoria, Beijos!
Mais uma grande oportunidade para vivenciar e refletir sobre o presente e futuro, pois agora já é passado, então deve-se rever o aprendizado e reaprender como agregar valores.
E aprender por opção, fica realmente mais facil, torna-se uma rotina, e ficará agradável a busca por informações.
O reaprender é fazer o que é necessário e muito mais sem haver terceiros cobrando ou impondo o modo, o momento ou como fazer.
Esta leitura colocou-me como um eterno Aprendiz.
Muito bom
Abraços