Ansiedade tem cura?

Heidi Grant

Ansiedade tem cura

Essa pergunta é surpreendentemente muito comum. Eu digo surpreendentemente porque “cura” não é um termo que deveria estar relacionado à ansiedade!

Para compreender o que quero dizer, é preciso, em primeiro lugar, entender que a ansiedade não é uma doença e, por não ser uma doença, “cura” não é um termo que deveria ser utilizado em um questionamento que busca uma solução para o problema.

Vale mencionar que estamos falando aqui somente de ansiedade, não de distúrbios clínicos como síndrome do pânico, distúrbio bipolar, depressão, entre outros casos que requerem acompanhamento médico e medicação. Muitas dessas condições envolvem ansiedade também, mas são, em primeiro lugar, problemas biológicos. Nosso foco aqui com este artigo é avaliar a ansiedade comum, aquela que todo mundo enfrenta vez ou outra na vida, mas que não requer tratamento farmacológico.

A ansiedade comum é aquele sentimento de apreensão, insegurança e medo que aparece quando enfrentamos situações desconhecidas, quando as coisas não acontecem como esperado ou quando estamos esperando pelo desenrolar de certos eventos.

Essa condição não é biológica, ou seja, o que gera esse tipo de ansiedade não é um distúrbio hormonal ou químico no cérebro – o que pode ser a causa de problemas mais sérios, como depressão e bipolaridade.

A ansiedade comum nasce no “nível das ideias”, ou seja, em sua mente. Assim como a agressividade que faz com que uma pessoa perca as estribeiras e se envolva em uma briga de bar, a ansiedade comum envolve escolhas e opiniões pessoais. Comparo a ansiedade à agressividade porque é fácil julgar alguém que, estando em sã consciência, toma uma atitude agressiva, como se envolver em uma briga física. Entendemos que essa pessoa teve uma escolha e, conscientemente, escolheu entrar na briga. O cérebro dela não a fez brigar, ela fez, ela escolheu.

Com a ansiedade comum ocorre o mesmo. A pessoa ansiosa, por mais que acredite que não tem controle sobre sua ansiedade, está fazendo uma escolha. A começar pelo drama que ela faz dentro de sua própria cabeça com relação à situação: é a opinião pessoal (ou seja, as ideias, os conceitos sobre “como é” passar por alguma experiência) que dita como ela irá se sentir. Se você morre de medo de falar com estranhos em festas, você tenderá a se sentir extremamente ansioso sempre que estiver nessa situação. Seja por medo de rejeição, baixa autoestima ou más experiências passadas, o fato é que esse medo é criado em sua mente pela percepção que você tem da perspectiva de falar com estranhos. Isso não tem “cura”!

“Cura” não é um termo adequado para descrever a solução para problemas que nascem em suas ideias e conceitos.

Muitas pessoas procuram a “cura para a ansiedade” como se a ansiedade fosse como uma gripe que se pega acidentalmente por aí. Usamos a palavra “cura” quando falamos de problemas medicáveis ou tratáveis clinicamente. Não é possível tratar suas próprias ideias! Só mesmo você puder mudá-las e, através dessa mudança, alterar a raiz do que o faz se sentir ansioso.

Não há remédio que faça você mudar de time de futebol, não é mesmo?! Então, o que o faz acreditar que há remédio que “cure” a ansiedade? Se a ansiedade é um problema de opinião (assim como a sua escolha de time de futebol), é nesses conceitos que você deve mexer para alterar como você se sente no final das contas.

É importante ter consciência da gravidade do seu problema antes de procurar ou mesmo de aceitar ajuda médica. Hoje em dia, qualquer reclamação com relação à ansiedade ou depressão costuma ser medicada com remédios para ansiedade crônica e condições mais graves, que criam dependência. Se a pessoa está sofrendo de síndrome do pânico ou está à beira do suicídio, remédios não são apenas indicados, mas absolutamente necessários. No entanto, devido à leviandade com que a comunidade médica vem tratando casos de ansiedade (colocando tudo no mesmo saco e prescrevendo os mesmos medicamentos para todo mundo), é importante que você tome as rédeas da própria vida e tenha noção primeiro da severidade do seu próprio caso, sem fazer drama e, principalmente, sem qualquer ilusão de que um medicamento pode ser justamente do que você precisa. Se você sabe que seu problema não é sério, evite procurar quem lhe receite medicamentos, pois não é por aí.

É de conhecimento geral, ou seja, não é um “segredo” que remédio nenhum cura a ansiedade – ou mesmo outros distúrbios mais sérios, como depressão ou pânico. Medicamentos apenas estabilizam o paciente e têm vida curta, ou seja, o remédio deixará de fazer efeito após certo tempo de administração. Em casos graves, o medicamento é usado para que o paciente tenha condições de manter a normalidade de sua vida enquanto um trabalho paralelo é feito no nível das ideias. Se o paciente não progredir nesse aspecto, mudando os conceitos que possui e que causam a ansiedade, ele jamais poderá melhorar, uma vez que o remédio em si não resolverá o problema, não importa por quanto tempo ele seja administrado. O objetivo é que o paciente possa ter uma “mente clara e objetiva” com a ajuda dos medicamentos e, nesse meio tempo, consiga lidar proativamente com a raiz dos seus problemas.

Essa abordagem está correta e não estou aqui para criticá-la! O problema, no entanto, é que, hoje em dia, muitas pessoas que não precisam de medicação estão sendo medicadas e esse processo está dificultando a solução do problema real, pois a cultura do remédio engana muito. Muitos pacientes erroneamente acreditam que o remédio está de fato curando sua doença – não está – e quando se sentem melhor, perdem a motivação para dar prosseguimento com a terapia paralela que pode realmente resolver o problema.

A minha dica, se você ainda associa o termo “cura” à ansiedade e se pergunta se “ansiedade tem cura”, é desvincular esses dois termos e compreender que ansiedade não é uma doença para ser curada, mas uma questão de conceitos e ideias em sua própria cabeça. Se você sofre de ansiedade comum e com sinceridade avalia seu problema como “não clínico”, ou seja, se você consegue levar sua vida normal, mas tem picos de insegurança que enfatizam a sua ansiedade, você não precisa (e não deve) procurar medicamentos, nem procurar uma “cura” fora de você, pois ela não existe.

Assim como não existe “cura” para a agressividade, somente uma mudança de comportamento, também não existe “cura” para a ansiedade, somente uma mudança de conceitos que fazem com que você se sinta ansioso. Ou seja, a questão que estamos discutindo aqui é semântica. Ansiedade tem sim “solução”, mas é um erro chamar essa solução de “cura” pois ao fazê-lo você acaba desenvolvendo uma expectativa de que algo fora de você, como um remédio, poderá resolver o problema, quando na verdade, somente uma mudança de perspectiva dentro da sua cabeça pode acabar com a ansiedade.

A verdadeira cura para a ansiedade é a sua mudança íntima que fará com que você pare de fazer os dramas que o desestabilizam emocionalmente. Se você precisa de ajuda para passar por esse processo, procure um terapeuta, seja um psicólogo, um coach ou outro profissional que o ajude a navegar pelo seu universo interior. Mantenha em mente que a cura não está fora de você e que remédios jamais resolverão o seu problema. Se você tem ansiedade em níveis anormais, procure um psiquiatra e analise a possibilidade de passar por um tratamento em que a medicação é acompanhada por terapia. Nunca perca a perspectiva de que qualquer medicação terá apenas o objetivo de estabilizá-lo para que você possa pensar com clareza e que o efeito do remédio irá diminuir com o tempo. Uma vez que você siga esse caminho, é uma corrida contra o relógio para resolver o real problema antes que o remédio deixe de fazer efeito e você comece a precisar de doses cada vez maiores ou de medicamentos ainda mais fortes, o que nunca é bom!

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10 comentários em “Ansiedade tem cura?”

  1. Olha, concordo com a autora, mas vejo que é muito difícil de discutir esse ponto de vista com pessoas que “sofrem” de ansiedade. Eu já penso assim há muitos anos e já entrei em conflito com pessoas do meu convívio por argumentar que a ansiedade é coisa da cabeça da pessoa. Em primeiro lugar, como a própria autora menciona, as pessoas colocam tudo dentro do mesmo saco, e acham que ansiedade, depressao, pânico, tendência ao suicídio é tudo a mesma coisa, então quando vc argumenta que a ansiedade em si está na cabeça, os outros vem com contra argumentos drásticos, tipo “ah, então vc acha que se a pessoa está à beira do suicídio e vc vai dizer pra ela que o problema está na cabeça dela? Voce quer que ela se mate? E o que as pessoas não se dão conta é de que nem todos os casos de problemas mentais são originados da mesma forma e por isso, não podem ser tratados também da mesma forma.

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  2. Concordo contido Amanda. A autora é muito assertiva em suas colocações, mas é difícil argumentar com as pessoas esse ponto de vista, pois vivemos num mundo em que as pessoas não assumem responsabilidade por seus problemas e erros. É sempre culpa de alguém e quando o problema é com elas mesmas, então o problema é alguma coisa na “química” cerebral que está fazendo com que elas se comportem de forma indesejável e daí elas querem um remedinho. Como a autora coloca, alguns casos são sim distúrbios biológicos, mas tem muita coisa que é mesmo frescura da própria pessoa, covardia, pusilanimidade, medo e pra isso nào existe remédio ou mesmo “cura”, só a pessoa mesmo tomar vergonha na cara e enfrentar a vida.

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  3. Ainda acrescento: imagina só se nos tribunais agora, os advogados de defesa de criminosos fossem começar a alegar que assassinos, estupradores e assaltantes “sofrem” de distúrbios cerebrais que os fazem se comportar de maneira crinimosa e por isso não devem ir pra cadeia e sim tomar remédio!

    A postura que as pessoas têm na vida é escolha delas mesmas. A ansiedade é um estado de espírito gerado pela covardia. Se você tem medo de aranha, não adianta tomar remédio pra passar não é mesmo? Então se você se sente ansioso porque tem medo ou se sente inseguro, remédios, assim como o álcool ou drogas, podem disfarçar temporariamente a situação e o fazer sentir que não tem mais aquele medo, mas o efeito passa e no final das contas você se vê de novo no mato sem cachorro. E aí?

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  4. Não concordo que a ansiedade é um estado de espírito gerado pela covardia. Uma pessoa pode ficar ansiosa por diversos motivos e por não ver saída para um problema, no seu ponto de vista, fica ansiosa, mas não necessariamente é por covardia, mas por focar a questão de um angulo deturpado.
    Eu posso falar que já sofri muito com ansiedade e o que tem me ajudado muito é começar a ter mais fé no poder de Deus para ajudar a vencer o problema. Descobri recentemente que isso é uma forma muito eficaz de vc não se desesperar ou de ficar ansioso, pois se vc começa a ceitá-lo na sua vida, vc dscobre que ele pode cuidar de todas as situações que te aflige e que Ele sempre tem a saída melhor. Falo isso por experiência própria, minha mesmo, estou passando por uma questão que em outros tempos eu estaria num estado de ansiedade e desespero muito altos, mais tenho aprendido a deixar nas Mãos de Deus e ver a situação com mais clareza e calma e sabendo que o meu possível eu faço,mas que ele é Expert nos impossíveis aos homens. Experimentem, só vai saber quem provar, pois mesmo que eu falo será a minha experiência e ninguém poderá negá-la, mas para saber se com vc funciona, precisa optar por confiar Nele e deixá-lo dirigir sua vida. Não é fácil não, mas é possível, eu tenho vivido isso!

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    • Desculpa Marli, mas esse ponto de vista de se “apegar em Deus” só reforça ainda mais o que o Henrique falou sobre covardia. É como se você não confiasse em você mesma e precisasse então se autoenganar, fingindo que tem alguma força superior “cuidando” de você para que você se sinta bem.

      Esse Deus que você tanto confia deve ser um tanto descuidado, pois hoje mesmo eu fiquei horrorizada de ler no jornal sobre uma menininha de 12 anos, filha de uma família religiosa, que foi estuprada e estrangulada por um vagabundo. A família dela certamente confiava muito nesse Deus “todo poderoso” e jamais pensou que “ele” poderia deixar com que isso acontecesse com a menininha amada deles.

      A lógica em minha cabeça não me permite aceitar a ideia de Deus, por isso me levo a concordar com a autora e demais comentaristas de que a ansiedade é sim fruto da covardia e se apegar em Deus só reforça ainda mais esse medo. Se você não fosse covarde, você enfrentaria a vida com a cara e a coragem, sem precisar inventar uma figura invisível que “te protege” para conseguir viver.

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  5. Concordo plenamente com o artigo. Não sou psicólogo mas tenho pesquisas desenvolvidas na área de Recursos Humanos e os estudos comrprovam que para combater a ansiedade o fundamental é identificar suas causas e a partir dai analisá-las e desconstruir o temor que que gera a ansiedade.

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  6. Pelas opiniões acima parece que a história da vida da pessoa anciosa não é levada em conta, ou seja, que infância que pessoa teve, em que circunstâncias a mesma se desenvolveu, que situações presenciou, qual seu grau de sensibilidade já que se diz que não há dois seres humanos iguais?! Não sou formado em nada.

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  7. Ansiedade é uma deturpação da percepção da realidade.Talvez, para mudar os sintomas que são sentidos no comportamento, a principal forma é mudar o pensamento.Mudando o pensamento, mudamos o sentimento e consequentemente, mudamos o comportamento!
    Não tem como controlarmos todos os nossos pensamentos, temos em cerca, mais de 50 mil pensamentos por dia… então, devemos mudar nossa percepção.Para mudar a percepção, mudamos a interpretação!
    Devemos procucar uma interpretação da realidade que tenha a ver com superação,aprender com os erros, agir diferente de uma próxima vez… afinal, estamos aqui nessa escola da Vida para aprender!Não podemos nos punir tanto por experiências passadas… o passado, passou!Perdoe o passado!Aprenda com ele!
    Concordo com Marli também, não porque se “apegou a Deus”.Poderia ser qualquer coisa… poderia ter se apegado ao Buda,ao trevo da sorte… a questão da fé, é que a mudança acontece dentro da gente!Esse Deus que Marli se apegou… está nela! O importante é que se solucione o problema.
    Ansiedade não é uma doença, mas um problema a ser resolvido. Concordo em todos os pontos com a autora do texto. Henrique Vieira – Aviador e graduado em Administração pela Usp

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  8. Oi Elisangela Gomes, nós não podemos “afirmar” que seja assim ou assado com alguma razão que seja sobre algo que não conhecemos ao menos um pouco, então como vejo que vc não aceita a existência de Deus, qualquer argumento que eu disser aqui vc logo recusará, pois precisaria pelo menos conseguir entender do que estou falando para “afirmar” alguma coisa! As verdades bíblicas não mudarão por vc não acreditar nelas, e o sofrimento humano sempre existiu e sempre existirá e vc precisaria conhecer melhor a Deus para entender o porquê das tragédias humanas!
    Se vc considera uma pessoa covarde por crer em um Deus que se dispõe e tem prazer em nos ajudar a resolver as nossas ansiedades se angustiando e sofrendo com questões além da nossa compreensão, então eu prefiro ser esse “tipo de pessoa” que tem em Deus um Amigo que entende e ajuda e poder continuar a viver minha vida com paz, mesmo em meio as muitas dificuldades! Sendo assim, desejo a vc boa sorte com toda sua coragem e autoconfiança e tbem com todas as angústias e desesperos que vêm com elas!

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    • concordo plenamente, sem Deus nada somos , e coisas ruins que acontecem são consequencias das nossas escolhas.Em Deus nos movemos , existimos e somos.Em fim , Deus é amor.

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