Como elaborar uma declaração de visão pessoal

Viver sem uma visão clara de futuro é como navegar sem uma bússola; podemos nos mover, mas não necessariamente na direção que desejamos, mesmo que esse desejo seja inconsciente. Uma visão pessoal de futuro age como uma bússola interna, proporcionando orientação, foco e uma fonte de motivação. Ela nos permite vislumbrar um futuro mais satisfatório, mais feliz e estabelecer o caminho para tornar esse futuro realidade.

A importância de uma visão pessoal de futuro reside na capacidade de moldar nossa própria vida. Ela é uma expressão de nossos valores, ambições e esperanças; é um reflexo do tipo de pessoa que desejamos ser e da vida que aspiramos viver. Nesse sentido, uma visão pessoal de futuro é um componente crucial para nossa autoconsciência, autodeterminação e realização pessoal.

Possuir uma visão pessoal de futuro é também uma forma de exercitar nossa proatividade. Em vez de sermos meros espectadores da vida, podemos nos tornar os autores de nossa própria história. Criar uma visão pessoal de futuro é uma declaração de intenção, um compromisso conosco de que faremos o necessário para alcançar a vida que imaginamos e nos tornarmos a versão de nós mesmos que desejamos ser.

A declaração de visão pessoal é uma ferramenta poderosa para direcionar o crescimento e o desenvolvimento pessoal. Ela representa uma imagem clara e inspiradora do tipo de pessoa que desejamos nos tornar no futuro. É visão holística que abrange nossos valores, comportamentos, atitudes e relacionamentos.

É importante mencionar que a visão não é uma meta, nem um objetivo. Ela é algo mais amplo e, às vezes, até abstrato. Uma meta seria algo como “eu quero ser médico”, enquanto um objetivo poderia ser “o que me motivou a querer ser médico”, como ter uma profissão segura e rentável ou ter paixão pela área da saúde e desejar ajudar as pessoas. Diferentes pessoas podem ter motivações diferentes para querer ser médico. Essa motivação é o objetivo. Ser médico é a meta. E a visão está acima disso. A visão seria uma perspectiva mais ampla, como o tipo de pessoa que queremos nos tornar. Portanto, nesse caso, a visão que motiva alguém a escolher a profissão de medicina poderia ser se tornar uma pessoa assistencial, que lida com pessoas diariamente e cujo objetivo profissional é ajudar a resolver problemas de saúde. Isso pode levar não apenas à medicina, mas também a outras profissões relacionadas à saúde, como pesquisa científica, fisioterapia, bioquímica, farmácia, entre outras. A visão define que tipo de vida queremos ter e que tipo de pessoa queremos ser, e a partir daí surgem os objetivos e, em seguida, as metas.

Ao pensar em quem queremos nos tornar, estamos projetando uma visão que reflete nossos ideais mais elevados. Se desejamos ser mais compassivos, por exemplo, nossa declaração de visão pessoal poderia incluir imagens de nós mesmos ouvindo atentamente, expressando empatia ou participando de ações de caridade. Se aspiramos a ser líderes influentes, nossa visão pode envolver situações em que tomamos decisões estratégicas, inspiramos equipes ou fazemos discursos impactantes.

Da mesma forma, se almejamos uma vida equilibrada, a visão pode abranger imagens de nós mesmos cuidando de nossa saúde física, cultivando relacionamentos significativos, desenvolvendo hobbies ou mantendo uma prática de meditação. Cada elemento dessa visão atua como um farol, guiando nossas ações e decisões em direção a esse ideal.

Como, então, podemos elaborar essa declaração de visão pessoal?

Vamos ver alguns passos que podem nos ajudar nesse processo:

1. AUTOCONSCIÊNCIA

O primeiro passo para criar uma visão pessoal de futuro é o autoconhecimento, a consciência de quem realmente somos e o que é importante para nós.

Quais são nossos valores?

Quais são nossos talentos e habilidades?

Por outro lado, quais são nossas dificuldades?

O que nos faz felizes?

Responder a essas perguntas é essencial para formar uma visão alinhada com nossa verdadeira essência e com o que desejamos para nossa vida, evitando idealizações falsas baseadas nas expectativas dos outros ou no que acreditamos que eles esperam de nós. Esse caminho é fundamental para alcançar a verdadeira felicidade.

2. VISUALIZE SUA VIDA IDEAL

Permita-se sonhar e visualizar a vida que gostaria de viver.

Como seria um dia típico nessa vida ideal?

Como você se sentiria?

Com quem estaria?

Quais atividades estaria realizando?

Essa visualização pode ajudar a tornar sua visão mais tangível e inspiradora.

No entanto, é importante tomar cuidado para não cair na armadilha de achar que a vida ideal é apenas preenchida por clichês, como ser rico, famoso, morar numa mansão, dirigir um carrão, etc. Esses sonhos geralmente são vazios e não refletem verdadeiramente o que desejamos. Prosperidade financeira pode fazer parte de nossos objetivos e metas, mas não deve ser o único foco da visão. Devemos considerar aspectos psicológicos, comportamentais e relacionais que realmente definem quem queremos ser e como queremos viver.

3. ESCREVA SUA VISÃO

Após toda essa reflexão sobre seus valores, sonhos, objetivos e vida ideal, é importante escrever sua visão pessoal de futuro. Muitas pessoas pensam sobre isso, mas não registram em lugar algum, o que pode levar ao esquecimento. Além disso, não adianta escrever e guardar em um arquivo escondido, seja no computador ou em um caderno. A declaração de visão deve ser registrada e colocada em um local visível, pode ser um papel escrito ou impresso, para que você possa ver e ser constantemente lembrado de seu ideal de futuro. Isso mantém a motivação viva e ajuda a perseguir os objetivos e metas que construirão essa visão.

4. REVISE E REFINE SUA VISÃO

Muitas pessoas acreditam que a visão é algo fixo e que, uma vez criada, deve ser alcançada. Qualquer mudança é vista como um fracasso, como se a visão não tivesse se concretizado. Mas não é bem assim.

A visão pessoal de futuro não é algo estático, ela deve evoluir junto com você. É importante revisar essa visão regularmente, talvez uma vez por ano, e fazer ajustes conforme necessário. Uma pessoa mais jovem terá muitas mudanças nessa visão, ao contrário de alguém mais velho. Os jovens têm uma série de ambições, que às vezes são ilusórias, e pouca ideia de como suas vidas vão se transformar. Por outro lado, para uma pessoa mais madura, as coisas não mudam tanto. Na maioria dos casos, quase nada muda em relação à visão ampla de quem ela quer ser, que tipo de vida deseja ter e qual futuro quer construir.

Isso também se aplica quando alguém já conquistou uma condição de vida favorável e confortável, e tudo está do jeito que desejam.

Alguém uma vez me perguntou: “E se a pessoa já alcançou todos os seus sonhos? Se ela já é a pessoa que desejava ser? Ela não tem mais visão?”

No entanto, essa é uma perspectiva enviesada sobre o assunto. Tomemos como exemplo Steve Jobs. Talvez nos últimos anos de sua vida, ele soubesse que provavelmente morreria em breve, mas passou muito tempo no auge antes de descobrir sua doença terminal.

E então? Ele não tinha mais visão? Só porque ele estava no topo da hierarquia do mundo dos negócios e era bilionário, entre outras coisas? Não! Como mencionamos anteriormente, não podemos nos fixar em coisas superficiais como dinheiro e sucesso profissional. Sempre estamos olhando para o futuro, visualizando conquistas, mudanças e evolução pessoal. Portanto, é muito possível que Steve Jobs ainda tivesse uma visão para o seu futuro, mesmo estando em uma posição aparentemente perfeita e invejável.

A visão pode incluir, ou até mesmo deve incluir, aspectos psicológicos e comportamentais que você deseja melhorar. Isso faz parte da evolução pessoal. Por exemplo, se você percebe que não tem uma comunicação muito boa ou que fica ansioso em certas situações, e isso acaba afetando negativamente sua autoestima, você pode desejar ser diferente. Esses aspectos podem ser incorporados à sua visão.

Não importa se a pessoa é rica, pobre, bem-sucedida profissionalmente ou mora numa mansão milionária, ela pode ter questões internas relacionadas à personalidade, temperamento, comportamento e relacionamentos interpessoais que tornam sua vida menos feliz do que poderia ser. Essas questões podem fazer parte da visão. Lembre-se de que a visão está relacionada a quem você deseja ser, pois o que você é molda a vida que você tem. E quem você é é primariamente determinado pelos seus aspectos internos, não apenas pela sua vida profissional e financeira. Esses aspectos externos também podem fazer parte da visão, mas em um grau menor, porque eles são secundários em relação à sua essência. Por exemplo, no caso de um médico, ser médico é uma meta, não uma visão.

É mais fácil falar sobre profissão porque podemos dar nomes específicos, como vimos no exemplo do médico. No entanto, é mais difícil entender a visão do ponto de vista interno e psicológico, pois não temos um avatar para representá-la. A figura do médico é um avatar claro: “ser médico” – é um rótulo. Mas o que significa ser uma pessoa que se comunica bem? Isso é muito mais abstrato, não tem um avatar específico. Podemos até escolher uma figura pública ou alguém que conhecemos e definir: quero me comunicar como essa pessoa. Podemos usá-la como referência, mas ainda assim é mais difícil do que simplesmente definir questões financeiras e profissionais.

O que precisamos ter em mente é que a visão não deve ser apenas sobre isso, pois o que você faz profissionalmente é apenas uma parte da sua vida e está na superficialidade. Isso não define quem você é como pessoa. Portanto, não existe um fim para a visão, à medida que você sobe essa montanha, por assim dizer, você começa a ver coisas que não conseguia ver lá embaixo, e ao olhar para cima, você descobre ainda mais coisas para conquistar. Às vezes, essas coisas podem não ser necessariamente materiais, como mencionamos antes, mas você sabe que precisa crescer de alguma forma. Esse processo não tem um fim.

Isso não significa que você nunca estará satisfeito. É um mal-entendido comum quando se trata de planejar o futuro. Muitas vezes, as pessoas pensam que planejar é apenas para consertar algo que está errado, ou que elas não têm algo que as faça felizes. Então, quando você constrói essa vida perfeita em que você é feliz e tem tudo o que desejava, acabou. Mas isso não é verdade, esse ponto final não existe.

Se você não está tentando consertar algo, está tentando construir algo, alcançar algo, não porque você não é feliz, mas porque você busca uma felicidade futura e também porque deseja contribuir para o mundo, evoluir e ajudar os outros a evoluir também. O ponto de partida vai mudando.

No início, uma pessoa pode começar de um ponto em que sua vida está uma bagunça, há muitas coisas que precisam ser arrumadas, tanto externamente quanto internamente. Existem aspectos profissionais, financeiros, relacionais, psicológicos e cognitivos que precisam ser melhorados. Mas depois de passar por essa fase inicial, ela pode revisar sua visão a partir de um ponto em que parte dessa bagunça já foi resolvida. E em um futuro ainda mais distante, ela pode estar revisando sua visão a partir de um ponto em que todas as bagunças do passado já foram resolvidas. Sua vida não é mais uma bagunça, mas isso não significa que agora está tudo bem e que ela não deseja mais nada. Ela não vai passar o resto da vida deitada em uma rede. Isso não faz o menor sentido. Naquele ponto em que ela já resolveu todas os problemas do passado, surgem novas ideias, novos desafios, coisas que ela nem imaginava naquele passado distante. Às vezes, essas coisas não precisam ser consertadas, mas sim construídas e viabilizadas.

5. AJA DE ACORDO COM SUA VISÃO

E, por fim, mas não menos importante, precisamos começar a viver de acordo com essa visão. Portanto, como parte do processo de definição dessa visão, você deve descobrir ou definir o que precisa fazer no cotidiano para se tornar essa pessoa.

Às vezes, isso envolverá a determinação de objetivos e metas, pois o processo pode ser longo e envolver etapas. No entanto, em alguns casos, não será necessário. Por exemplo, se parte da sua visão é ser uma pessoa mais compassiva, você pode começar no momento em que perceber a falta de compaixão em seu comportamento e no tratamento com os outros.

Às vezes, vale a pena buscar informações, ler livros sobre o assunto para obter ideias do que você precisará fazer e entender quais mudanças estão envolvidas. Querer ser uma pessoa mais compassiva: o que isso envolve? Como uma pessoa compassiva se comporta no dia a dia? É útil buscar exemplos, realizar exercícios ou práticas diárias, pois é necessário incorporar isso em sua rotina.

Não adianta apenas escrever essa declaração de visão e guardá-la em uma gaveta ou arquivo de computador, enquanto continua vivendo da mesma maneira que antes. Se você reconhece a necessidade de mudança no aspecto comportamental, é preciso começar a agir hoje, não amanhã, não depois, não no próximo ano, pois, caso contrário, tudo será apenas teoria. “A teoria da minha vida”! Aqui está a visão do que eu gostaria de ser. No entanto, é apenas isso, apenas no papel, sem que eu faça nada para me transformar nessa pessoa, sem trabalhar nas metas para construir e alcançar algo concreto.

Se você não sabe como fazer as coisas, como mudar certos comportamentos, como superar problemas de personalidade ou problemas psicológicos, é necessário buscar informações e descobrir como incorporar essas mudanças em seu dia a dia.

É importante ressaltar que a visão deve ser algo que você sente que realmente deseja materializar, não uma idealização teórica de uma pessoa perfeita que vive uma vida perfeita em um mundo perfeito. A visão não deve se basear no perfeccionismo ou idealismo, mas sim ser algo real que você percebe como possível. Embora possa parecer distante em alguns casos, tudo bem, a visão não é uma meta e não precisa estar ligada ao aqui e agora, às realizações de curto ou médio prazo, mas também não deve estar fora da realidade.

Quais ações você pode tomar hoje para começar a tornar sua visão realidade?

Como você pode alinhar suas decisões e comportamentos diários com sua visão?

Ter uma visão pessoal de futuro é um elemento essencial para uma vida plena e significativa. A maioria das pessoas, quando pensa no futuro, geralmente se concentra apenas em metas relacionadas à carreira e finanças, esquecendo-se de que são seres humanos complexos e completos. Alcançar essas metas profissionais e financeiras não tornará necessariamente suas vidas mais completas ou felizes. A felicidade está muito mais ligada à qualidade dos relacionamentos interpessoais, à forma como nos sentimos em relação a nós mesmos, à autoestima, autoconfiança, autoconvicção, e ao que chamamos de “paz de espírito” – aquela sensação de consciência limpa, de trabalho cumprido (ou sendo cumprido). Isso envolve muito mais do que apenas trabalho e dinheiro. A visão é capaz de abranger a complexidade da vida, ao contrário das metas, que são mais específicas. Sem uma visão, as metas podem ficar desconectadas entre si, o que leva a desejos incompatíveis que acabam afetando os relacionamentos interpessoais, a saúde e causando estresse interno quando as coisas não se encaixam bem na vida.

A visão oferece uma direção, um sentido de propósito e uma fonte de motivação. Ao criar sua visão pessoal de futuro, você assume a responsabilidade por sua própria vida e se compromete a tornar seus sonhos e aspirações realidade. Isso terá um impacto significativo em seu bem-estar, autoestima e confiança em sua própria capacidade.

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