Esses dias li um artigo que me deixou estupefada… e revoltada. A autora, da minha geração X, relatava sua pesquisa com meninas adolescentes e jovens de diversos países ocidentais sobre comportamento sexual. Ela descreve como as meninas que hoje têm de 13 a 22 anos, tem “distribuído chupetas” como se sexo oral não fosse nada (ela compara o ato com um aperto de mão) e mantido relações com completos estranhos ou “ficantes” sem muito critério. Eu sei que hoje em dia a meninada anda “muito saidinha”, mas nunca tinha parado para pensar no assunto, até porque não tenho qualquer reserva quanto ao sexo na adolescência. Se você lê em inglês e quiser ler o artigo na íntegra, clique aqui.
Eu era adolescente nos anos 90, vivi a maior parte dessa fase sem internet. A descoberta do sexo era em revistas, livros, e conversas com amigas. A nossa ousadia era “ficar”. Pra minha mãe, beijar um estranho que eu tinha acabado de conhecer e provavelmente jamais veria novamente era o fim do mundo! Talvez a minha reação agora seja parecida! Algumas amigas perderam a virgindade cedo, geralmente com namorados, depois de vários meses (ou anos) de namoro. Não era nada de mais. Eu sempre fui aberta a sexo e só acabei não sendo sexualmente ativa na minha adolescência porque nunca rolou mesmo, não porque eu estava “me guardando” ou porque não achava certo.
Eu lembro bem da minha percepção dessa nossa “liberdade feminina”. Eu me sentia orgulhosa pois nós mulheres finalmente havíamos fechado o gap dos gêneros. Éramos livres, donas do nosso próprio nariz, podíamos ficar com quem quiséssemos, o que também podia incluir sexo. Ninguém mais “mandava na gente”. Eu sempre tive muito essa coisa de liberdade, de não deixar ninguém mandar em mim. Ficava feliz por ser parte de uma geração que valorizava a liberdade e tinha conquistado o direito de usufruí-la. O grosso da minha geração só começou a se casar depois dos 28, 29 anos. Filhos só depois dos 30. Agora, depois dos 35, já começamos até a ver uma taxa de divórcio começando a subir. Muitas das minhas amigas, inclusive eu, já somos parte dessa estatística. Não admitimos homem mandando na nossa vida. Como os homens não parecem ter “evoluído” na mesma velocidade, nós demos um pé na bunda deles. Mas isso é outro assunto…
Pois bem, o que tinha nesse artigo sobre a tal pesquisa que me deixou tão pê da vida?
As novas gerações (Milênio e Z) aparentemente são adeptos do sexo casual e, principalmente, do sexo oral substituindo a ficação da minha geração. Mais uma vez, repito que não tenho problema com sexo na adolescência, então esse não é exatamente o meu ponto! Se as meninas estivessem tendo relações ou simplesmente “chupando” garotos por vontade ou tesão, seria ótimo. Afinal de contas, a liberdade por que tanto lutamos também envolve poder transar com quem se quer, quando se quer. Mas não é por vontade própria nem tesão que as garotas das novas gerações estão abrindo as pernas e bocas para os garotos. E é isso que me deixa tiririca! Nós lutamos por liberdade e igualdade, e as novas gerações estão jogando isso no lixo!
O tal artigo falava sobre uma ampla pesquisa que avaliava os hábitos sexuais das novas gerações. Ao invés de ficar com estranhos, o que antigamente significava só beijar, hoje as garotas fazem sexo oral, como se não fosse nada. Agumas inclusive tem relações vaginais e anais com completos estranhos, como se isso significasse liberdade. Mas e não significa?
Não! Não pelo sexo em si, que ao meu ver não é grande coisa. Os adolescentes têm mais é que explorar mesmo, desde que com segurança. O grande problema fica por conta dos motivos pelos quais as garotas estão “se dando” com tanta facilidade. Se não é por vontade e tesão, é por que então?
Bom, vamos lá:
– Pressão social: se dentro do grupinho social das “amigas”, a maioria já perdeu a virgindade e/ou costuma fazer boquete em seus encontros com meninos, há uma grande pressão para que todas façam o mesmo. As que não fazem sofrem bullying das outras meninas.
– Expectativa dos meninos: Muitas garotas na pesquisa relataram que ao sair com um menino, há uma expectativa de que a garota lhe satisfaça sexualmente no final do encontro. Se a garota é virgem, ou se não quer transar, a solução é simples: chupeta! O que mais de deixou de cara foi que meninas tão novas quanto 13, 14 anos já estão fazendo sexo oral como uma forma de evitar a pressão dos meninos para transar.
– Medo de rejeição: Meninas estão praticando todo tipo de ato sexual em parceiros, mesmo ocasionais, pelo simples medo de que se não fizerem, serão rejeitadas e trocadas por outras.
– (Pásmem) evitar estupros! Sim! Meninas têm feito praticado sexo oral em seus “amiguinhos” para evitar serem estupradas! Algumas garotas relataram para a pesquisadora que ao sair com certos meninos, sabiam que havia expectativa de sexo e que se não fizessem alguma coisa para “aliviar” o cara, elas tinham medo que eles tentassem conseguir o que queriam na força. Algumas meninas chegam a ter relações de fato pois sabem que se não for consensual, será na força mesmo.
A porcentagem de meninas adolescentes que fazem sexo (incluindo oral e anal) porque têm vontade é ínfima! A grande maioria pratica alguma forma de atividade sexual para satisfazer seus parceiros (não necessariamente namorados) apenas por pura pressão. O mais incrível é que essa pressão nem sempre vem dos garotos, mas sim de outras meninas! Por outro lado, o que está se criando é uma geração de futuros homens que esperam que suas respectivas parceiras (ficantes, rolos, etc.) lhes satisfaçam sexualmente sob quaisquer circunstâncias.
Fazer sexo porque o cara espera que você lhe satisfaça não é liberdade, é o exato oposto disso! É exatamente o que as mulheres vem lutando contra há mais de 100 anos! Lutamos por liberdade em todos os sentidos, e agora as novas gerações estão novamente transformando mulheres em escravas. Os homens da minha geração cresceram aprendendo que beijar até podiam conseguir, mas qualquer coisa além disso, precisariam trabalhar duro para conseguir.
É interessante avaliar essa questão sob a luz da vida dos adolescentes em geral. As meninas não são submissas, não saem fazendo tudo o que seus “amiguinhos” pedem. Mas quando se trata de sexo, elas regridem para além da época de nossas avós (minha avó não fazia boquete nem no marido dela!), elas se tornam escravas sexuais, e estão literalmente criando uma geração de homens que continuarão exigindo satisfação sexual – sem dar nada em troca. Isso é o que é interessante, não?! O menino pede uma chupeta, goza feliz da vida, e despacha a menina. Nada de retribuir, dando prazer pra ela também! A menina, por sua vez, não acha nada de mais e continua distribuindo chupetas por aí.
O que me deixa ainda mais embasbacada é que as meninas de hoje atribuem um valor muito baixo ao sexo oral. Muitas dizem que boquete não é sexo e “não vale”, sendo que muitas garotas virgens escolhem praticar sexo oral como uma forma de “segurar” garotos sem ter que ter relações vaginais. Há ainda aquelas que pelo mesmo motivo, praticam sexo anal. E friso, fazem isso não porque gostam, porque sentem vontade, mas por pressão e submissão.
Que tipo de homem será no futuro um cara que desde os 13 recebe boquete de garotas sempre que as leva para sair? O que esperar de um cara que aprendeu desde cedo que as mulheres devem fazer tudo o que ele pede, principalmente sexualmente?
Que tipo de mulher será uma garota que desde os 13 aprende que precisa ceder sexualmente às vontade de qualquer cara com quem ela saia, porque é “isso o que eles esperam”?

Helen Peterson é psicóloga e escreve sobre saúde emocional feminina e os problemas que as mulheres enfrentam no mundo moderno.
Eu li o artigo original e fiquei com nojo dos comentários dos leitores… Não sei se isso é só na sociedade norte americana ou se no Brasil é assim também… as pessoas comentando, criticando o artigo, dizendo que não tem nada de mais essa prática pervasiva de sexo oral, muitos culpando as meninas. O problema não é a atividade sexual dos adolescentes, mas como você e o pesquisador argumentam, o fato de que as meninas estão fazendo sem vontade nenhuma, só porque elas acham que não serão populares se não fizerem, ou serão rejeitadas pelo garoto. É aquela coisa, a moça é estuprada e colocam a culpa nela… a culpa é sempre da mulher… Esse mundo me dá nojo!