Autoconfiança demais? A armadilha da autoconfianca

Franciane Ulaf

Autoconfianca demais

Algumas pessoas querem tanto uma coisa que ignoram sinais de que estão no caminho errado, geralmente se convencendo de que o caminho do sucesso é mesmo tortuoso e que elas estão então fazendo os sacrifícios necessários.

São aquelas pessoas que jamais ouvem os outros, pois “têm fé no próprio taco” e não deixam os outros a puxarem para baixo. Ou, pelo menos, é nisso que elas acreditam.

Já vi gente completamente sem noção perseguindo objetivos que jamais seriam alcançados sem olhar para os lados, sem dar ouvidos para os outros, sem ver os sinais, com a ideia fixa de que “tem lutar por aquilo que se quer”, mesmo que ninguém acredite em você.

Pois é, se às vezes ninguém acredita em você pode ser porque você está mesmo redondamente enganado e não tem a menor noção do que está fazendo ou do que está buscando.

Se você está cavando o buraco no lugar errado, não importa quão motivado você esteja, quão rápido e persistente você seja ou quão fundo você cavar, o tesouro simplesmente não está lá!

O problema é quando você confunde sua falta de noção com autoconfiança, persistência, determinação e motivação e acha que deve permanecer fiel a si mesmo, achando que os outros só ficam tentando lhe puxar para baixo quando, na verdade, eles estão tentando alertá-lo sobre os fatos. Não há tesouro algum onde você está cavando, só você não consegue enxergar, pois está ocupado demais confiando em si mesmo.

O mercado editorial é um prato cheio de exemplos de pessoas sem noção que acham que são ótimos autores e que se escreverem um livro, ficarão ricos e conhecidos. Geralmente o que vemos são autores pobres, sem qualquer habilidade necessária a um escritor e total falta de conhecimento de como o mercado editorial funciona.

O caso da pessoa que começa a escrever um livro e ignora os sinais que lhe mostram que ela não é uma boa autora ou que não faz a menor ideia de como esse universo funciona desperdiça anos de sua vida apenas escrevendo. Depois da obra pronta, desperdiça mais alguns anos enviando o manuscrito para todas as editoras conhecidas, frustrando-se ao perceber que está sendo solenemente ignorada.

Quando finalmente consegue um contrato com uma editorazinha de fundo de quintal, desperdiça mais dois anos aguardando seu livro ser publicado, só para, no final das contas, ver o livro que já lhe consumiu quase uma década de sua vida entulhado no fundo das prateleiras de uma livraria, bem longe dos olhos do público. Ele, então, se sente como a abelha que repetidamente tenta sair por uma janela fechada sem perceber que há um vidro como obstáculo. A abelha continua tentando e tentando e tentando, jamais se dando conta de que há um obstáculo ali e que, se ela continuar tentando chegar ao lado de fora repetindo a mesma ação, ela nunca terá sucesso. Esse ciclo que aspirantes a autores passam é chamado, no mundo editorial, de “ciclo do quase autor sem noção”.

O que sustenta esses autores sem noção, assim como uma infinidade de pessoas que desejam coisas como uma criança deseja ser astronauta, se deve a uma crença muito difundida na autoajuda de que todo mundo pode alcançar o que quiser, basta ser persistente o suficiente. As abelhas humanas, então, interpretam essa crença ao pé da letra e tentam atravessar janela atrás de janela sem perceber que o vidro está fechado.

O que estou defendendo não é a ideia de que não podemos alcançar tudo o que quisermos, mas, sim, de que se não soubermos como o jogo do que queremos alcançar funciona, ficaremos batendo a cabeça frustrados, pois não entenderemos o que está dando errado e, ao invés de olhar os sinais que nos mostram nossas fraquezas, manteremos nossos olhos fixos em uma só direção, acreditando ingenuamente que é assim que deve ser, que devemos ser autoconfiantes, persistentes e que não devemos dar ouvidos àqueles que duvidam de nossas ideias.

Quantas adolescentes feias têm esperança de serem “descobertas” por caçadores de talento e terem o mesmo destino de Gisele Bündchen?

Quantos empresários de primeira viagem acham que vão fazer uma fortuna sem perceber que estão levando seus negócios à falência?

Quantos românticos acham que o objetivo de suas vidas será completado no altar?

Quantas pessoas trabalham duro em seus empregos achando que isso vai levá-las a uma vida rica e realizada no futuro?

Quantas pessoas de todas as nacionalidades e idades chegam a Hollywood todos os dias esperando se tornar o próximo Brad Pitt ou a próxima Julia Roberts?

De todas essas pessoas que sonham, somente aquelas que conhecem o jogo no qual estão entrando têm chances de saírem vencedoras. As regras de todos esses jogos, seja montar um negócio bem sucedido ou ter uma carreira como ator em Hollywood, não estão escondidas ou trancadas a sete chaves, elas estão à disposição de qualquer um. Por que, então, as pessoas se aventuram na busca de seus sonhos sem tomarem conhecimento dessas regras?

Porque elas não sabem que há regras ou porque elas presumem que já as conhecem, então elas não buscam saber mais. Essas suposições que assumem como verdade são venenos em suas mentes, que corrompem sua capacidade de analisar e julgar situações, percepções e sinais no caminho.

Não caia também na armadilha de achar que não é possível saber o que você não sabe, que não existem mais informações que o ajudem a compreender e planejar seu objetivo. Hoje em dia existem livros e informações sobre absolutamente tudo o que você pode imaginar. Não há mais desculpas para a desinformação.

Informação: o ponto inicial de qualquer jornada

Hoje em dia, não há informação que não esteja disponível em livros e na internet.

Você pode estar pensando que as coisas não podem ser tão simples assim, como simplesmente ler livros, obter informações… Se fosse assim tão fácil, como tanta gente falha na vida em todas as áreas? Como você ainda está patinando no molhado?

Se tudo o que você precisa saber estivesse em livros, você já teria tomado providências. Se é assim que você está pensando, pense um pouco mais sobre esse assunto! Pense em sua própria experiência ao obter informações e aplicá-las. Quantos insights, quantas descobertas, quantas surpresas você teve ao ler artigos em revistas, livros, na internet ou ao ter escutado um palestrante em um seminário ou workshop? Se você aplicou o que aprendeu ou não, é outra história!

O fato é que todos nós temos memórias de topar com informações surpreendentes para a nossa realidade pessoal que anteriormente não sabíamos sequer existir!

Tudo neste mundo gira em torno de informações e de sua aplicação. Todas as descobertas científicas são descobertas de novas informações, novos dados que complementam ou contradizem os dados já conhecidos.

A máxima “Informação é poder” nunca foi tão real quanto nesta era que vivemos. Informação pode não resolver todos os problemas em sua vida, mas certamente o ajudará a compreendê-los e a lidar com eles de forma mais proativa e assertiva. De fato, o motivo pelo qual muitas pessoas falham em suas vidas pessoais e profissionais está relacionado ao que elas desconhecem e às suposições que adotam para substituir tudo aquilo que elas não sabem.

Esta realidade é aplicável e verificável até mesmo em um campo em que o cérebro não tem muita atuação: a vida amorosa. Vejo gente nos quatro cantos do mundo cometendo erros banais em seus relacionamentos pessoais, pois acreditam que estão fazendo a coisa certa, acreditam que é assim que as coisas funcionam. Quando o relacionamento não dá certo, ficam confusas, perguntam-se o que foi que deu errado, culpam o outro, culpam as circunstâncias e não se ligam de que certas ações, palavras e atitudes mal colocadas, baseadas em suposições incorretas, acabaram afastando a outra pessoa. É claro que há muito mais dentro desse assunto do que podemos controlar com “o que sabemos”, porém podemos evitar erros banais ao conhecermos a dinâmica dos inter-relacionamentos, da atração e de como as pessoas funcionam e pensam. Tudo isso está detalhadamente explicado em livros e em outros materiais informativos.

Ter conhecimento é apenas parte do quebra-cabeça, mas é uma parte muito importante e que é solenemente ignorada. Persistência, disciplina, motivação, organização, planejamento, tudo o mais segue a informação que você tem. Se você tem a informação errada, o resto não importa, você não poderá ter êxito. Nesse sentido, a autoconfiança pode ser uma armadilha. Se você tem confiança demais em cima da informação errada, você irá fracassar independente do que faça.

Informação, além de começar com algo simples – como um livro -, está disponível para todos em quantidade e variedade abundantes. O problema é que as pessoas geralmente ignoram que essas informações existem ou que precisam delas. É como a pessoa que quer perder peso, mas nunca obteve informações sobre como seu corpo funciona e como se conduz uma dieta bem sucedida, continuando a bater a cabeça ao agir de acordo com mitos e ideias sobre o que ela “acha” que deve fazer para emagrecer, só encontrando frustração e confusão quando o que faz não dá certo. A pessoa desconhece o fato de que há informações específicas e organizadas que ensinam como perder peso? Claro que não! Ela sabe que as informações estão disponíveis, mas ela acha que não precisa delas ou não se dá ao trabalho de procurá-las. Ela acha que o que sabe é o suficiente, mas “alguma coisa” não está dando certo e ela não sabe por quê!

Por mais simples que possa parecer, buscar informações, principalmente em livros, e organizá-las adequadamente de forma a construir um corpo de conhecimento sólido pode abrir uma enorme vantagem competitiva para você, pois pode ter certeza: quem quer que esteja competindo com você por um espaço ao sol, dificilmente é autodidata e dificilmente está buscando informações. Ser autoconfiante e persistente com a informação correta em mãos faz toda a diferença!

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3 comentários em “Autoconfiança demais? A armadilha da autoconfianca”

  1. Acredito que esse seja o grande mal da maioria das pessoas: negligenciar o conhecimento e partir para a vida acreditando que sabe tudo. Concordo plenamente com você Fran quando fala que a aquisição da informação é o principio de qualquer coisa que vá fazer.

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