Planejar ou deixar a vida levar?

Franciane Ulaf

Deixa a vida levar ou planejar

Na sociedade em geral, existe uma certa antagonia à ideia de planejamento.

A fantasia da literatura e do cinema passa uma ideia ilusória de que a vida deve ser vivida de forma espontânea, que devemos nos deixar levar e nos surpreender com as surpresas do destino, supondo ingenuamente que essa postura nos levará a viver aventuras, emoções e serendipidades positivas.

A ideia de planejamento vem dar um banho de água fria nessa expectativa de uma vida hollywoodiana. Ela passa a impressão de inflexibilidade e rigidez. É como a criança que se sente quando a mãe avisa que a brincadeira acabou e que é hora de tomar banho e ir para a cama – ah, que chato!

O planejamento o torna uma pessoa chata ou inflexível?

Livro A Vida é Tudo o Que Você Faz Com Ela - Pedro Janot
Estar no lugar certo e na hora certa é, sobretudo, fazer as coisas certas e, também, aquelas que precisam ser feitas para você alcançar o que quer.

O planejamento é frequentemente visto como algo tedioso, talvez um mal necessário, similar a ir para a escola ou sentar numa sala de espera.

Mas, apesar de ser considerado chato, não é “obrigatório”. Assim, a grande maioria das pessoas o evita como a praga e continua inocentemente esperando que aventuras hollywoodianas aconteçam em suas vidas, apesar de tais ocorrências serem raras.

Qual foi a última vez que você sentiu que sua vida estava parecendo um filme?

E com que frequência essas coisas simplesmente acontecem em sua vida?

A seguir, veremos um “depoimento” de um “detrator do planejamento” que acredita que o ideal é deixar a vida acontecer e viver intensamente no processo (relato verídico enviado por e-mail!):

Tá, eu entendo. Essas coisas não acontecem o tempo todo… eu sei… mas eu gosto de deixar as coisas acontecerem.

Parece que se eu planejar, tipo… eu vou estar tentando controlar o meu destino. Não gosto dessas pessoas… que ficam querendo controlar a vida nos mínimos detalhes. Elas não são autênticas, não são espontâneas.

Eu gosto de fazer as coisas que aparecem no momento, gosto de reagir ao momento. Se pintar algo, eu vou e faço. Se não, não fico me remoendo porque não aconteceu.

Não tenho sonhos, não sei o que quero do futuro. Quero que a vida me surpreenda. Se alguma coisa ruim acontecer, faz parte. Não acho que o planejamento poderia impedir qualquer coisa, tipo, um acidente.

A pessoa planeja lá, tudo direitinho, aí vem um acidente ou um imprevisto que coloca tudo à perder. De que adiantou planejar? Foi tudo em vão. Só perdeu tempo e ainda se decepcionou.

Então pra que planejar? Não consigo ver um bom motivo… A vida acontece pra todo mundo e essas pessoas que planejam ficam tentando forçar a barra. Não acho isso legal…

Eu sou uma pessoa espontânea, alegre, gosto de viver o momento e não penso muito no futuro. O que acontecer, aconteceu. Sou grata por tudo, de bom e de ruim que já me aconteceu.

O relato acima está repleto de mal-entendidos sobre o planejamento e preconceitos sobre quem planeja.

Livro Viva a Sua Melhor Versão
A autora ensina como equilibrar todas as esferas de sua vida sem abrir mão de suas ambições profissionais e que o caminho para realizar o seu propósito de vida está em ser um workaholic.

A pessoa acredita que pessoas que planejam não são autênticas ou espontâneas e que tentam forçar o curso do destino para fazer as coisas acontecerem.

Ela também acredita que o planejamento é uma ferramenta para tentar controlar o incontrolável e prevenir imprevistos ou acidentes.

Ela parece se sentir superior por adotar o perfil de “deixa a vida me levar” e assume até mesmo um tom presunçoso ao supor que a pessoa que planeja, mas encontra imprevistos, perdeu tempo e “ainda se decepcionou”.

Em meus 25 anos na área de planejamento de vida, já encontrei muitos indivíduos com o perfil acima. É curioso como eles realmente parecem se considerar moralmente superiores por não se preocuparem com o futuro.

Muitos dos que encontrei desfrutam de vidas estáveis de classe média, viabilizadas por uma educação privilegiada proporcionada pelos pais. Alguns são jovens, outros mais velhos. Mas, mesmo na meia-idade, talvez não percebam que a vida que levam não foi consequência do destino ou sorte, mas de privilégio social. Estão simplesmente surfando na onda em que seus pais os colocaram. Muitos são competentes em suas profissões (graças à boa educação que receberam) e possuem uma vasta rede de contatos para ampliar seu leque de opções e amenizar o impacto de qualquer imprevisto.

Este grupo demográfico tem renda suficiente para satisfazer seus desejos de lazer e entretenimento. Muitos viajam anualmente ao exterior e vivem em residências lindamente decoradas.

Apesar de muitas dessas pessoas estarem estagnadas, elas estão estacionadas em lugares bastante confortáveis na vida e contam com sistemas de apoio robustos, de modo que qualquer imprevisto ou perda não é sentido com tanta intensidade.

Ocasionalmente, esses mundinhos são abalados de forma mais drástica. Uma doença séria, como um câncer, ou um divórcio podem fazê-los refletir sobre o que estão fazendo com suas vidas.

É quando a vida perde o sentido que nos damos conta da nossa própria responsabilidade sobre ela.

Tudo parece maravilhoso quando a vida vai bem. Essa ideia de que “aconteça o que acontecer, seja bom ou ruim, está tudo bem” é uma ilusão! Quando algo muito sério ocorre, aqueles que adotam a postura de deixar a vida levar levam um susto.

Putz, e agora?!

“Eu não tenho um plano para a minha vida! Eu não tenho nada, não sei nada, não sei para onde estou indo. E aí? O que eu faço?”

É nesse ponto que eles vêm até mim. “Eu preciso de um plano para a minha vida! Preciso de uma direção!”

Um dos maiores erros que esse grupo comete — e aqui incluo também outras faixas sociais, todos que acreditam que a vida é melhor vivida de forma “espontânea” — é acreditar que o planejamento tira a flexibilidade e torna a pessoa de alguma forma menos autêntica e incapaz de espontaneidade.

Planejamento não tem nada a ver com personalidade. A pessoa que é espontânea por natureza continuará se comportando dessa forma, quer ela planeje ou não.

O planejamento também não inibe a espontaneidade, já que continuamos tendo liberdade de fazer o que quisermos, independentemente de qualquer plano. Posso planejar dormir em São Paulo na minha viagem até o Rio de Janeiro, mas ao encontrar amigos em Curitiba, resolvo ficar mais um dia e então depois dirigir direto para o Rio. Uma decisão espontânea. Mudei meus planos para acomodar a vontade de curtir com meus amigos.

O planejamento também não tira a autenticidade da pessoa. Essa é uma ideia completamente equivocada, decorrente de preconceitos infundados expressos por pessoas que não entendem direito o que é planejar a vida e para que serve essa ferramenta de planejamento.

Autenticidade é outro traço de personalidade e não está ligada ao planejamento (ou à falta dele). Esse preconceito vem da ideia de que, se a pessoa “planeja a vida”, então ela deve planejar cada movimento e se recusar a fazer qualquer coisa que não esteja nos planos.

Mas isso não é verdade. Planejar a vida significa direcionar seu empenho, força de trabalho e decisões mais sérias de acordo com seus valores mais importantes e uma visão abstrata de futuro.

Eu, por exemplo, quero manter a minha vida de nômade digital. Adoro não ficar presa a lugares nem ter responsabilidades locais como emprego fixo, e poder viajar e morar em qualquer lugar do mundo pelo tempo que quiser. Com base nisso, eu não aceitaria uma oferta de emprego em um local qualquer, mesmo que fosse muito boa. Minha visão e valores estão norteando minha tomada de decisão.

Aliás, meu exemplo pessoal ilustra muito bem como é possível “viver intensamente”, explorar o mundo de forma espontânea, viver sem amarras e, mesmo assim, ser uma pessoa que gosta demais de planejar!

Vou escrever mais sobre isso em breve por aqui, fique ligado!

Quanto à flexibilidade, a realidade chega a ser inacreditável para alguns.

Há uma crença de que, ao se comprometer com um caminho no planejamento, você não consegue ser flexível se precisar.

Isso não é verdade.

Quebrando o hábito de ser você mesmo - Joe Dispenza
Dr. Joe Dispenza combina os campos da física quântica, neurociência, química cerebral, biologia e genética para mostrar como reconstruir sua mente.

Pelo contrário, o processo de planejamento lhe mostra diversas opções disponíveis. Você escolhe uma delas, mas não se esquece das outras. Em uma situação em que sua opção original não é mais possível, você consegue, com muito mais rapidez, adotar uma das outras opções, pois já conhece as alternativas.

A pessoa que não planeja vai seguindo o caminho às cegas. Ela não tem nenhuma flexibilidade! Se algo acontece e aquele caminho se fecha, ela não sabe o que fazer. Perderá um tempo enorme tentando descobrir alternativas e poderá inclusive desistir, colocando tudo a perder.

Ela se ilude ao pensar que, ao não planejar, todos os caminhos estão abertos e ela pode fazer qualquer coisa.

Se você se perde em uma trilha e não tem um mapa na mão, não adianta “ver” vários caminhos ao seu redor ou ter a liberdade de ir em qualquer direção; você não sabe qual deles pegar.

A ideia romântica de que é mais prazeroso viver a vida sem planos é, portanto, apenas uma tolice ligada a preconceitos culturais, mal-entendidos e simples falta de conhecimento sobre o que realmente significa planejar a vida.

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4 comentários em “Planejar ou deixar a vida levar?”

  1. Fran, valeu pelas dicas, acredito que a internet precisa de artigos relevantes com esse que agregam muito valor para as pessoas que buscam orientação. Essa questão do planejamento é fundamental.

    Responder
  2. Com um planejamento, consigo visualizar cada etapa de meus projetos, seja pequeno ou grande. Tenho as ações e finanças sobre controle o que me facilita alterar com segurança e garantir a chegada ao objetivo final. Dificuldades? Elas fazem parte da caminha de cada um de nós.

    Ana Alice

    Responder

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