Como ser mais criativo?

James Clear

Como ser mais criativo

Como ser mais criativo? Vamos desconstruir alguns mitos e entender o que realmente significa ser criativo.

Em 1666, um dos cientistas mais influentes da história estava passeando por um jardim quando foi atingido por um flash de brilho criativo que mudaria o mundo.

Enquanto estava sob a sombra de uma macieira, Sir Isaac Newton viu uma maçã cair no chão. “Por que essa maçã sempre deveria descer perpendicularmente ao solo?”, Newton se perguntou. “Por que não deveria ir para o lado ou para cima, mas constantemente para o centro da Terra? Certamente, a razão é que a terra o atrai. Deve haver um poder de atração na matéria.”

E assim nasceu o conceito de gravidade.

O Obstáculo é o Caminho - Ryan Holiday
Ryan Holiday ensina o leitor a transformar adversidades em vantagens e alcançar o sucesso.

A história da maçã caindo tornou-se um dos exemplos duradouros e icônicos do momento criativo. É um símbolo do gênio inspirado que preenche seu cérebro durante aqueles “momentos eureca” quando as condições criativas são ideais.

O que a maioria das pessoas esquece, entretanto, é que Newton trabalhou em suas ideias sobre a gravidade por quase vinte anos até que, em 1687, publicou seu livro inovador, Principia: Os Princípios Matemáticos da Filosofia Natural. A queda da maçã foi apenas o começo de uma linha de pensamento que continuou por décadas.

Newton não é o único a lutar com uma grande ideia há anos até chegar a uma brilhante conclusão.

A criatividade é um processo, não um evento único

O pensamento criativo é um processo para todos nós. Nem Newton, nem Eistein, nem nenhum outro gênio da humanidade simplesmente teve algum lapejo de criatividade do nada, sem ter antes passado anos trabalhando arduamente no mesmo problema.

Quebrando o hábito de ser você mesmo - Joe Dispenza
Dr. Joe Dispenza combina os campos da física quântica, neurociência, química cerebral, biologia e genética para mostrar como reconstruir sua mente.

Mas nem precisamos falar desses gênios. Em nosso dia a dia, facilmente acreditamos que não somos criativos porque não conseguimos ter ideias brilhantes para resolver problemas com os quais não temos a menor intimidade. Eu nunca montei websites. Quando fui tentar me aventurar a montar o meu e o resultado foi uma porcaria, eu não consegui resistir à ideia de que eu simplesmente não sou criativo. Quantos websites lindos por aí, e eu não consegui chegar nem perto. Mas é claro que eu não consegui! Eu nunca havia construído um website antes! Como eu poderia achar que de repente, do nada, sem qualquer experiência, eu acordaria o James criativo dormente que existe em mim e criaria um website fantástico?

A pior coisa que podemos fazer é pegar essas experiências e usá-las como evidência de que não somos mesmo criativos. Não consegui construir um website maravilhoso, logo, não sou criativo! NÃO!!! O correto seria eu ter admitido que simplesmente não tinha qualquer experiência em construção de websites, logo, não poderia ter criado qualquer coisa decente.

Parece óbvio, mas quando estamos passando pela situação, temos essas reações de não nos acharmos criativos quando temos um desempenho fraco e não nos damos conta de que o problema não é falta de criatividade, é falta de experiência!

Também usamos a falta de criatividade como desculpa. Quantas vezes você usou um “ah, eu não sou muito criativo!” para justificar um resultado porcaria. Mas a realidade é que simplesmente lhe faltava experiência.

As pessoas têm uma ideia fantasiosa e ilusória de que a criatividade é algo que aparece espontaneamente, mas isso está longe de ser verdade. Pensamos que a pessoa criativa já nasce assim e que ela demonstra sua criatividade em tudo o que toca. Pensamos que se fôssemos realmente criativos, demonstraríamos esse “dom” logo de primeira ao tentar fazer algo. Estamos redondamente errados!

Para ser criativo, você precisa aprender a nutrir ideias no longo prazo, ideias que funcionarão como sementes e se desenvolverão para que eventualmente sua criatividade possa desabrochar e você possa vivenciar lampejos criativos, inovadores, originais. Somos criativos nas áreas em que temos experiência, nas coisas que já conhecemos profundamente.

Neste artigo, vou compartilhar a ciência do pensamento criativo, discutir quais condições impulsionam a criatividade e quais a impedem, e oferecer dicas práticas para se tornar mais criativo.

Pensamento criativo: destino ou desenvolvimento?

O pensamento criativo requer que nosso cérebro faça conexões entre ideias aparentemente não relacionadas.

É uma habilidade com a qual nascemos ou que desenvolvemos através da prática? Vamos dar uma olhada na pesquisa para descobrir uma resposta.

A Arte de Pensar Claramente – Rolf Dobelli
Dobelli descreve os erros cognitivos comuns que levam a distorções no pensamento e na tomada de decisões, fornecendo estratégias para pensar mais claramente e tomar decisões mais sábias.

Na década de 1960, um pesquisador de desempenho criativo chamado George Land conduziu um estudo com 1.600 crianças de cinco anos e 98% das crianças pontuaram na faixa “altamente criativa”. O Dr. Land testou novamente cada criança durante incrementos de cinco anos. Quando as mesmas crianças tinham 10 anos, apenas 30% pontuaram na faixa altamente criativa. Esse número caiu para 12% aos 15 anos e apenas 2% aos 25 anos. À medida que as crianças se tornavam adultas, elas efetivamente tinham sua criatividade treinada. Nas palavras do Dr. Land, “o comportamento não criativo é aprendido”.

Resultados semelhantes foram observados por outros pesquisadores. Por exemplo, um estudo com 272.599 alunos descobriu que, embora as pontuações de QI tenham aumentado desde 1990, as pontuações de pensamento criativo diminuíram.

Isso não quer dizer que a criatividade seja 100% aprendida. A genética desempenha um papel. De acordo com a professora de psicologia Barbara Kerr, “aproximadamente 22% da variação [na criatividade] se deve à influência dos genes”. Essa descoberta foi feita estudando as diferenças no pensamento criativo entre pares de gêmeos.

Tudo isso para dizer, alegar que “eu simplesmente não sou do tipo criativo” é uma desculpa muito fraca para evitar o pensamento criativo.

Certamente, algumas pessoas são naturalmente mais criativas do que outras. No entanto, quase todas as pessoas nascem com algum nível de habilidade criativa e a maioria de nossas habilidades de pensamento criativo são treináveis.

Agora que sabemos que a criatividade é uma habilidade que pode ser aprimorada, vamos falar sobre por que – e como – a prática e o aprendizado impactam sua produção criativa.

Inteligência e pensamento criativo

O que é necessário para liberar seu potencial criativo?

As pessoas mais criativas não são necessariamente as mais inteligentes. Em vez disso, você simplesmente tem que ser inteligente (não um gênio) e então trabalhar duro e praticar deliberadamente, ganhando experiência em alguma área. É a experiência e prática que o levará a ter mais insights e criatividade em uma área.

Contanto que você tenha um mínimo de inteligência (talvez Forrest Gump não conseguisse ser muito criativo!), a criatividade estará ao seu alcance. Nas palavras de pesquisadores de um estudo de 2013, “obtivemos evidências de que, uma vez que o limite de inteligência é atingido, os fatores de personalidade tornam-se mais preditivos para a criatividade”.

Mentalidade de crescimento

O que exatamente são esses “fatores de personalidade” aos quais os pesquisadores se referem quando se trata de impulsionar seu pensamento criativo?

Um dos componentes mais críticos é como você vê seus talentos internamente. Mais especificamente, suas habilidades criativas são amplamente determinadas pelo fato de você abordar o processo criativo com uma mentalidade fixa ou construtiva.

As diferenças entre essas duas mentalidades são descritas em detalhes no livro fantástico de Carol Dweck, Mindset: A Nova Psicologia do Sucesso.

Mindset: A nova psicologia do sucesso
A atitude mental com que encaramos a vida, que Dweck chama de “mindset”, é crucial para o sucesso. Um bom livro para mudar paradigmas importantes.

A ideia básica é que, quando usamos uma mentalidade fixa, abordamos as tarefas como se nossos talentos e habilidades fossem fixos e imutáveis. Acreditamos que somos ou não somos criativos e não há muito o que fazer se não formos. Acreditamos que as pessoas já nascem com certos talentos. Um é inteligente, outro é criativo para as artes, outro tem jeito para matemática e assim por diante. A mentalidade fixa nos faz pensar que se não nascemos com uma habilidade estamos fadados a não sermos bons naquilo para o resto da vida. É o mito do talento. Algumas pessoas nascem talentosas, outras não. Azar delas. Se somos nós os azarados, é uma pena. A vida é assim mesmo…

Em uma mentalidade construtiva, no entanto, acreditamos que nossas habilidades podem ser aprimoradas com esforço e prática. Acreditamos que podemos facilmente nos empurrar em uma direção ou outra com base em como falamos e elogiamos nossos esforços. Não acreditamos no mito do talento, acreditamos que mesmo que algumas pessoas tenham algumas facilidades naturais para algumas áreas e tarefas, todos podem aprender e desenvolver e até mesmo serem melhores do que os que “nasceram com talento”. Acreditamos que bom desempenho é fruto de esforço, não de talento nato. Por esse motivo, estamos mais predispostos a arregaçar as mangas e aprender mais, desenvolver aqueles traços que são fracos ou que ainda não dominamos.

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Aqui está um breve resumo nas palavras de Dweck:

“Todo o movimento da autoestima nos ensinou erroneamente que elogiar a inteligência, o talento, as habilidades fomentariam a autoconfiança, a autoestima e tudo de bom viria em seguida. Mas descobrimos que o tiro sai pela culatra. Pessoas que são elogiadas por seu talento se preocupam quando são chamadas a realizar tarefas difíceis, em assumir responsabilidades e não parecerem talentosas, manchando sua reputação. Então, em vez disso, eles ficam em sua zona de conforto e ficam realmente na defensiva quando encontram contratempos.
Então, o que devemos elogiar?

O esforço, as estratégias, a obstinação e persistência, a coragem que as pessoas mostram, a resiliência que mostram diante dos obstáculos, que se recuperam quando as coisas dão errado e sabem o que tentar em seguida. Acredito que uma grande parte da promoção de uma mentalidade de crescimento no local de trabalho é transmitir esses valores de processo, dar feedback, recompensar as pessoas que se engajam no processo, e não apenas um resultado bem-sucedido”.

—Carol Dweck

O que Dweck expressa é que ao elogiar talento nato (“você é tão inteligente!”, “nossa, como você é criativo!”), principalmente crianças, acaba gerando na pessoa um medo de falhar. Fulano pensa que eu sou muito inteligente, vai que eu faço isso agora e acabo me dando mal? Melhor não fazer nada! O elogio, ou a valorização do talento nato, solidifica a mentalidade fixa. A pessoa nasceu assim e pronto, ela é assim.

Só que essa mentalidade fixa torna a pessoa um tanto ansiosa e temerosa de que os outros possam descobrir que ela não é realmente tudo aquilo que pensam que ela é (afinal de contas, todos nós sabemos que no fundo não somos assim tão qualquer coisa, mas não queremos que os outros vejam se eles pensam que somos muito melhores do que realmente somos). A mentalidade fixa é uma das origens da síndrome do impostor.

Contudo, Dweck explica que elogiar esforço tem o efeito oposto e, principalmente em crianças, estimula a mentalidade de crescimento. Quando você elogia o esforço, o trabalho duro, a persistência, você está estimulando a pessoa a se esforçar ainda mais, a dar tudo de si e procurar obter ainda melhores resultados. Porém, não há uma ansiedade ligada a esse processo pois não há uma sugestão implícita de que a pessoa tenha nascido assim (inteligente, criativa, talentosa, ou o que quer que seja).

O que está implícito é que o resultado positivo foi fruto de esforço e que, sendo assim, qualquer pessoa que também se esforce pode alcançar o mesmo resultado. E da mesma forma, se a pessoa deixar de se esforçar, ela perde o resultado, ao contrário da mentalidade fixa que incute a ideia de que se a pessoa nasceu assim, ela sempre obterá resultados bons, quer se esforce ou não.

Constrangimento e Criatividade

A Coragem de Ser Imperfeito
Um ótimo livro para aprender a se sentir confortável com a imperfeição

Como podemos aplicar a mentalidade construtiva para ser mais criativo na prática? Na minha experiência, tudo se resume a uma coisa: a disposição de passar vexame ao realizar uma atividade.

Como diz Dweck, a mentalidade construtiva está mais focada no processo do que no resultado. Isso é fácil de aceitar na teoria, mas muito difícil de seguir na prática. A maioria das pessoas não quer lidar com o constrangimento ou vergonha que muitas vezes é necessário para aprender uma nova habilidade. Elas querem se sair bem logo de cara. Daí aquela ilusão tola de que a pessoa que é realmente talentosa, se sai bem logo de primeira. Se elas sabem que não vai ser o caso, elas evitam a atividade. Elas não querem ser vistas como “não talentosas”.

A lista de erros dos quais você nunca pode se recuperar é muito curta. Pense em algo como um piloto de avião ou um cirurgião. Mas em nossas vidas cotidianas, temos uma liberdade enorme para cometermos todos os tipos de erros sem maiores consequências. Por que não aproveitamos?

Acho que a maioria de nós percebe isso em algum nível. Sabemos que nossas vidas não serão destruídas se aquele livro que escrevemos não vender, se formos rejeitados por um par romântico em potencial ou se esquecermos o nome de alguém quando o apresentarmos. Não é necessariamente o que vem depois do evento que nos preocupa. É a possibilidade de parecer estúpido, de se sentir humilhado, de passar vergonha ou de lidar com o constrangimento ao longo do caminho que nos impede de começar.

Para abraçar totalmente a mentalidade construtiva e aumentar sua criatividade, você precisa estar disposto a agir diante desses sentimentos que tantas vezes nos empatam.

Como ser mais criativo

Supondo que você esteja disposto a fazer o trabalho árduo de enfrentar seus medos internos e superar o fracasso, aqui estão algumas estratégias práticas para se tornar mais criativo.

Defina limites

Restrições cuidadosamente projetadas são uma de suas melhores ferramentas para estimular o pensamento criativo. Dr. Seuss escreveu seu livro mais famoso quando se limitou a 50 palavras. Os jogadores de futebol desenvolvem conjuntos de habilidades mais elaborados quando jogam em um campo menor. Os designers podem usar uma tela de 3 por 5 polegadas para criar designs melhores em grande escala. Quanto mais nos limitamos, mais engenhosos nos tornamos. Quando tentamos fazer tudo, atender tudo, aprender tudo, sem qualquer senso de limitação, acabamos sobrecarregados pelas possibilidades e desistimos.

Escreva mais

O Caminho do Artista - Julia Cameron
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Por quase três anos, publiquei um novo artigo todas as segundas e quintas em meu website pessoal. Quanto mais eu cumpria esse cronograma, mais percebia que precisava escrever sobre uma dúzia de ideias comuns antes de descobrir uma brilhante. Ao produzir um volume de trabalho, criei uma área de superfície maior para uma centelha criativa me atingir.

Não está interessado em compartilhar sua escrita publicamente? A rotina Páginas Matinais de Julia Cameron (escrever 3 páginas de ideias livres todo dia de manhã) é uma maneira fantástica de usar a escrita para aumentar sua criatividade, mesmo que você não tenha a intenção de escrever para outras pessoas. O hábito de fazer um diário também pode ajudar muito.

Amplie seus conhecimentos

Uma das minhas estratégias criativas de maior sucesso é me forçar a escrever sobre temas e ideias aparentemente díspares.

Por exemplo, tenho que ser criativo ao usar estratégias de basquete dos anos 1980, um software de processamento de texto antigo ou budismo zen para descrever nosso comportamento diário. Nas palavras do psicólogo Robert Epstein, “Você se sairá melhor na vida se ampliar seus conhecimentos”.

Considerações finais sobre como ser mais criativo

A criatividade é um processo, não um evento. É realmente importante entender isso! Não podemos esperar criatividade de nós mesmos se não percorremos o processo de desenvolvimento em uma área.

Criatividade não é apenas um momento eureka. Você precisa superar as barreiras mentais e os bloqueios internos. Você tem que se comprometer a praticar seu ofício deliberadamente. E você tem que ficar com o processo por anos, talvez até décadas como Newton fez, para ver seu gênio criativo florescer.

Não adianta tentar uma coisinha aqui, outra ali só pra ver se você leva “jeito” praquilo. Essa é a mentalidade fixa. Você está esperando descobrir algum talento em alguma área para começar do topo, sem passar vergonha, sem errar, sem ter que construir seu aprendizado.

Esqueça isso! Comece por baixo, errando, aprendendo, desenvolvendo, praticando.

Escolha bem as suas batalhas! Você não pode ser criativo em tudo.

Mas isso também significa que não podemos ser criativos em tudo, afinal de contas, temos tempo limitado e não podemos praticar de tudo esperando ter boa desenvoltura em uma variedade grande de coisas.

Precisamos deixar a vaidade de lado e reconhecermos que jamais seremos bons em uma porção de coisas. Mas se escolhermos algumas poucas coisas para nos dedicarmos profundamente, podemos chegar no nível de criatividade genial que estamos buscando.

A chave aqui é entender que a criatividade brotará de sua experiência com algo. Quanto mais experiência você acumular, mais criativo será naquela área.

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