Como ser perspicaz? O guia completo para desenvolver a perspicácia

Como ser perspicaz?

Aperte os cintos! Este é um mega artigo que aborda os aspectos mais importantes para nos tornarmos mais espertos e engenhosos. Se não tiver tempo agora para investir na leitura deste conteúdo, sugiro que o guarde, imprima ou se inscreva no site para poder retornar e continuar sua jornada. Prometo que será uma leitura que valerá a pena!

A perspicácia é a habilidade de captar as coisas rapidamente, compreender com poucas palavras, encontrar soluções criativas e inusitadas, pensar de forma inovadora.
No artigo anterior (O que é perspicácia?), conversamos sobre como é importante o desenvolvimento da perspicácia para o sucesso pessoal e profissional e como a postura contrária, por mais ingênua que seja, como a simples falta de atenção, pode acumular erros que terminam por comprometer as possibilidades de sucesso na vida.

O QUE É PERSPICÁCIA?

A perspicácia é uma qualidade mental admirada em diversos contextos, desde as interações sociais até as decisões empresariais. É a habilidade de compreender situações, pessoas e nuances, muitas vezes com uma rapidez impressionante. A pessoa perspicaz é aquela que pega as coisas no ar, que entende com meias palavras, que, em linguagem popular, “é esperta”.

Ser perspicaz significa ser capaz de antever consequências, identificar oportunidades ocultas e resolver problemas complexos com uma combinação de inteligência, intuição, criatividade e raciocínio estratégico.

Como vimos no artigo anterior, essa habilidade não se resume apenas à inteligência bruta, mas também à sensibilidade para enxergar além do óbvio e conectar ideias aparentemente desconexas.

A pessoa perspicaz observa detalhes que outros podem ignorar e interpreta corretamente os sinais sutis, sejam eles verbais ou não verbais. Além disso, a perspicácia envolve um elemento de criatividade e inovação, pois frequentemente requer a proposição de soluções não convencionais para os desafios enfrentados.

No mundo dos negócios, por exemplo, a perspicácia é frequentemente sinônimo de sagacidade comercial, onde o líder precisa não apenas entender o mercado em que atua, mas também antecipar mudanças, adaptar-se rapidamente e tomar decisões que posicionem a organização à frente de seus concorrentes.

Em contextos sociais, ser perspicaz pode significar a habilidade de ler o ambiente e adaptar comportamentos para melhor se conectar com os outros, negociar ou influenciar resultados favoráveis.

COMO SER PERSPICAZ?

Como desenvolver aquele ar de James Bond, aquela capacidade tenaz de entender com meias palavras, pensar rápido e fazer o que precisa ser feito no momento certo?

Se perspicácia é sinônimo de esperteza, desenvoltura e engenhosidade, não falta vontade de desenvolver esse traço, não é mesmo?!

Como ser perspicaz se eu não sou super inteligente?

Você não precisa ser um gênio!

Se você acredita que jamais poderá ser realmente perspicaz, pois não é tão inteligente, saiba que a ciência já mostrou que a população em geral possui uma variabilidade muito pequena em termos de inteligência. Gênios com QI altíssimo são muito, muito raros. Além disso, perspicácia não é o forte dessas pessoas. Há pessoas analfabetas com alto nível de perspicácia, portanto não se sinta desanimado. Qualquer pessoa pode se tornar mais perspicaz.

A inteligência mediana que a maioria de nós tem é plenamente suficiente para desenvolver e manifestar uma perspicácia estilo Sherlock Holmes. Nós apenas precisamos aprender como usar as ferramentas cognitivas certas. Ou seja, precisamos aprender a pensar de forma lógica, eficaz, livre de viéses cognitivos e precisamos desenvolver uma postura proativa diante dos problemas e desafios.

Para ser mais perspicaz, a primeira atitude é reconhecer o problema

Você se identificou com as situações que descrevi no artigo anterior? Você achou que estava falando sobre você? Se você se vê descrito como desatento, reativo, frustrado e dependente de ajuda externa, admita que não está utilizando seu potencial e sua inteligência da melhor forma possível.

É fundamental evitar adotar uma postura de autovitimização, como “ah, eu sou idiota mesmo” ou “eu não sou tão inteligente assim”. Perspicácia e, principalmente, proatividade são habilidades que se desenvolvem e se aprendem na prática, não são dotes que trazemos do berço.

Você pode sentir o impulso de continuar se escondendo por trás de suas dificuldades, simplesmente dizendo “Ah, eu não sou bom nisso mesmo”, ou “Eu sempre tive dificuldade em prestar atenção”, mas é importante que você perceba que esses pequenos obstáculos, aparentemente insignificantes, podem estar comprometendo seu sucesso na vida.

Sentir-se mal consigo mesmo é uma das maiores motivações para realizar mudanças interiores, mas não podemos permitir que essa sensação se transforme em desânimo e nos faça desistir do aprendizado.

Diagnóstico: no que você precisa trabalhar e melhorar para ser mais perspicaz?

Para entender em que você precisa trabalhar para desenvolver sua perspicácia, identifique abaixo os maiores problemas que você enfrenta no cotidiano:

• Eu sinto muita frustração ao não conseguir resolver problemas ou quando as coisas não funcionam como deveriam logo de cara.
• Tendo a procrastinar quando me deparo com um problema difícil ou que não consigo resolver imediatamente.
• Tenho dificuldade em priorizar e acabo fazendo muita coisa que não é importante no momento, deixando passar prazos e perdendo tempo.
• Quando olho para o passado consigo identificar várias decisões erradas e fico me perguntando: o que é que estava pensando?
• Tenho dificuldade de saber o que dizer. Me pego falando coisas que não devo, ou não falando quando deveria me manifestar ou me defender.
• Tomo muitas decisões por impulso e depois reflito e percebo erros e vacilos.
• Sinto que nem sempre entendo o que as pessoas querem dizer.
• Preciso que as pessoas me expliquem as coisas em detalhes e com exemplos para que eu entenda bem.
• Quando encontro um problema ou desafio, minha primeira reação é pedir ajuda.
• Tenho um pensamento muito literal e tenho dificuldade de entender as nuances das coisas.
• Sinto que sou lento para reagir a mudanças e acabo perdendo oportunidades.
• Tenho problemas com desatenção, fico devaneando e depois percebo que perdi muito do que aconteceu.
• Percebo que outras pessoas pescam as coisas no ar e eu fico sem saber o que está acontecendo.
• Nem sempre entendo quando as pessoas usam humor, ironia ou sarcasmo.

Você se identifica com algumas dessas afirmações?

Cada uma delas aborda um conjunto de características relacionadas à perspicácia. Algumas estão ligadas à comunicação, outras à rapidez de raciocínio e outras à proatividade. A perspicácia não é um traço único que podemos desenvolver diretamente. Ela é composta por diversos fatores que, juntos, nos tornam pessoas mais “espertas”:

• Atenção: Essencial para captar detalhes e nuances do ambiente que muitos podem não perceber. A habilidade de focar e observar detalhadamente é fundamental para formar uma compreensão abrangente das situações.
• Proatividade: Estar à frente das situações, agir antes de ser necessário, e a capacidade de improvisar soluções inovadoras (como destacado nos personagens MacGyver e James Bond), são aspectos da engenhosidade que definem pessoas perspicazes.
• Comunicabilidade: Mais do que simplesmente falar, é a habilidade de comunicar-se de forma eficaz, dizendo a coisa certa no momento certo, além de ser capaz de decodificar as mensagens subtextuais em comunicações de outras pessoas, compreendendo plenamente o que está sendo dito e o que fica implícito.
• Qualidade e rapidez do raciocínio: A capacidade de pensar clara e rapidamente, analisar informações e tomar decisões informadas e lógicas sob pressão.
• Capacidade de reflexão: A habilidade de ponderar e refletir sobre experiências e informações, aprender com erros e sucessos, e adaptar-se com base nessa reflexão.

Ao aprimorar cada uma dessas habilidades, você pode aumentar significativamente sua perspicácia. Concentrar-se em melhorar esses aspectos pode ajudar não apenas na resolução de problemas cotidianos, mas também no planejamento estratégico pessoal e na tomada de decisões críticas em contextos mais complexos, tanto em sua vida pessoal e social quanto no trabalho.

COMO SER PERSPICAZ COM HÁBITOS PRODUTIVOS E EFICAZES?

Um dos maiores desafios para pessoas pouco perspicazes são seus hábitos descuidados, como ignorar instruções, não observar detalhes e não raciocinar com discernimento e lógica.

Esses hábitos que promovem a perspicácia geralmente não são inatos; ou seja, não nascemos com eles. Podemos até dizer que algumas pessoas já têm essa habilidade “de fábrica”, mas a maioria de nós a desenvolve ao longo da vida. Isso se manifesta por meio de práticas como buscar informações, prestar atenção aos detalhes, associar ideias aparentemente desconexas e raciocinar com lógica e discernimento.

É importante ter em mente que os hábitos demandam um exercício constante de força de vontade para serem desenvolvidos e alterados, e essa mudança não acontece da noite para o dia.

Esse exercício de força de vontade também será muito útil na questão da atenção. Se você é uma pessoa desatenta, se beneficiará desse esforço de atenção contínuo.

Esta é uma tarefa desafiadora para pessoas que enfrentam esse problema, pois a preguiça mental tende a surgir sempre que elas se esforçam para fazer algo de forma disciplinada, mesmo que seja apenas prestar atenção no momento presente de maneira consistente.

Livros recomendados para desenvolver hábitos produtivos e eficazes

• Hábitos Atômicos – James Clear

Um mega best-seller internacional que encapsula o melhor do que James Clear aprendeu e ensina sobre hábitos. Um conceito crucial que Clear apresenta é que são as pequenas mudanças que, ao longo do tempo, geram os resultados mais significativos. Isso é o que ele define como “hábitos atômicos” – pequenas ações que realizamos diariamente.

Se esses hábitos forem improdutivos e ineficazes, gradualmente nos levam a resultados fracos e indesejáveis na vida. Por outro lado, se forem produtivos e eficazes, nos ajudam a construir não apenas uma vida bem-sucedida, mas também feliz, já que a felicidade reflete nossos resultados e como nos sentimos conosco mesmos.

• O Poder do Hábito – Charles Duhigg

Talvez a maior autoridade mundial em hábitos atualmente, Charles Duhigg nos apresenta argumentos sólidos que explicam como os hábitos formam padrões que moldam cada aspecto de nossas vidas. Sucesso e fracasso são consequências de comportamentos e atitudes ao longo do tempo, não são eventos isolados.

Uma vida bem-sucedida é o resultado de hábitos cultivados ao longo de anos. Duhigg nos orienta sobre quais são esses hábitos e como construí-los.

Desenvolva o hábito de ler instruções

Ler instruções e prestar atenção em detalhes é um hábito essencial. Acostume-se a ler os manuais de instruções de objetos e eletrônicos que você utiliza com frequência, assim como as bulas de medicamentos (você sempre deve saber o que está colocando dentro do seu corpo e o que deve esperar em termos de efeitos colaterais!).

Ao realizar uma atividade que exige um procedimento específico, leia cuidadosamente as instruções e assegure-se de que compreendeu tudo antes de prosseguir. Desenvolva o hábito de sempre ler as instruções de tudo que utilizar, comprar ou que envolva regras e procedimentos.

Muitas das frustrações cotidianas das pessoas com equipamentos e eletrônicos derivam do desconhecimento sobre seu funcionamento. Em vez de consultar o manual, elas acabam gastando tempo, às vezes horas, tentando consertar ou fazer algo funcionar, o que inevitavelmente as afeta emocionalmente. Esses estados emocionais podem transformá-las em verdadeiras bombas-relógio. Que tal participar ativamente de uma reunião após passar as últimas duas horas sem sucesso tentando fazer uma impressora imprimir?!

Desenvolva o hábito de buscar informações

Ler instruções não é a única forma de evitar confusão e frustração. Muitas vezes queremos fazer algo ou resolver um problema sem saber exatamente como proceder ou direcionar nossos esforços. No entanto, em vez de buscar mais informações, muitas pessoas insistem em usar a tentativa e erro.

Às vezes, as respostas podem ser facilmente encontradas na internet ou com uma pesquisa rápida em livros, mas alguns preferem lidar com a frustração e continuam sem entender o que estão fazendo. Eu tinha um professor que usava a expressão ‘dar murro em ponta de faca‘—parece que tem gente que gosta…

Para atividades que realizamos com frequência ou que pretendemos levar a sério, como escrever um livro ou montar um negócio, é ideal mergulhar fundo em livros, fazer cursos e explorar o que está disponível sobre o assunto na internet. Conhecer todas as facetas de uma área aumenta significativamente as chances de sucesso e aguça nossa perspicácia, enriquecendo nosso repertório de informações, o que favorece a associação de ideias e a criatividade.

COMO SER PERSPICAZ MANTENDO A ATENÇÃO NO PRESENTE?

Outro problema que interfere significativamente na capacidade de manter a atenção focada e perceber os detalhes que passam despercebidos é o hábito de devanear excessivamente. Os devaneios, como temos discutido bastante aqui no site, são comuns e normais. Todo mundo devaneia. No entanto, há um ponto em que os devaneios se tornam prejudiciais, interferindo na capacidade da pessoa de conduzir suas atividades de forma eficaz e ser produtiva. Os devaneios também desviam nossa atenção do mundo exterior e afetam negativamente nossa capacidade de interagir e se envolver com o ambiente ao nosso redor.

Se você acredita que possa estar vivenciando o transtorno de devaneios excessivos, faça o teste aqui.

Para mais informações, veja a playlist de devaneios excessivos do Guia da Vida no YouTube.

Desenvolvendo a atenção para aumentar a perspicácia

A atenção é fundamental para a perspicácia, pois permite perceber detalhes e nuances que muitos ignoram. Desenvolver uma atenção mais aguçada pode transformar sua capacidade de resposta em qualquer situação, desde a análise de dados até a interação social. Aqui estão algumas estratégias para cultivar essa habilidade vital:

1. Práticas de mindfulness: Mindfulness, ou atenção plena, é uma técnica poderosa para melhorar a concentração e a consciência do momento presente. Práticas regulares de mindfulness podem ajudar a calibrar sua atenção, tornando-a mais afiada e controlada. Isso envolve exercícios de meditação focados na respiração, na observação de pensamentos sem julgamento e na percepção consciente dos sentidos.

2. Exercícios de foco: Treinar seu cérebro para se concentrar em tarefas únicas sem se distrair é outra forma eficaz de aprimorar a atenção. Isso pode ser feito através de técnicas como blocos de tempo dedicados exclusivamente a uma tarefa, uso de aplicativos que limitam distrações digitais ou simplesmente estabelecer um ambiente de trabalho livre de interrupções.

3. Treinamento de observação: Aumentar sua capacidade de observação pode ser tão simples quanto praticar jogos ou atividades que exijam atenção aos detalhes.
Jogos como quebra-cabeças, sudoku, ou até atividades como observação de aves, podem afinar sua habilidade de notar pequenos detalhes que outros podem perder.

4. Exercícios de escuta ativa: Atenção não se aplica apenas ao que você vê, mas também ao que você ouve. Praticar a escuta ativa em conversas—focar inteiramente no falante, fazer perguntas pertinentes e refletir sobre o que foi dito—pode melhorar significativamente sua habilidade de captar informações cruciais em diálogos e reuniões.

Esta habilidade pode ser a diferença entre “pescar” as nuances da comunicação ou deixar passar detalhes importantes que o tornariam mais perspicaz.

Ao invés de simplesmente esperar sua vez de falar e ficar pensando no que vai dizer, experimente prestar atenção integralmente no que a outra pessoa está tentando comunicar.

5. Redução do multitasking: Embora muitos considerem o multitasking uma habilidade valiosa, ele pode de fato prejudicar a atenção e a qualidade do trabalho. Concentrar-se em uma tarefa de cada vez não só melhora a qualidade da execução, mas também aprofunda sua capacidade de focar, o que é essencial para desenvolver perspicácia.

6. Prática regular e feedback: Como qualquer outra habilidade, a atenção melhora com a prática regular. Defina metas específicas para suas práticas de atenção e procure feedback de colegas, mentores ou treinadores sobre seu progresso. Isso pode ajudar a identificar áreas para melhoria e consolidar os ganhos de habilidade.

Livros recomendados para desenvolver a atenção e controlar devaneios

• O Método Silva de Controle Mental – José Silva

José Silva desenvolveu um método de desenvolvimento mental nos anos 60 que se tornou febre nas décadas seguintes. O livro que registra seu método foi um dos maiores best-sellers ao longo dos anos 80 e 90 e agora vivencia um renascimento numa época em que precisamos desesperadamente de técnicas para combater a dispersão mental, a desatenção e o estresse causado pela quantidade de estímulos a que somos submetidos diariamente.

• Atenção plena (Mindfulness): Como encontrar a paz em um mundo frenético – Mark Williams e Danny Penman

Um dos melhores livros sobre mindfulness. Se você vivencia muitos devaneios que te tiram do momento presente e te impedem de permanecer focado, a técnica de mindfulness pode ajudá-lo a aprender a domar seus pensamentos e acalmar a mente.

COMO SER PERSPICAZ PENSANDO COM CLAREZA E DISCERNIMENTO

Uma característica marcante da pessoa perspicaz é sua capacidade de pensar rápido, concatenar ideias e entender um contexto com profundidade. Essa habilidade não surge espontaneamente; ela é cultivada através de prática deliberada e constante aprendizado.

Aprender a ser perspicaz envolve não apenas absorver uma grande quantidade de informações, mas também desenvolver a capacidade de discernir quais são relevantes e como podem ser aplicadas de maneira eficaz nas mais variadas situações.

Um passo crucial no desenvolvimento da perspicácia é aprimorar a clareza do pensamento. Isso pode ser alcançado através de exercícios de reflexão crítica, que ajudam a mente a se desembaraçar de preconceitos e a focar no que é essencial. Além disso, é fundamental adotar o hábito de questionar continuamente as próprias suposições e as dos outros, buscando sempre entender o porquê das coisas.

Isso é algo, é claro, que supera muito o objetivo deste artigo, então vou deixar aqui algumas dicas de livros que abordam esse tema e podem ajudá-lo a “aprender a pensar melhor”:

• A Arte de Pensar Claramente – Rolf Dobelli

Dobelli aborda os viéses cognitivos mais comuns, que são aquelas regras “ilógicas” (aparentemente lógicas) que usamos para tomar decisões e entender o mundo, mas que, na verdade, nos levam a cometer erros e a interpretar tudo de maneira equivocada. Diria que compreender esses viéses cognitivos, para não cairmos vítimas deles, é o primeiro passo para aprender a pensar de forma mais eficaz.

• Apaixone-se pelo problema, não pela solução – Uri Levine

Um dos segredos do pensamento eficaz e estratégico é compreender que nem sempre a solução reside em resolver um problema específico. Ao desviar nossa atenção das tentativas diretas de solucionar um problema, podemos perceber que a solução que buscamos pode ser alcançada por outros meios. O best-seller de Uri Levine, cofundador do Waze, demonstra como o foco na solução pode nos tornar mais criativos e eficazes.

• Atitude Mental Positiva – Napoleon Hill

Apesar de ser um livro de autoajuda, Atitude Mental Positiva, que aliás é um dos maiores best-sellers dos últimos 100 anos, nos ensina a abrir mão da mentalidade autovitimizadora, pessimista e derrotista que fomenta a frustração, a desistência e a falta de proatividade.

Se queremos ser mais perspicazes precisamos aprender a ter uma atitude mais eficaz diante dos problemas, ao invés de ficar choraminhando porque não entendemos, não sabemos, o Fulano de Tal não sei que…

O próprio autor foi uma figura extremamente perspicaz, tendo entendido muitas nuances do comportamento humano muito antes da psicologia moderna.

COMO SER PERSPICAZ SE TORNANDO MAIS PROATIVO?

Proatividade é aquela característica que nos impulsiona a tomar iniciativa, buscar oportunidades e assumir o controle, em vez de esperar ser liderado, receber instruções ou permissão.

Aprofundo o tópico da proatividade e dou dicas para desenvolvê-la no artigo https://guiadavida.com.br/psicologia/desenvolver-a-proatividade/

Uma pessoa proativa assume responsabilidade pela própria vida. Em vez de perder tempo culpando os outros ou as circunstâncias, ela parte para a ação e se concentra em suas próprias atitudes, em vez de se preocupar com o que os outros estão fazendo errado, o que os outros não sabem ou como os outros estão afetando sua vida.

Claro que nem tudo é nossa culpa. No entanto, o lema do proativo é ignorar a busca pela culpa e concentrar-se exclusivamente na busca pela solução. Isso o torna muito mais eficaz, rápido e assertivo.

Agora, imagine uma pessoa assim no mercado de trabalho, como empreendedora ou estudante.

Ela não adquire uma vantagem competitiva significativa em relação aos demais? Certamente!

Enquanto outra pessoa está coçando a cabeça tentando entender por que não foi promovida ou por que suas ideias não funcionam, o proativo está crescendo e construindo uma reputação como solucionador de problemas, alguém que não cria drama e é altamente eficaz.

Por que a proatividade é tão importante no contexto da perspicácia?

Porque para ser perspicaz é necessário despir o contexto de viéses cognitivos que distorcem a realidade e nos fazem adotar uma postura passiva, reativa e antagônica.

A perspicácia demanda velocidade no processamento das informações, assim como clareza na interpretação do contexto. Para pegar as coisas no ar e entender com meias palavras, a pessoa precisa engajar o raciocínio lógico, sentir-se autorizada para pensar fora da caixinha e ter uma resposta ou solução em cima do lance.

O que é o contrário da proatividade? Como é uma pessoa que não é proativa?

Há dois aspectos da falta de proatividade: a reatividade, ou reagir exageradamente aos acontecimentos e a passividade, ou esperar ao invés de agir.

O reativo é aquele que compra um produto, comete erros bobos e daí entra em contato com a empresa dizendo que vai processá-la porque o produto não funciona!

Pessoas reativas geralmente são muito arrogantes, pois como elas não percebem seus próprios erros, elas automaticamente acham que seus problemas foram causados pelos outros e se acham no direito de botar a boca no trombone e reclamar até não poder mais. O site ReclameAqui, por exemplo, apesar de seu papel importante no combate às fraudes e serviço ruim, está repleto de reclamações postadas por pessoas reativas que não entendem, logo o problema é do produto.

Acostume-se, então, a sempre se questionar quando se deparar com um problema: O que foi que eu deixei passar? O que eu não percebi? O que eu não notei? O que eu fiz de errado? O que eu não estou entendendo?

Faça isso evitando ao máximo uma postura de vitimização e frustração, não se deixe alterar emocionalmente ao tentar solucionar problemas. Esse turbilhão de emoções só atrapalha e ofusca o raciocínio.

Procure manter a frieza e adote a postura de tentar diversas soluções, uma a uma, até você encontrar a certa. Evite o impulso de pedir ajuda. Não há nada de errado em pedir ajuda, mas na fase de “recuperação” de um reativo – quando você está tentando aprender a ser proativo -, evite lançar mão de facilidades que tiram sua responsabilidade de cena e tornam as coisas mais fáceis para você. Uma dessas facilidades é obter ajuda alheia. Tente resolver tudo sozinho e só peça ajuda quando realmente for coerente e a solução estiver fora do seu alcance. Se o pedido de ajuda estiver vindo de uma condição emocional de frustração e desespero, pare! Controle-se primeiro e tente resolver o problema sozinho.

Procure compreender situações e problemas de uma forma profunda. Pessoas pouco perspicazes têm a tendência a ver o mundo de forma muito superficial, elas não conseguem enxergar nada com profundidade. O que isso significa? Ver as coisas de forma superficial é, por exemplo, assumir uma verdade qualquer e, sem pensar muito, achar que é assim e pronto. Essa pessoa tem dificuldade de argumentar ideias, por exemplo. Ela não consegue explicar com lógica e clareza por que ela pensa do jeito que pensa, ela só diz que é assim e pronto. É por que é! Porque foi assim que ela aprendeu, porque “não sei quem” disse, porque está escrito na Bíblia, porque sempre foi assim, enfim, a pessoa é incapaz de elaborar argumentos complexos, ela se apega a ideias já formadas pelos outros e as usa como se fossem dela.

Se você se pegar fazendo isso, comece o caminho inverso. Por que eu penso assim? De onde eu tirei essa ideia?

Se sua resposta for muito simplista, do tipo “Porque eu sempre fiz assim”, ou “Porque fulano disse”, ou “Porque está na Bíblia”, comece a raciocinar em cima dessa ideia de forma mais lógica, comece a olhá-la com mais clareza. Se você não conseguir, busque mais dados e informações que embasem ou refutem a ideia que você tem sobre o assunto. Se você não consegue elaborar um argumento forte e convincente, você está sendo superficial, você está se apegando a uma ideia pronta por conveniência, insegurança ou simples robotização (todo mundo pensa assim, todo mundo faz assim, meus pais me ensinaram assim, etc.).

O hábito de raciocinar com lógica e clareza ajuda, e muito, na solução rápida de problemas e na manutenção de um estado emocional frio e inabalável que substitui a frustração e a ansiedade e evita o estresse gerado pelo amontoado de problemas sem solução do dia a dia.

Livros recomendados para desenvolver a proatividade

• Faça o que tem que ser feito e não apenas o que te pedem: Um manifesto para tornar seu trabalho mais significativo e gratificante – Bob Nelson

Este é um livro fantástico para quem possui uma mentalidade passiva e reativa, e enfrenta dificuldades para tomar a iniciativa, ser criativo e liderar a si mesmo. Nelson afirma que o maior erro na vida é pensar que trabalhamos para alguém. Em última análise, todos trabalham para si mesmos, mesmo que o salário venha de outra pessoa.

Adotar essa perspectiva de liderança pessoal nos incentiva a encarar nossa vida como o resultado de nossas próprias ações, não das ações de outros. Claro, nem tudo que acontece é culpa nossa, mas ainda assim podemos escolher como responder. Pessoas proativas são como os heróis das histórias que, ao invés de se lamentarem, tomam ação e salvam o dia. Bob Nelson nos inspira a ser essa pessoa.

• #umdiasemreclamar: Descubra por que a gratidão pode mudar a sua vida – Davi Lago e Marcelo Galuppo

Um problema sério entre as pessoas reativas e passivas é a tendência de reclamar muito. Elas reclamam do mau tempo, da situação do país, da guerra lá não sei onde, dos colegas de trabalho, das elites que não pagam impostos, dos “jovens de hoje” e… vou ficar até amanhã aqui listando só as reclamações mais comuns!

Lago e Galuppo nos incentivam a nos tornarmos mais conscientes desse comportamento. Reclamamos sem perceber. Todo mundo reclama e ficamos reclamando e concordando uns com os outros. Se você faz isso, PARE!

Seu futuro e bem-estar dependem de você largar mão desse hábito besta! Parar com a ingratidão das lamentações aumentará incrivelmente sua proatividade.

COMO SER PERSPICAZ EVITANDO A DISPERSIVIDADE?

Um dos piores hábitos das pessoas desatentas e pouco perspicazes é a dispersividade.

A dispersividade se manifesta em dois níveis: micro e macro.

No nível micro, enfrentamos dificuldades para manter o foco. Esse é o tipo que nos interessa discutir aqui.

No nível macro, a dispersividade leva a pessoa a mudar constantemente de caminho na vida, resultando em um padrão de zigue-zague que não a conduz a lugar algum.

A dispersividade diária, no nível micro, faz com que a pessoa passe o dia pra lá e pra cá e não consiga produzir muito. A pessoa está fazendo uma coisa agora. Dali a pouco, outra coisa chama a atenção dela e ela para o que está fazendo. Pouco depois, é outra, e outra, e mais outra, e a pessoa passa o dia inteiro assim, saltitando, geralmente na frente do computador, fazendo de tudo, mas fazendo nada especificamente. O tempo passa e a pessoa não produziu nada de concreto, produtividade zero.

Não fez o que deveria fazer, mas fez um monte de coisas inúteis, não relacionadas entre si. Lá se foi um tempo precioso que jamais voltará! No final das contas, a pessoa nem sequer lembra onde foi parar seu tempo, ela fez tantas coisas insignificantes que não consegue se lembrar de tudo o que fez, só lembra que o dia passou e ela nem viu.

Nem sempre as atividades são insignificantes, mas por serem feitas de forma desordenada, não sistematizada, há uma perda enorme de produtividade.

A dispersividade, o que inclui o hábito de multitarefar, fomenta a desatenção, o que diminui consideravelmente a capacidade de ser perspicaz. Lembre-se que a perspicácia exige atenção aos detalhes e compreensão de todo o contexto. Mas isso fica muito difícil quando o foco muda constantemente.

Para evitar a dispersividade, o ideal é criar sistemas, rotinas e procedimentos. Isso também ajuda a evitar erros por falta de atenção e displicência, pois você se habitua a seguir seus sistemas predefinidos, fazendo as coisas mais organizadamente.

Livros recomendados para superar a dispersividade

• Trabalho focado: como ter sucesso em um mundo distraído – Carl Newport

Uma das maiores dificuldades que enfrentamos na vida moderna é a constante enxurrada de estímulos e solicitações externas. Entre e-mails, mensagens, redes sociais, telefonemas, notícias, e as próprias demandas do trabalho, família e vida social, parece que a única solução para manter o foco seria fugir para uma ilha deserta!

No livro Trabalho Focado: Como Ter Sucesso em um Mundo Distraído, Cal Newport destaca a importância do “trabalho profundo”, um estado de concentração intensa e livre de distrações. Ele oferece dicas práticas para cultivar essa habilidade essencial, permitindo-nos alcançar maior produtividade e sucesso.

• Essencialismo: A Disciplinada Busca por Menos – Greg McKeown

Um guia sobre como identificar o que é realmente essencial, eliminando tudo que é desnecessário e focando no que realmente importa.

Greg McKeown não nos oferece apenas um livro sobre produtividade ou um simples guia de autoajuda. Este livro é um manifesto sobre a importância de ser seletivo sobre onde direcionamos nossa energia limitada.

No mundo atual, superlotado de informações e demandas, McKeown argumenta que a chave para alcançar eficácia e satisfação não está em como fazer mais em menos tempo, mas em fazer apenas o que é verdadeiramente essencial.

CONCLUSÃO

Em suma, a perspicácia é mais do que uma simples habilidade cognitiva; é uma forma de ver e interpretar o mundo que exige proatividade, foco e organização. A pessoa perspicaz economiza enormes frustrações e tempo ao compreender rapidamente como as coisas funcionam. Além disso, ela é capaz de analisar as situações de forma mais profunda, o que lhe confere poder e oportunidade para contribuir com opiniões, soluções, críticas, perguntas e ideias criativas.

No mercado de trabalho, indivíduos perspicazes são percebidos como mais inteligentes, ágeis, eficientes e competentes, sendo preferidos em promoções e oportunidades. Como empreendedora, uma pessoa perspicaz identifica soluções rapidamente, tem facilidade para inovar e ser criativa, o que lhe proporciona uma vantagem competitiva significativa em relação aos concorrentes.

Com uma personalidade perspicaz, os caminhos se abrem consideravelmente para construir uma vida de sucessos.

Franciane Ulaf

Franciane Ulaf é administradora e psicóloga, especializada em psicologia evolutiva. Atualmente, Franciane é mestranda em psicologia na Universidade de Harvard. Sua linha de estudos investiga as raízes evolutivas da natureza humana. Franciane escreve sobre comportamento humano, produtividade, psicologia, biologia e evolução.