Como fazer escolhas

Franciane Ulaf

Pessoas que se interessam em ler um artigo como esse têm um de dois problemas (ou ambos): costumam fazer escolher erradas com muita frequência ou sofrem de “eterna indecisão”, tendo dificuldade para se definir de um lado ou do outro do muro.

Ambos os problemas geralmente têm a mesma raiz: uma incerteza com relação a quem se é e o que se quer da vida. Quando não sabemos direito quem somos e o que queremos, tendemos a fazer más escolhas e ao mesmo tempo, temos medo de escolher, pois olhamos para o nosso passado e vemos que não somos muito bons nessa “coisa de decidir”.

Nessa, corremos o risco de cairmos em algumas armadilhas. A primeira delas é deixar os outros escolherem por nós, sejam parentes, amigos ou pessoas a quem atribuímos autoridade. Muita gente me procura pedindo “meus conselhos” em situações em suas vidas. A intenção é tirar de mim a “escolha certa”, pois o raciocínio é: se eu sou uma “autoridade” no assunto, então eu “devo” saber qual a opção correta! Mas isso é pura ilusão! Eu sei da minha vida, não da sua e jamais poderia lhe dar um conselho no que diz respeito às decisões que você deve tomar em sua vida – e eu realmente não faço isso, não dou conselhos, nem sequer uma “opinião pessoal” sobre os problemas dos outros. Mas é claro que muita gente, se consultada, não hesita em dar pitaco na vida alheia, sejam profissionais da área ou não.

Para uma pessoa insegura, isso é muito negativo, pois o conselho pode soar muito razoável e lógico e ela pode se deixar influenciar e de fato, colocar em prática o que ouviu. O risco de “dar errado” não é o problema aqui, mas sim, a abdicação do poder pessoal. Quem aceita conselho dos outros está abrindo mão do próprio poder de escolher, como se fosse incapaz de tocar a própria vida e dá ao outro o poder: você que supostamente sabe mais que eu, decida e me diga: o que eu devo fazer? Essa postura tem um efeito dilascerador na autoestima e torna a pessoa cada vez mais insegura e dependente dos outros.

A segunda armadilha é postergar a tomada de decisão até um possível ultimato, se vier a ocorrer – se não, existe a possibilidade da decisão jamais ser tomada. Impulsividade é um problema sério, mas esperar eternamente e nunca tomar uma atitude não é a solução. Na realidade, não escolher é também uma escolha, já que a vida continua e existem consequências quer façamos escolhas, quer não.

Um traço de pessoas indecisas é querer demais, o que popularmente defininmos como “gula”, não só com relação a alimentação. Essa característica é raramente abordada quando se fala nesse assunto, mas é observável em pessoas que têm dificuldade para decidir entre opções boas. É como a criança que não consegue escolher entre o sorvete de chocolate e o de morango, pois ela quer ambos e não quer abrir mão de nenhum dos dois.

Quando o problema é uma decisão que envolve um risco de que algo indesejável ocorra, geralmente o culpado é um medo exagerado causado por uma uma ideia descolada e exacerbada do que pode ocorrer se algo der errado, o que resulta em ansiedade e naturalmente leva a pessoa a postergar a decisão.

Nesse caso, a melhor solução é simplesmente tomar mais decisões, com mais frequência e ver com os próprios olhos que nada é “tão ruim” mesmo quando “tudo” dá errado. O medo se perde quando é enfrentado.

Mas nem todos os casos de dificuldade para escolher estão ligados a um simples medo de que as coisas não dêem certo. Voltamos ao nosso ponto inicial então: quando não sabemos quem somos e o que queremos, a dificuldade para tomar decisões é natural, pois não temos um guia sólido na qual possamos embasar nosso processo mental e consequentemente escolher com segurança.

Quando tomamos decisões, mesmo as mais simples, como o prato a ser pedido no restaurante ou a roupa a ser usada num dia chuvoso, nós passamos as possibilidades por um filtro. Esse filtro funciona como um guia que define nossas preferências. Essas preferências são ditadas por nossas experiências passadas, nosso gosto pessoal, as necessidades do momento e as circunstâncias. Quando precisamos tomar decisões com relação ao nosso futuro, mas não encontramos dados suficientes em nosso acervo mental, o resultado é a indecisão.

Tentar buscar um autoconhecimento “completo” antes de tomar qualquer decisão importante é fantasia, ninguém se conhece tão bem e não é preciso tanto. O que é necessário é ter uma boa ideia de quem você é como pessoal, seu papel no mundo, o que você adota como propósito e o que você intenciona fazer com a própria vida. Isso é básico, se você não tem uma boa noção acerca desses itens, você tem um problema sério! Incerteza quanto a esses itens não afeta somente a tomada de decisão, mas o senso de autoconfiança e autoestima, terminando por afetar toda a sua vida como um todo.

Agora, não coloque muita pressão em cima desses itens. Pense nos diversos bobalhões superautoconfiantes que você conhece! Eles estão por toda a parte e eles têm muita certeza de quem são e do que querem da vida (mesmo que estejam completamente errados!). Veja que é possível que tudo o que sabemos e pensamos sobre nós mesmos e nossas vidas pode eventualmente estar tudo errado! Nós seres humanos não sabemos muito… Adotar uma postura autoconfiante, muitas vezes, é apenas uma questão de abrir mão da dúvida sobre o que você pensa ser e simplesmente abraçar quem você é, sem medo de estar errado.

Ainda temos outro problema que gera o medo de tomar decisões: a bendita felicidade. Há pessoas que tem tanto medo de tomar uma decisão que não as faça feliz, que elas hesitam e não escolhem nada na maior parte do tempo. O fantasma da infelicidade pode ser realmente tão poderoso a ponto de travar o poder de escolha e a solução para este problema especificamente vai muito além do escopo deste artigo. O que posso recomendar aqui é evitar usar a felicidade como filtro, pois primeiro, nós realmente não sabemos o que nos fará felizes no futuro e segundo, esse tipo de embasamento torna as pessoas “mimadas” – se você só está preocupado em “ser feliz”, você perde muito da vida e ainda deixa de contribuir verdadeiramente com o mundo à sua volta.

No final das contas, fazer escolhas certas é uma questão de que saber o que você está procurando com o resultado da decisão e continuar se movendo em direção aos seus objetivos.

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4 comentários em “Como fazer escolhas”

  1. Olá Fran.

    Acompanho seus artigos já faz um bom tempo, e li todos seus livros também. Certamente foram decisivos para a vida que tenho hoje.

    Como funcionou para mim, tenho a “mania” de passar este ponto de vista para outras pessoas, sobre tomar as rédeas da própria vida e fazer a vida valer a pena. Porém cheguei a conclusão, talvez polêmica, que a grande maioria das pessoas, no fundo, querem ser lideradas. Querem ter alguém que decida por elas e vivem bem com isso. Veja, não digo que é melhor ou pior ter uma personalidade submissa, apenas penso que isso é uma característica natural das espécies que vivem em comunidade, incluindo nós humanos.

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    • Julio,

      A Fran sempre diz que não tem nada no mundo que seja “bom pra todo mundo” no sentido de que nem todo mundo quer “viver carpe diem”. Essa vida é para bem poucos, o resto gosta mesmo é de se acomodar e ser liderado.

      abraços,

      Camilla

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  2. Acredito mesmo que a grande questão é o medo de se autoconhecer, nós sempre estamos visualizando o mundo mental do outro, percebendo seus pontos fortes e limitantes, entretanto, não utilizamos essa prática para olharmos nosso interior, nossos sonhos, nossos talentos, nossas dificuldades etc. Assim, fantasiamos nosso mundo e na maioria das vezes abdicamos de conduzir nossa vida pelo caminho escolhido.

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  3. Eu acho que me confronto com situações do género,como escolher ou decidir, peço conselhos,mas ainda assim,tenho grandes dificuldades de tomar decisões.
    qual será o problema?

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