Por que planejar a vida? Planejamento de vida realmente funciona?

Franciane Ulaf

Por que planejar a vida

Algumas pessoas apresentam certa resistência quando o assunto é planejamento de vida.

Dentre as objeções mais comuns estão a crença de que planejar a vida não funciona, que suas vidas estão nas mãos de Deus ou do destino, que não se pode controlar o futuro, e que a vida é mais interessante se não tentarmos interferir em seu curso natural.

Vamos endereçar essas objeções neste artigo.

Friso que planejar a vida não significa controlar cada passo e viver como um robozinho autoprogramado.

Planejar a vida significa saber onde estamos, aonde queremos ir e como chegar lá.

Livro A Vida é Tudo o Que Você Faz Com Ela - Pedro Janot
Estar no lugar certo e na hora certa é, sobretudo, fazer as coisas certas e, também, aquelas que precisam ser feitas para você alcançar o que quer.

Não são poucas as pessoas que passam a vida reclamando que nunca conseguem o que querem, que seus sonhos nunca se realizam. São aquelas pessoas que, quando você pergunta como está a vida, elas falam da correria, da falta de tempo, da situação do país. São essas mesmas pessoas que adotam uma postura reativa em relação à vida, esperam que as soluções para seus problemas caiam do céu, reclamam da vida e do destino, não raro pedem para terceiros – sejam santos, parentes, amigos, políticos – resolverem seus problemas e cruzam os braços. Nada fazem por si mesmas, não tomam atitude alguma para saírem da situação da qual tanto reclamam.

Essas pessoas lideram o grupo dos que são contra o planejamento. Utilizando argumentos que não fazem sentido, são contraditórios e baseados em falsidades, elas se autoenganam e perdem a chance de tomar controle sobre suas vidas, impedindo-se de construir um futuro mais feliz e gratificante.

Vamos dissecar cada uma dessas objeções:

1. Planejar a vida não dá certo

  • De onde vem isso?
  • De onde a pessoa tirou que “planejar a vida não funciona”?

EXPERIÊNCIA PESSOAL: Algumas pessoas tentam planejar de forma muito rudimentar (quero perder peso e planejo ir à academia três vezes por semana) e, quando suas intenções não se realizam, atribuem o fracasso ao planejamento. Mas será que não ter disciplina para manter o programa de emagrecimento é culpa da ferramenta?

Planejamento Estratégico Para a Vida - Wunderlich & Sita
A vida deve ser intensamente aproveitada para valer a pena. E não há tempo que volte e seja capaz de apagar decisões inadequadas com desdobramentos nem tão desejados.

De qualquer forma, a pessoa fica com essa “má impressão” do planejamento e passa a alardear para todos que “planejar a vida não funciona”.

EXPERIÊNCIA ALHEIA: Algumas pessoas adquirem esse preconceito contra o planejamento de vida ao observarem outros planejando e falhando. Às vezes essas “observações” são apenas suposições sobre o que aconteceu ou resultado de relatos de terceiros.

Nossas conclusões acerca de nossas próprias experiências e as experiências alheias são poluídas por vieses cognitivos e preconceitos pré-existentes.
O famoso “já fiz e não deu certo” é uma das piores formas de tomar decisões futuras. As coisas podem não dar certo por uma série de razões, a maioria delas internas. Ou seja, nós mesmos é que falhamos ao tentar fazer dar certo.

A experiência alheia é ainda mais elusiva. Não sabemos o que a pessoa realmente fez ou deixou de fazer. Simplesmente acreditar na história que ela conta é tolice. A própria pessoa pode não ter noção da real trajetória que a levou a fracassar.

CONCLUSÃO: Obtenha dados estatísticos para tirar melhores conclusões (ex. dê uma olhada no que pesquisas dizem sobre as chances de sucesso ou porcentagens do que você quer saber). Jamais se baseie em sua própria experiência ou na experiência isolada de terceiros para tirar qualquer conclusão sobre a realidade. Se a maioria das pessoas que planeja obtém sucesso, isso é evidência de que planejar a vida funciona. A prova sempre está nos números.

2. Não posso planejar a vida. Minha vida está nas mãos de Deus ou do destino

12 Regras Para a Vida
Peterson oferece doze princípios profundos e práticos sobre como viver uma vida com significado.

Sem querer criticar as crenças religiosas ou místicas das pessoas. Cada um tem o direito absoluto de acreditar no que quiser nesse aspecto.

O problema é manter uma passividade em relação à vida, baseada na expectativa excessivamente otimista de que tudo dará certo porque se é crente em Deus, ou na ideia de que não temos autonomia sobre a própria vida.

Novamente, os números não mentem. Se crença em divindades fosse o passaporte para uma vida bem-sucedida, feliz e livre de tragédias, veríamos evidências estatísticas disso. Mas não é o que vemos.

Independente de crenças religiosas ou místicas, todos estamos no mesmo barco.

É possível que uma força superior possa nos ajudar e até mesmo nos salvar de situações críticas? Eu não duvido, mas não vou ficar esperando qualquer atuação divina para tocar a minha vida.

Essa diferença é muito importante. Planejamento serve para progredirmos na vida. Se quero escrever um livro, planejo. Se quero abrir um negócio, planejo. Se quero aumentar minha renda, planejo.

Ficar esperando a providência divina ou alguma ideia abstrata de “destino” é a fórmula certa para a estagnação.

Deus não escreverá o livro por mim. Eu mesma preciso me organizar para fazer o trabalho. Deus não vai triplicar minha renda. Eu mesma preciso descobrir como isso é possível e colocar as mãos na massa para fazer acontecer. Nada disso se opõe à ideia de que uma força maior esteja ao seu lado, te ajudando de alguma forma.

Você pode conciliar essa fé com a proatividade e tomar as rédeas da sua vida. Se em algum ponto, “sinais” lhe mostrarem que aquele livro não deve ser escrito ou que você deve tomar outra direção em sua vida e você acreditar que isso está vindo da fonte de suas crenças, cabe a você planejar outro caminho.

CONCLUSÃO: A ideia de estarmos à mercê das vontades de uma divindade ou forças cósmicas não deve gerar passividade. Qualquer que seja a realidade, ainda somos responsáveis por nossa própria vida. Além disso, a fé não é incompatível com a ideia de planejamento. Ao notar “sinais” de que o caminho não é o que acreditávamos, temos a liberdade para alterá-lo, e é melhor e mais fácil fazer isso com um planejamento em mãos do que sem um.

3. Não posso planejar a vida porque não é possível controlar o destino

Essa é outra objeção que revela passividade e uma crença de que somos meros marionetes da vida ou do destino.

A vida que vale a pena ser vivida
Essa vida é a sua, com seus sonhos, suas ilusões, seus medos e esperanças. Aprenda a recuperar a sua autonomia e viver com liberdade e autenticidade.

Pessoas que mantêm essa perspectiva costumam se apegar demais às ocorrências inesperadas, principalmente às mais drásticas como tragédias e acidentes.

Mas isso se deve apenas ao que chamamos de viés de disponibilidade, uma tendência cognitiva que leva as pessoas a julgarem a probabilidade de um evento com base na facilidade com que exemplos vêm à mente. Isso significa que se algo pode ser facilmente lembrado ou imaginado, tendemos a acreditar que é mais comum ou mais provável do que realmente é.

Se eu quero escrever um livro, há muito poucas coisas que podem acontecer que me impediriam de concluir o projeto. O verdadeiro obstáculo seria eu mesma (falta de disciplina, procrastinação, etc.), não algo externo ou “o destino”.

Essa perspectiva também é comum em pessoas que nunca planejaram e sempre vivenciaram a vida à deriva. Se você sempre esteve à deriva e acumula experiências de ter sido levado para lá ou para cá pela vida, pode ter a impressão de que é assim mesmo, que não temos poder sobre a força das correntes da vida.

Mas esse é mais um exemplo da primeira objeção (basear-se em experiência pessoal). Se você nunca experimentou planejar (de verdade) e usar a força da produtividade para implementar esses planos, não tem como saber por experiência própria que isso realmente funciona.

Mas evidentemente não precisamos ter experiência pessoal com algo para entender seu funcionamento ou saber se “funciona” ou “não”. Eu nunca coloquei minha mão no fogo, mas sei que não devo fazer isso. Não preciso de experiência pessoal para saber que colocar a mão no fogo “não funciona”.

O fato de que as pessoas planejam as mais variadas coisas na vida e que uma boa porcentagem desses planos se desenrola sem maiores complicações e o sucesso é atingido nos mostra que o destino não é tão implacável assim! Planejamos eventos, festas, férias, aposentadoria, construímos e decoramos casas e prédios, mudamos de um lugar para o outro.

De vez em quando, alguma eventualidade acontece. Lidamos com ela. São raras as situações em que essas ocorrências acabam com nossos planos. As pessoas não deixam de planejar suas férias ou festas porque “alguma coisa pode acontecer”. Elas entendem que o risco existe, mas vão em frente mesmo assim.

CONCLUSÃO: Apesar da vida ser muito frágil e estarmos à mercê de uma série de intempéries, a realidade é que podemos realizar muita coisa e, de fato, realizamos. Quem “compra” a falácia dessa objeção deve refletir sobre todas as coisas que as pessoas planejam e realizam (de festas de aniversário a mudanças de cidade) e entender que a probabilidade de uma eventualidade capaz de arruinar os planos é mínima. Novamente: os números não mentem!

4. Não devo planejar a vida porque a vida é mais interessante se não a tentarmos controlar

Essa é uma objeção… interessante!

O Obstáculo é o Caminho - Ryan Holiday
Ryan Holiday ensina o leitor a transformar adversidades em vantagens e alcançar o sucesso.

Há a ideia de que a vida vivida sem planos é uma aventura deliciosa com uma narrativa hollywoodiana temperada com efeitos especiais e grandes emoções.

Só que ela é falsa!

Basta olhar em volta. A grande maioria das pessoas não planeja nada, nem mesmo a própria aposentadoria, e elas pagam um preço alto por isso.

Pesquisas mostram (e uma quantidade enorme delas!) que pessoas que possuem metas e as planejam são mais bem-sucedidas na vida em uma proporção muito acima do mero acaso.

Agora, os adeptos dessa objeção adoram pegar essa deixa e jogar um:

“Ah, mas eu não quero ser ‘bem-sucedido’. Eu quero é ser feliz!”

Há uma presunção sobre o que se quer dizer com “bem-sucedido”. Talvez uma imagem de um executivo workaholic que mal dá atenção para a família e tem um comportamento, digamos, “moralmente duvidoso”.

Quando falamos em sucesso, não estamos necessariamente falando de um avatar específico que tem sucesso financeiro e profissional. Sucesso é você conseguir viver a vida que quer, do jeito que quer. Isso é o que te faz feliz e satisfeito consigo mesmo.

Agora, para viver a vida do jeito que quer, você tem que… hmm, direcioná-la para algum lugar, certo?

Se você sonha em sair mochilando pelo mundo sem eira nem beira e vivendo loucas aventuras, isso é uma experiência. E se você quiser viver essa experiência, precisa viabilizá-la.

Isso é feito com planejamento! Mesmo que a experiência em si seja vivenciada justamente pela ausência de planos, você precisa, antes de tudo, ser capaz de vivê-la.

Viabilizar uma experiência significa chegar ao ponto em sua vida em que você pode financeira e profissionalmente se dar ao luxo de vivê-la. A pessoa que trabalha em tempo integral, cheia de contas para pagar e dívidas acumulando, não pode se dar ao luxo de sair mochilando pelo mundo.

O ponto é que mesmo uma experiência de vida cuja característica é a ausência de planos se beneficia muito de um planejamento para que ela possa se tornar realidade.

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Esse exemplo também ajuda a clarear um pouco aquela ideia de que a pessoa que planeja a vida precisa planejar absolutamente tudo e não faria nada como sair mochilando pelo mundo sem planos.

As pessoas planejam aquilo que precisam planejar para que certas coisas saiam das nuvens da imaginação e sejam materializadas no mundo real.

Muita coisa continua sem ser planejada, e está tudo bem.

A diferença é que as coisas que são planejadas realizam os sonhos das pessoas e as levam a viver a vida que sempre desejaram. Então, ao contrário do que diz o mito, a pessoa que planeja costuma ser muito mais feliz do que a que não planeja, simplesmente pelo fato de que vive a vida que quer viver, enquanto a outra está enrolada até o último fio de cabelo com a bagunça resultante de uma vida à deriva.

CONCLUSÃO: Vamos parar de ser crianças e achar que a vida é como um filme e que coisas maravilhosas acontecerão se apenas esperarmos pacientemente por elas. A realidade é que, se queremos algo, precisamos correr atrás, e planejamento é a ferramenta para correr atrás!

 

Para finalizar…

Os argumentos contra o planejamento frequentemente derivam de mal-entendidos ou experiências pessoais negativas, não representando a eficácia real dessa ferramenta.

O planejamento não é uma tentativa de prever ou controlar o futuro de maneira inflexível; ao contrário, é um método estratégico para direcionar a vida em um caminho mais alinhado com nossos valores, objetivos e sonhos.

Ao adotar uma abordagem proativa, consciente e flexível ao planejamento, indivíduos podem aumentar significativamente suas chances de alcançar uma vida mais satisfatória e plena, superando obstáculos e aproveitando as oportunidades ao máximo.

Portanto, longe de ser um limitador da liberdade pessoal, o planejamento é uma poderosa ferramenta de empoderamento que nos permite navegar pelas incertezas da vida com maior confiança e propósito.

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