Como não perder o foco

Franciane Ulaf

No artigo anterior, em que abordamos a organização pessoal finalizamos a conversa falando sobre a dispersão, ou seja, a tendência de fazer muitas coisas ou de fugir do que você está fazendo e, no final das contas, perder o foco e ter o resultado ou a continuidade dos planos prejudicada por ter saído pela tangente.

Mencionei que a única saída para resolver problemas de dispersão é a vergonha na cara, pois, afinal de contas, todos nós somos pessoas livres e fazemos o que bem entendemos – mesmo que saibamos que assistir novela não é o melhor uso do nosso tempo quando temos algo mais importante que deve ser feito para amanhã ou que navegar pela internet sem rumo é gostoso, mas inútil, e etc.

Nós temos plena consciência dos males da dispersão, mas, na prática, só a alimentamos e não conseguimos resistir à sua tentação.

De todas as características que afetam a organização pessoal, a dispersão é a mais traiçoeira, pois não percebemos quando ela está atuando e, no geral, temos muita dificuldade para perceber os danos que ela causa em nossas vidas, principalmente porque temos a impressão de estarmos sendo produtivos quando estamos multi-tarefando ou quando fazemos muitas coisas intercaladamente, tentando “tocar todos os bois juntos”.

Além da falsa sensação de produtividade ao multi-tarefar, essa dificuldade também está relacionada ao modo como lidamos com as tarefas, os compromissos e o ócio em nossas vidas. Damos valor demais ao ócio, ou seja, às atividades de descontração, descanso e entretenimento, e muitas vezes acreditamos que estamos “curtindo” a vida quando estamos nos dedicando a uma atividade de lazer. Essa valorização exagerada do ócio torna o compromisso um inimigo, seja o trabalho formal, os compromissos pessoais, como educação, ou mesmo as metas individuais, como uma empresa própria ou a autoria de um livro. Esse comportamento vem desde a infância, quando achamos a escola “chata” e desejamos os momentos de intervalo e férias para poder brincar e fazer o que é mais gostoso.

Um equilíbrio entre lazer e trabalho (ou estudo), é claro, sempre deve existir. O problema é a ultravalorização do ócio – mesmo que não envolva qualquer tipo de lazer – e a subvalorização de qualquer atividade tida como difícil ou trabalhosa – mesmo que não seja um trabalho formal, como consertar as coisas em casa, cortar a grama, ir para a academia ou mesmo escrever um livro.

A supervalorização do prazer acaba nos levando a desenvolver sentimentos antagônicos a tudo que envolva qualquer tipo de esforço e é aí que acabamos caindo na mediocridade.

A excelência pessoal é uma característica de pessoas que não medem esforços para obter os melhores resultados possíveis, geralmente pessoas que superam a própria preguiça e possuem alto nível de disciplina e persistência. Isso é, em primeiro lugar, um triunfo da vontade pessoal. Pessoas excelentes podem até sentir vontade de ficar mais um pouquinho na cama, assistir a um filme ao invés de ir para a academia ou navegar pela internet para dar um “intervalo” naquela tarefa difícil no trabalho, mas elas não sucumbem à tentação.

No artigo anterior, falamos bastante sobre “vergonha na cara” como solução para a dispersão e, no fundo, é isso mesmo, afinal de contas, se a escolha é nossa, escolher errado e não fazer o que precisamos fazer simplesmente porque não estamos com vontade é literalmente uma questão de vergonha na cara, por mais banal que seja. As pessoas ficam esperando que eu lhes diga algum “segredo”, alguma dica infalível para superar a dispersividade e manter o foco, mas o que elas esperam que eu diga? Dê três pulinhos pra trás, dois para a direita, amarre uma cordinha no dedão do pé e puxe, gritando “eu não vou me dispersar três vezes”!!! Bricadeiras à parte, realmente não há segredo quando estamos lidando com a nossa vontade pessoal. Como pessoas livres, nós fazemos (e não fazemos) o que bem entendemos e pronto. Manter a disciplina (e o foco) depende de você domar a sua própria teimosia em não querer fazer as coisas que você sabe que precisa fazer e infelizmente, não existe “dica” ou truque pra isso. A disciplina, que é o antídoto para a dispersão, é, no fim das contas, uma questão de se obrigar a fazer o que tem que ser feito, mesmo que você não esteja com vontade de fazê-lo. E não há muito segredo para isso, basta simplesmente superar as barreiras pessoais da má vontade e mãos à obra!

Como expliquei no artigo anterior, é só a partir desse ponto que técnicas e sistemas funcionam. Sair procurando “dicas para se organizar” ou “dicas para não perder o foco” quando o problema está na sua falta de vontade ou falta de motivação é perda de tempo.

Todas as técnicas, todas as dicas, todos as teorias não podem salvá-lo de si mesmo. Manter o foco, em primeiro lugar, depende de seu esforço pessoal em abrir mão do que você tem vontade de fazer no momento, seja dormir mais ou assistir TV, e simplesmente se obrigar a fazer o que tem que ser feito. Isso pode exigir alguns exercícios de força de vontade. A força de vontade é como um músculo, quanto mais você a treina, mais fácil se torna mantê-la.

Em primeiro lugar, você precisa escolher algo em que se focar. Comece pequeno se você tem muita dificuldade para manter o foco. Se você não consegue, por exemplo, terminar livros, sempre começando a leitura de novos livros antes de terminar os que você já tinha iniciado, experimente então treinar a sua força de vontade para terminar a leitura de um livro após o outro.

Se você tem esse hábito com relação a livros, invariavelmente você sentirá uma vontade enorme de começar outro livro que chamou a sua atenção antes de terminar a leitura do anterior. Você sentirá um impulso para se auto-enganar, dizendo a si mesmo que você pode muito bem ler ambos ao mesmo tempo – um dia você lê algumas páginas de um, noutro você lê algumas páginas do outro livro.

Essa tendência para multi-tarefar é extremamente nociva e deve ser evitada ao máximo. Como já abordamos inúmeras vezes aqui neste site, há uma falsa sensação de produtividade ao multi-tarefar, mas a realidade é que na matemática do tempo, você apenas arrasta a conclusão de todas as atividades simultaneamente. Faça as contas: se você lê uma página por minuto em um livro, numa obra de 200 páginas você levaria 200 minutos para ler. No entanto, ao alternar a leitura com outro livro de 200 páginas, ao invés de terminar o primeiro livro em 200 minutos de leitura, você levará os mesmos 200 minutos, só que os intercalando com a leitura de outro livro, você só terminará o primeiro após 400 minutos! No final das contas, parece não fazer diferença, já que a soma do tempo que você levou para ler ambos os livros é a mesma. Contudo, quando você precisa alcançar resultados rapidamente, levar o dobro do tempo para terminar a primeira atividade simplesmente atrasará os resultados que você irá obter e na realidade, essa decisão acaba sendo a mais estúpida de todas!

Eu sempre dou o meu próprio exemplo com autoria de livros. Se escrever um livro leva 6 meses, eu posso escrever um livro (e publicá-lo) a cada 6 meses, no entanto, se eu começar a escrever dois ou três livros simultaneamente eu levarei o dobro ou o triplo do tempo para publicar o primeiro livro, que se fosse escrito em 6 meses, já estaria me dando resultados enquanto eu escrevo o segundo, depois o terceiro e assim por diante. Além disso, se eu resolvesse me concentrar na autoria de mais de um livro ao mesmo tempo, eu perderia o foco, reduzindo a qualidade de todos os livros no processo.

Após escolher então a meta em que você irá se focar para cada “unidade de tempo”, você precisará organizar-se para que a execução das tarefas necessárias seja a mais direta e simples possível. Unidades de tempo são os blocos em que você organiza sua vida. Cada pessoa funciona em um ritmo diferente e tem preferências diferentes, por isso a organização dessas unidades de tempo são muito pessoais. Por exemplo, tem gente que gosta de exercitar-se logo pela manhã e se sente mais energizado durante o resto do dia alocando uma unidade de tempo para atividades físicas no começo do dia. Outras pessoas gostam de começar o dia lendo notícias e saboreando um bom café da manhã, outras ainda, preferem começar o dia com as atividades mais difíceis que devem ser realizadas naquele dia para que o resto do dia não conte com a pressão que essas atividades proporcionam. Não podemos nos dedicar a uma única meta somente durante todo o dia pois nossas vidas são complexas e possuímos responsabilidades em diversos setores. Se dedicar a várias metas simultaneamente, contudo, não signfica multitarefar necessariamente, já que para levar sua vida, você precisa obrigatoriamente dar conta de várias responsabilidades ao mesmo tempo. O truque para não perder o foco é organizar as unidades de tempo para que você se dedique a apenas uma atividade de cada vez (ou duas atividades que combinam sem interferir na qualidade uma da outra como andar na esteira e escutar um podcast ou assistir as notícias na TV).

O grande perigo de tentar fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo é cair na armadilha da pressa, achando que tentar fazer várias coisas ao mesmo tempo vai fazer com que você as termine mais rápido (como no exemplo de ler ou escrever livros, você não acaba nenhuma das atividades mais rápido por intercalá-las, a realidade é justamente o contrário). Outro perigo é perder o foco, intercalando com muita frequência a atenção para cada atividade como ver e-mails a cada cinco minutos, navegar pela internet, ler artigos, escutar notícias, falar ao telefone, revisar relatórios, e tentar fazer tudo isso, intercalando essas atividades aleatoriamente, achando também que está sendo produtivo ao manter esse ritmo frenético. A realidade é que esse tipo de estruturação das atividades é o que leva muita gente a fazer muitas coisas durante o dia e no final das contas ficar com aquela impressão de que nada realmente útil foi feito e nenhum resultado sólido foi alcançado.

A melhor tática para não perder o foco é manter a disciplina na execução do que você programar para suas unidades de tempo, combinando apenas atividades que não interferem na qualidade uma da outra e evitando dar margem para interrupções que exigem com que sua atenção seja desfocada da atividade para dar conta de algo que surgiu de repente, como um e-mail que acabou de chegar ou uma ligação telefônica.

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13 comentários em “Como não perder o foco”

  1. Realmente, um dos grandes males para não alcançar o que você deseja é a dispersão. Devemos ter foco pra conseguirmos o objetivo pretendido, temos que ter cuidado pra não perder o objetivo de vista, pois quando perdemos o foco, estamos atrasando o resultado pretendido. Artigo muito bom, adorei, meus Parabéns!

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  2. Ola, gostaria de desejar mais sucesso pois realmente um otimo artigo dei boas risadas e tomei vergonha na cara que e uma das palavras chaves. Depois de disciplina, autumotivacao e etc.. tenho 20 anos estou com uma grande dificuldade quanto a isso estou sendo muito prejidicado Em varias areas da minha vida. Varias mesmo pelo simples motivo de multitarefar, isse problema esta me deixando desmotivado da vida e etc… saiba da sua grande importância na Sociedade tenha em mente que um trabalho bem feito igual o seu pode mudar vidas. Obbrigado pelo insentivo, e espero voltar aqui novamente e trazer um bom retorno disso tudo.

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